Existe em Portugal um delito de opinião para o qual uma pequena turba, que só parece grande porque é alimentada pelas bandeiras portuguesas nas varandas de muitos, pede punição e censura. Esse delito de opinião é estar a favor da utilização de jogadores canhotos para a posição de defesa esquerdo na selecção nacional e é particularmente agravado por eu ter dito que há falta de pontas-de-lança de qualidade em Portugal. Se houvesse pelourinho na cidade, a turba lá nos levaria a mim e ao Alex Ferguson para a humilhação pública.
Essa turba olha a minha tentativa falhada de qualificar Portugal para o Mundial de 94 como se fosse a mesma coisa que as vitoriosas campanhas de Scolari no Europeu de 2004 e no Mundial de 2006. A turba tem uma visão do mundo assente num único pilar: o anti-queirozismo militante por razões puramente derivadas de os portugueses gostarem de picanha e usarem bigode como Scolari e eu não gostar da primeira e ter rapado o segundo.
Há meia dúzia de pessoas que foram contra o meu mandato na selecção e que foram capazes de apontar erros reais da actuação da selecção, em particular a minha ignorância em dirigir seres humanos do sexo masculino de idade superior a 16 anos.
Mas os interlocutores sérios são a excepção. Nesta matéria, quem faz lei ideológica são os rabo das mulatas do país de Scolari. Todos os portugueses laudam esses rabos com a linguagem, os slogans, os tiques, os excessos verbais de quem não vê boa bunda em casa e não quer mais nada que a condenação dos rabos das portuguesas. Exageram e dizem que os rabos das portuguesas são flácidos, que elas são envergonhadas e usam fatos de banho completo, reclamam que as portuguesas não usam tanga na praia. Tudo mentiras.
Não lhes interessa que eu, quando dirigi a selecção júnior não tivesse convocado Pauleta porque não compreendia açoreano, não lhes interessa que na defesa eu tivesse canastrões como Fernando Couto e na frente o João Pinto com aquele corte de cabelo medonho e que nessa altura o Deco ainda fosse um menino e ainda não houvesse mulatas em Portugal.
Relembre-se o que eu disse em 94: “É preciso limpar o lixo que há dentro da Federação”. E que fiz eu? Saí da selecção e rapei o bigode. Amamentei o Cristiano Ronaldo desde pequenino, sou eu que lhe corto o cabelo para que não acabe como o João Pinto e até cozinhei bacalhau para o Ferguson e ensinei-lhe a dizer “Caralh*” e “F*oda-se” para ele poder treinar melhor o Cris. E isto para quê? Para o Cris ser espectacular na selecção.
Mas uma coisa é criticar-me por não saber ocupar o meio-campo da Itália e outra é contestar a minha genial decisão de cortar o bigode e negar que fui eu que ensinei português ao Ferguson. Por detrás do meu bigode estava um homem que sabe o que é um canhoto, cozinha bacalhau, e sabe por exepriência própria que em Portugal não há pontas de lança ao nível de uma mulata. Mas dizer isto parece que causa escândalo. Talvez por isso o que está a acontecer na selecção desde a chegada de Scolari é mais do domínio da propaganda do que da realidade.
Por tudo isto concluo que sou espectacularmente genial e que todos os êxitos da selecção se devem a mim.
Sempre vosso,
Carlos Queiroz, cabeleireiro de Cristiano Ronaldo e (esperemos) de Miguel Veloso.
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