Felizmente as férias estão a acabar. É que as férias trazem sempre um drama - um conflito que abala famílias em todo o mundo e do qual pouco se tem falado: o drama da violência que se pode gerar quando dois amigos querem pagar a conta num almocinho de Agosto. Não, não falo da facilidade de ninguém se chegar à frente. Falo daquelas (conhecidas e vividas por todos) situações em que dois amigos querem ser eles a pagar e não aceitam - nem que a vaca tussa - que seja o outro a pagar. Temo sempre o pior.
- Eu pago.
- Não, pago eu.
- Não aceite o cartão deste senhor. Quem paga sou eu!
- Sou eu!
- Eu!
- Olha que a gente vai-se chatear!
- Vai mesmo! Senta-te lá que eu é que pago!
- Ai!
Um diálogo que começa com civilidade e simpatia segue rapidinho para uma artilharia de exclamações a raiar o insulto. Temo, sim, temo sempre que a coisa dê para o torto e que aquilo que começou por ser um gesto de cortesia acabe num combate de wrestling de dois amigos de infância com as famílias a ver. Já faltou mais.
- Eu não te queria rebentar a tromba mas já disse que pagava!!!
E zás, um banano, que atira o outro para cima da mesa à volta da qual as mulheres e os filhos falam do último sucesso de David Guetta. Escusam de olhar para mim com o ar de quem está a olhar para um tipo que sublinha problemas de ricaços. Não: isto também vale para as bicas. Quantas amizades não podem ficar em perigo só porque alguém saiu antes da mesa e numa manobra manhosa disse ao balcão que ficava com a despesa da mesa 5? Além disso há um ser que sofre muito com estas situações (ouço desabafos) e não pode ser esquecido nestas alturas: o funcionário de restauração. Que normalmente sorri sem defesas, como quem diz:"Vocês que se entendam". Porque é que este cidadão que nada tem a ver com o caso há-de assistir a um combate mortal entre duas pessoas que pareciam que se amavam? Não é bonito. E não é justo. Pensem comigo.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.