Os campeões: Duda, Murça, Simões, Freitas, Gabriel, Fonseca, Rodolfo, Octávio, Ademir, Gomes e Oliveira
Há muitos, muitos anos e fruto de razões que agora não interessam para esta história mas que lembram uns episódios recentes, os jogadores do FC Porto tinham algum receio de vir jogar ao estádio da Luz.
Numa semana em que o Porto tinha de vir jogar contra o Benfica, o maior treinador português de todos os tempos, José Maria Pedroto, resumiu a situação que, na sua opinião, levava a que o Benfica fosse quase sempre campeão: no estádio desse clube lisboeta havia sempre “erros” de arbitragem e eram tão flagrantes que o Zé do Boné lhes chamou roubos de catedral.
Estava montado o banzé. O órgão oficial dos encarnados, mais conhecido como jornal A Bola, fez daquelas justas afirmações escândalo nacional colocando-as na primeira página. Apelos foram feitos para que o povo benfiquista exibi-se o seu descontentamento e revolta perante tão “escandalosas” afirmações.
Reza a lenda que o Presidente do FC Porto, Américo de Sá, preocupado com a mais que provável má recepção aos jogadores e sabendo da tremideira que dava a alguns (nunca gostei de um com nome de árvore que dá azeitonas) chamou o chefe de departamento de futebol, Pinto da Costa, e o Pedroto para ver como é que se lidaria com a situação. Aí mesmo o treinador disse-lhe para não se preocupar que quando a equipa saísse para o jogo só se iriam ouvir meia dúzia de assobios.
Chegou o dia do jogo. A Luz rebentava pelas costuras: cento e vinte mil lampiões em fúria esperavam o aquecimento dos azuis e brancos.
Deu-se a táctica mais cedo que o habitual e quando os jogadores, meio assustados com aquele clima, se preparavam para subir ao relvado o Pedroto chama o Freitas e diz-lhe: “ó rapaz, vais sozinho aquecer. Pões-te de frente para o Terceiro Anel e passas o tempo a mostrar-lhes os dedos do meio e bem apontados para os gajos. Ouviste?”
O Freitas, negro de Angola, ficou branco como a cal. É que apesar de ser um daqueles centrais que vêm o espaço entre os pés e o pescoço uma canela só, era um rapaz tímido e meio medroso. Mas o respeitinho é muito bonito e o grande José Maria não era, propriamente, um treinador dialogante. Benzeu-se, despediu-se dos colegas e lá foi o bom do Freitas.
A Luz esteve para desabar. De cada vez que o jogador do Porto levantava o braço havia síncopes entre os adeptos do Benfica. Os assobios eram tantos que os otorrinos alfacinhas não tiveram mãos a medir durante um mês. A pobre da mãe do Freitas, em Cabinda, foi tão insultada que teria que durar 4000 anos para ter feito um décimo das coisas de que a lampionagem a acusava.
Passados vinte minutos entrou o resto da equipa. Nessa altura já a turba estava tão cansada que já não houve grandes reacções: Meia dúzia de assobios afónicos e uns insultos sussurrados.
O Freitas ficou praticamente surdo mas a equipa portou-se bem.
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