Ciúme: uma abordagem prática (II)
As histórias não precisam de ser verdadeiras para serem eficazes. Se, ao contrário do que se conta, Garrincha nunca tratou todos os defesas por "João", a biografia do craque estava sobre a mesa de cabeceira de Armando no dia em que ele teve a ideia de passar secretamente a chamar "Tobias" a todos os homens que tomaram o lugar que há não mais de 5 anos havia sido o seu. Esse foi o primeiro momento. No segundo, Tobias emancipou-se, ganhando a biografia de um bom heterónimo, mas também a autonomia do amigo imaginário. Calvin inventou Hobbes de um tigre de pelúcia? Primário. Armando materializou Tobias a partir do nada, com o toque de Deus - que é também o das crianças verdadeiras, embora ele tivesse 32 anos. Em rigor, Tobias nunca serviu para vencer a solidão. Armando tinha amigos e namoradas q.b. Na prática, Tobias era um assassino a soldo conceptual, que atava a lembrança deles a um bloco de cimento, afundando-a nas profundezas da memória de Armando, permitindo-lhe assim alcançar a tal condição supra-humana, quase um cúmulo de civilidade para exibir como uma insígnia, de ficar "amigo de todas antigas namoradas". Não deixava de ser um amigo irritante, recorrentemente repreendido por elas, em regra por telefone, na ressaca do encontro - "Armando, és incrível. Passámos férias a quatro este Verão, mas preciso de te perguntar isto: tu sabes como se chama o meu marido?" Armando desfazia-se em desculpas, que estava cansado e com problemas de memória. Depois lá arriscava, protegendo o seu amigo: "João?"
Abordagens prévias: 1.
Série que sucede a Infidelidade: uma abordagem prática.
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