Chega. Estou farto de não ver o Tiger a lutar pela vitória.
Como me acontece amiúde, vejo o que escrevi ou disse e percebo que não sou propriamente um cidadão constante. É que passei anos a fio a berrar contra o rapaz, a pedir a todos os santinhos que os putts não entrassem, os drives fossem para as couves, a declarar que o tipo tinha um pacto com o diabo e agora sento-me à frente da televisão todo o santo fim de semana (ficava mal dizer que era de quinta a domingo) e sinto-me um verdadeiro pateta.
Para quem, como eu, gosta de heróis de carne e osso, o Tiger era um pesadelo. O homem não era humano. Parecia não ter emoções, fraquezas, inseguranças.
Comecei a gostar mesmo dele quando percebi, eu e o mundo inteiro, que também ele tinha os seus fantasmas, os seus pecados. Também ele lutava não só contra o campo, mas também contra as tentações, contra as suas próprias misérias e fraquezas (está bem, está bem, as senhoras não podem ser exactamente chamadas de fracas).
Mas, desde perceber que afinal era como qualquer um de nós (infelizmente, estou a pensar na parte de sermos todos vulneráveis) até querer que ele continuasse a ganhar daquela maneira vai uma grande distância. No fundo, pensei que tudo se arranjaria. O homem ia a um “perdoa-me” qualquer, e a senhora sueca pensava aqui no rapaz e nos milhões que o queriam ver sempre a lutar pela vitória. Eu e mais meia dúzia para que o víssemos perder e os outros milhões para o ver ganhar.
Era o mínimo que ex-sra Woods podia fazer. Seria impossível que ela não tivesse consciência do mal que estava a provocar. Será que não tinha visto aqueles filmes em que um soldado se atira para cima duma granada para salvar o resto do regimento? Não leu a história do Moniz que ficou entalado na porta para que conquistássemos a capital? Então estes suecos cheios de escolas, cultura, bem estar e coisas assim não percebem que para o mundo ir para a frente são precisos sacrifícios individuais? Mas não. Não perdoou ao Tiger, julgava que o estava a castigar. Não, minha senhora. Nós é que fomos castigados. Nós, os milhões e milhões que sofremos com a ausência da camisa vermelha, do nariz levantado, daquela vontadinha de os comer a todos. Obrigadinho por nos estragar os domingos, sua egoísta.
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