O site Edge (www.edge.org) foi criado para reunir aquilo que o seu autor resolveu chamar de «terceira cultura»: cientistas, investigadores, escritores, filósofos e intelectuais sortidos juntam-se virtualmente para dar a sua visão do mundo. É um lugar extraordinário para ginasticar a mente.
Mas o sítio tornou-se conhecido sobretudo por uma pergunta anual que colocava a essa comunidade. A pergunta de 2005 foi a mais brilhante. A todas estas estrelas da galáxia cientifica e literária perguntou-se: «O que é que acredita ser verdade, mesmo sem poder prová-lo?». A pergunta foi saudada pela imprensa com mimos como o do The Times, que a considerou «a cocaína do mundo pensante», o que a meu ver reflecte um pouco dos interesses do jornalista que cunhou o epíteto, mas quem sou eu para julgar alguém? Adiante. . O que me fascinou foram as respostas (reunidas agora em livro de edição portuguesa: Grandes Ideias Impossíveis de Provar, ed. tinta da China).
Gosto da que deu o professor de Psiquiatria e Psicologia Randolph Nesse, que diz acreditar (lá está, sem poder provar) que «as pessoas ganham uma vantagem selectiva por acreditarem em coisas que não podem provar». Isto são boas notícias para os crentes de todo o mundo em geral e aqueles que acham que o Benfica é uma boa equipa em particular. De resto, há muitas respostas comuns e, vindas de cientistas, previsiveis: acreditam que há vida inteligente algures no universo, que Deus não existe, que não há vida depois da morte física, que o amor verdadeiro existe, que a ciência... Desculpem, permitam voltar atrás: que o amor verdadeiro existe? Aí está algo que posso debater.
Quem o disse foi o professor de Psicologia David Buss, depois de ter passado décadas da sua vida a estudar «perseguidores obcecados, predadores sexuais e assassinos de conjuges». Uau, falem-me de optimistas. Mas a verdade é que nem este prolongado convívio com a natureza humana o desanimou.
A mim ninguem me perguntou, mas é para isto que servem os blogues. Assim, e retirando a ontologia ao que é um amor «verdadeiro», posso anunciar a um mundo ansioso: acredito no amor, e verdadeiro. Mas pelos meus sintomas, tenho medo.
É uma ditadura benigna, um oxímoro que acalentamos com todo o nosso coração. Um regime de força que impomos alegremente à nossa alma. A paixão é a revolução, romântica e generosa; o amor são os revolucionários a chegarem ao poder. Não nos basta querermos o Outro: queremos ser o Outro e queremos que o Outro se transforme em nós. É um totalitarismo implacável, que nos faz chorar à miníma ausência ou escrever «Tanto do meu estado me acho incerto». É uma injustiça,uma dádiva, uma violência, uma imposição, uma prisão que nem sequer é preventiva. É enfim, o melhor do mundo. Acredito que exista, mas o que é mais triste é que gostaria de o poder provar.
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