Não é novidade para ninguém que não há problemas mais importantes que os nossos. Também me parece que é do mais elementar senso comum perceber que só nós é que sabemos os verdadeiros problemas da humanidade.
“Gaza? Pois, pois. E a minha empregada que tem um quisto sebáceo?” “Eles (sempre estes desconhecidos duendes) falam da crise. E que dirão desta espondilose que não me larga?”
Esta, mais que compreensível, atitude é constatada diariamente, por qualquer um de nós, nas mais triviais conversas. Normalmente, o cidadão queixa-se de uma qualquer maleita ou faz um comentário mais ou menos sério sobre o estado da situação mundial e a coisa passa logo depois do clássico “mas vamos andando”.
O problema é se o nosso interlocutor descobre ou sabe que temos acesso a um qualquer microfone, coluna de jornal ou camera televisiva.
O cidadão pode nunca o ter ouvido, lido ou visto mas, garanto-lhe, que o primeiro comentário será de violento desagrado pelos temas que você aborda. Não por serem importantes – claro está – mas por haver coisas incomparavelmente mais importantes para serem faladas. Da experiência nas urgências do São José aos preços dos desinfectantes para caniches passando pela problemática da rigidez das cadeiras do comboio Alfa há um mundo de coisas que você se esqueceu.
Bom... esqueceu não, e é aqui que entra a segunda fase do processo.
Depois de você ser obrigado a tomar umas notas para saber o que terá de falar na próxima vez que tiver acesso a um qualquer mass-media, surge a tal fase, a que chamo a do “sorrisinho sabe tudo”.
O seu amigo, conhecido ou absoluto desconhecido que o aborda na rua, até sabe que você é um tipo honesto e, logo, que queria falar dos verdadeiros problemas da humanidade, ou seja, os dele. Ele compreende. São os gajos (sempre estes malditos duendes) que não o deixam e, claro, você tem família para sustentar.
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