Segunda-feira, 23 de Maio de 2011

os meus cigarros larilas

Fumo cigarros larilas. Slims. Aqueles fininhos, em caixa amaricada, que não sabem a nada. Um problema.

Fumar slims deixa-nos numa desconfortável terra de ninguém. Nem somos o estóico anti-tabagista, adepto da saúde e da condição física, nem o rebelde fumador inveterado que não teme a morte e enfrenta de sorriso na boca o politicamente correcto, nem o super-herói de todos eles, o ídolo que fumou anos a fio e deixou do dia para a noite, conhecedor dum lado e doutro da barricada e que desperta a curiosidade de todos: “Como conseguiste?”, perguntam-lhe de olhos esbugalhados, suspensos da resposta.

O fumador de slims, visto de fora, tem tudo o que é mau de fumadores e não-fumadores. Esfumaça, o que incomoda, mas parece cheio de medo, o que aborrece. É um fumadorzinho, uma imitação de fumador, um tipo que mergulha de braçadeiras. Não é carne nem peixe. Está ali. E, qualquer dia, há-de se arranjar uma sala só para ele nos restaurantes.

O fumador de slims, enfim, é gozado por todos, fumadores, não-fumadores e ex-fumadores. O próprio tipo que lhe vende os cigarros parece ter um sorrisinho trocista ao canto da boca enquanto lhe passa o reles pacotinho.

Pedia-me há dias um amigo desta casa que pensasse nas fotografias dos escritores na contracapa dos livros. Os grandes seguram cigarros, acendem cigarros, fumam cigarros. Os que têm gravitas para isso empunham, soberanos, charutos ou cachimbos. Os outros não fumam nada. Nenhum deles fuma slims. Não para a fotografia, pelo menos.

Explico – ó meu Deus! Como e quantas vezes tenho explicado – que fui o destemido fumador de cigarros pretos e fortes durante anos. Que me transformei depois no heróico sujeito que deixa o tabaco de um dia para o outro. E que, por fim, conheci uma rapariga que fumava slims – e o resto é história.

Não chega, diz-me o mesmo amigo. Suponho que esteja certo (agora que penso nisso, não me recordo de que marca fuma).

Talvez não valha a pena dar qualquer justificação. Fumo cigarros larilas. Sou um rebeldezinho. Um viciado em coisas menores. Um medricas que mesmo assim vai em frente.

Fumar esta porcaria, afinal, é capaz de fazer algum sentido.

publicado por Alexandre Borges às 07:32
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4 comentários:
De Sílvia a 23 de Maio de 2011
Eheh... está o máximo!
"...um tipo que mergulha de braçadeiras..." (isso é mesmo desafiar o risco com segurança).
De Alexandre Borges a 23 de Maio de 2011
:) Exactamente, Sílvia. "Seguro de vida" são os meus nomes do meio. Obrigado pela visita.

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