1. Ontem, quando ouvia pela rádio o Jaime Gama a pedir a um deputado para terminar a sua intervenção ("Pode concluir, senhor deputado)", tive um brevíssimo delírio: e se nas intervenções da existência quotidiana das pessoas comuns também houvesse um Jaime Gaima? Imaginemos o cidadão na discoteca empenhado numa conquista de ordem romântico-sexual. Quando se começasse a esticar com (vá lá) a Sheila, ouvia o Jaime Gama: "Zé Nando, a sua intervenção já vai demasiado longa. Pode concluir, senhor Zé Nando". Sim, uma voz pausada e levemente melancólica podia - quem sabe - ajudar a imprimir alguma disciplina e algum rigor aos discursos da vidinha.
2. Há duas actividades de carácter lúdico que percebo mal: o karaoke e o paintball. No karaoke ainda há possibilidade de gozo em assistir às cantorias cómico-deprimentes de amigos, primos e ex-secretários de Estado. Mas para o paintball é que, convenhamos, não há explicação: o que é que passa pela cabeça de adultos que se reúnem com o objectivo de atirar tinta uns aos outros no meio do arvoredo?
3. Percebi, por estes dias, que nas diferentes zonas do café da esquina tenho tratamentos diferenciados. Se for para a zona de pastelaria sou "senhor". Se for para a zona de restaurante sou "doutor". E se for para o balcão sou "jovem". "Então, jovem, o que é que vai ser?". Nada. Perdi a fome.
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