Há quem não suporte jornalistas, quem ache os advogados uma profissão do demo, quem embirre com manequins, quem esteja farto de engenheiros, mecânicos, canalizadores, técnicos da TV Cabo, fiscais das finanças – eu tenho um problema com meteorologistas.
Além do grande Anthímio de Azevedo e duma senhora de voz frágil que de vez em quando aparece a explicar temporais, alguém, alguma vez, pôs a vista em cima dum meteorologista? Há alguém que tenha namorado com um meteorologista, mantido um affair escaldante com um meteorologista, chocado num cruzamento com um meteorologista, avistado um meteorologista, certa vez, na reunião de condomínio? Não. Nunca. É sabido: os meteorologistas não existem. Se existissem, a previsão do estado do tempo não era igual em todo o lado: da CNN ao Jornal do Fundão, da Rádio Orbital ao boletim interparoquial de Alvaiázere. Haveria divergências, polémica, fracturas. Mas não há.
Resulta disto que há anos que desconfio do seguinte: há um senhor, algures no fim do mundo, que redige, de improviso e inspiração, a previsão para o dia de amanhã – quiçá o mesmo que escreve os pensamentos dos pacotinhos de açúcar duma certa marca de café – e, depois, reencaminha-a para os jornais de todo mundo a troco duma assinatura vitalícia da revista Ponto Cruz. Notem: até os horóscopos têm assinatura. Estudos e sondagens têm sempre universidades e empresas por detrás. O tempo não. O tempo é o tempo. Na televisão, na rádio, na imprensa escrita, nos telemóveis, nos ecrãs gigantes das avenidas. E nunca vem assinado por ninguém – um pouco como aquelas reportagens do “Toda A Verdade”.
E o pior não é isso. O pior é a falta de rigor. Dizem que vai chover até quinta, mas chove até domingo; que, amanhã, faz sol todo o dia, mas chuvisca à tardinha; que as temperaturas vão oscilar algures entre 14 graus centígrados diferentes e, mesmo assim, às vezes, enganam-se. No Verão, dizem que vai fazer sol e calor; no Inverno, que é bem capaz de vir o frio e a chuva. Enfim, intuições tão surpreendentes como pressentir que, amanhã, vai haver nascimentos e mortes, noite e dia, carros a passar na estrada e galas especiais apresentadas pela Júlia Pinheiro e pelo Manuel Luís Goucha.
Quando algo de verdadeiramente diferente acontece, o boletim meteorológico nunca é capaz de o antecipar. Um tsunami, um furacão, umas cheias. E porquê? Porque o senhor estava entretido a tricotar um bonito naperon de acordo com o modelo exibido na página 12 da Ponto Cruz deste mês e não deu por nada.
Por fim, dá-se esse facto extraordinário de ninguém cobrar as falhas. Sempre que um banco dá bronca, o Vítor Constâncio apanha porque falhou na supervisão, mas o meteorologista passa sempre incólume. Entre as gotas da chuva.
Aqui, há marosca. Ninguém me tira da cabeça. E o Charles Smith está metido nela.
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