Quinta-feira, 12 de Março de 2009

Não Entres Tão Depressa Nessa Converseta Escura

Hoje é assim, sabemo-lo: um tipo - um tipo novo, acabado de sair das Faculdades - tem qualidades, talentos, vocações, vontade de suar e disciplina e mesmo assim fica fora dos empregos. Mesmo daqueles a recibinho verde. O toque de bola e o esforço não chegam. Escrevo sobre o assunto porque assisti recentemente a um caso (um desses de talento e de trabalho) de alguém que não ficou a trabalhar na empresa que merecia e que o merecia. Porque, citando um chato qualquer do linguajar económico, as condições de mercado, neste momento, não são favoráveis à contratação de pessoas.

 

Isso chateia. De facto chateia. Dá logo vontade de ajudar a miudagem, de lhes pôr uma cunha (a boa cunha, que também a há, convém recordá-lo nesta altura de malhanços vários na instituição), de ligar a amigos, inimigos e amantes a atazanar-lhes a cabecinha com o currículo do rapaz. Com mais do que isso – que essa coisa do currículo muitas vezes não chega; é, demasiadas vezes, matéria morta e vaga. É preciso mostrar ao mundo laboral o trabalho, o bom trabalho do cidadão. O sapateado do bicho. Em polaroids, DVD’s ou animações de rua.

 

E é preciso também que a rapaziada recusada, momentaneamente recusada, não entre tão depressa nessa noite escura que é a conversinha do lamento e do “só neste país” e do, para lembrar o texto de ontem do Pedro, “é a crise, não posso fazer nada”. Porque isso é converseta de esquina, daquela que não nos faz dar nem um passo, nem um passinho que seja, de esquilo anão. É, é aqui que entra o meu discursozinho liberal (também tão espancado, tão facilmente espancado por estes dias), filosoficamente liberal, psicologicamente liberal, estuporadamente liberal. Se calhar convém, como é que se diz mesmo?, ir à luta. E o que é que isso da luta?, pergunta-me o Zé Ferdinando.  Isto, provavelmente: se não dá aqui, dá ali. Se não consigo que me recebam acolá, dou três cambalhotas para ser recebido acolará. Até que, chamem-lhe fé, chamem-lhe fezada, chamem-lhe delírio, alguma coisa de boa, vá, de menos má - que eu quero acompanhar as poses intelectuais da minha época- aconteça.

 

Lembro-me agora de um belo de um papelote que um tio, vivido durante uns anos em Filadélfia (e noutras Américas), me deixou, um dia, em cima da mesa melancólica e desistente. Tinha uma frase escrita a caneta e em maiúsculas: “Do it”. Do it? Sim, do it. Vai virar frangos, se for preciso. Mas do it. Não esmoreças, André. Não te fiques. Continua o sapateado.

publicado por Nuno Costa Santos às 22:35
link | comentar
6 comentários:
De Luis Serpa a 12 de Março de 2009
Não sei quem é o André, mas gostaria de subscrever este post, para todos os Andrés deste país, e de outros. Citando um outro grande autor de língua inglesa, "never give in, never give in, never, never, never, never - in nothing, great or small, large or petty - never give in except to convictions of honour and good sense".
De andreia am a 13 de Março de 2009
Nuno este título é Lobo Antuniano (como tu próprio dirias). Falou-me muito. Lindo. Obrigada por no-lo (isto soa mal) dares a ler. bj
De Maria das Mercês a 13 de Março de 2009
Sim, nunca podemos esmorecer... Tanta gente, como dizes, Nuno, tanta gente talentosa a ficar emaranhada nas teias da crise e a afundar, em vez de ser pescada! Infelizmente, há quem se aproveite da crise para se ver livre dos empregados de que não gosta: assim uma espécie de "limpeza étnica"... Para citar outro grande orador - we shall never surrender !
De Cristina a 18 de Março de 2009
Não conheço o André, mas vivo em igual situação. E acrescento que triste mesmo é ir a entrevistas de emprego e perceber que os gajos que nos estão a entrevistar são, na grande generalidade, pessoas ignorantes e preconceituosas, que nunca estiveram nem algum dia estarão capacitadas para verem o real potencial dos candidatos para além daquilo que está escrito num curriculum ou de um brinco a mais numa orelha. Entristece-me, mas por outro lado só me dá força para continuar. Penso: se não me quiseram é porque também não me mereciam! (fica-nos sempre bem um pouco de auto-estima)
De Mestre Moé Lá a 19 de Março de 2009
A minha formação é na área dos Recursos Humanos. Espero que essas "pessoas ignorantes e preconceituosas" que a Cristina fala desapareçam do mundo do trabalho ao longo do tempo. É uma evolução natural, um dia as pessoas verdadeiramente competentes vão ter o seu lugar. Eu acredito nisso. Senão esmorecia já.
De come allungare il pene a 9 de Agosto de 2010
Olá, estou a estudar Português e eu aconteceram em seu blog que bom!

Comentar post

Autores

Pesquisar

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Últimos posts

Frangos & galetos

...

Contra nós temos os dias

Do desprezo pela história...

É urgente grandolar o cor...

Metafísica do Metro

A Revolução da Esperança

Autores do Condomínio

Hipocondria dos afectos

A família ama Duvall

Arquivo

Dezembro 2020

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

todas as tags

Subscrever

Em destaque no SAPO Blogs
pub