Quarta-feira, 26 de Março de 2008
um título vagamente a glosar a obra de thomas bernhard, aquilo do derrubar árvores e da irritação, ou então não, trate-se dos transportes por si só que isso de andar a tecer loas a austríacos é barro que mal agarra à parede, quem se atreve a reconhecer o génio numa terra de engolidores de salsichas que nem sequer são alemãs, portanto avancemos para o que aqui me traz, a minha viagem de alfa pendular descrita num ápice que me permita ainda ir enrolar umas meias para evitar ser molestado no cocoruto com um objecto caseiro não identificado, deu-se a desdita no ocaso do domingo de páscoa e da ressurreição de nosso senhor que não o sócrates, senhor eu não sou digno que entreis em minha morada mas baixai um ponto do iva e eu serei salvo. ao entardecer arrancamos, eu sentado ao lado de uma viajante que passa a jornada a desenvencilhar sudokus e a dizer à mamã que vá chatear o pai natal, isto via telemóvel, dá-se-lhes um para as mãos e transformam-se todos em alunos da carolina michaelis, jovens malcriados como o caralho que achincalham as figuras tutelares, e a rádio interna do comboio, acessível através de uns auscultadores descartáveis, que debita sem cessar o paulo gonzo e eu a pensar que o calvário e suas sevícias tinham acabado no gólgota de sexta-feira passada, afinal estende-se no domingo de aleluia sob a forma de acordes e cantarolares, o wc que é toda uma bomba de sucção capaz de eclipsar as urinas num só gorgolejo – a tecnologia sempre me impressionou – e gente que não pára com o vai-e-vem entre a 'turística' e o 'conforto', sinal de que também o politicamente correcto chegou às carruagens, já não há cidadãos de primeira e de segunda, há os que levam as patas mais à larga e os outros, mais encolhidos, de laptop no colo para entreter as horas com um filme do mel gibson, também nunca ninguém disse que memória ram a potes era garantia de bom gosto. de viés ainda baloicei até à carruagem-bar onde pude beber um café em copo de plástico, mais deslavado do que o futebol da squadra azzurra e a preços milaneses, claro. diga-se ainda que o comboio pendular, fiel como um cão de luta do vale de chelas, se atrasou meia hora. parece que faltou energia em vila nova de gaia e eu todo ufano, todo cínico, a fazer correlações com a liderança do menezes, também ele um bocado apagado, com os disjuntores todos disparados e com um electricista titubeante chamado ribau que dificilmente o ajudará a manter-se nos eixos, sem fusíveis queimados. antes o colocasse sobre carris, que o pendular pára em santa apolónia e upa, volta para cima, sempre aproveitava para voltar à sua autarquia, endividada mas mansinha, sem barões, sem cartões, sem complicações. úúúúúúúúúúhhhhh úúúúúúúúúúhhhhh. e pouca terra. pensa nisso, luís filipe.