Há que fazer alguma coisa pelo pijama. O pijama tem sido enxovalhado todos os dias na sociedade portuguesa. As pessoas que usam pijama têm medo de o assumir. Andam numa espécie de clandestinidade. É vê-las nos corredores dos escritórios, a cochichar a sua doidivanice, a sua tonteira, a sua extravagância. Quem usa pijama é considerado um totó por uma larga maioria (certamente) que dorme nu ou de cuecas, mesmo numa casa sem aquecedores no pino dos mais enregelados Invernos.
Os que usam pijama são, igualmente, acusados de não ter vida sexual. Um atrevimento. Como se, na hora certa, o cidadão não pudesse ver-se livre das suas calças às bolinhas rosa e revelar-se o maior dos predadores do condomínio. Esta pornografia do sono, que não admite gente antiquada e friorenta, tem levado muito boa gente à depressão e à insónia. É preciso ter atenção a isso. Deve haver chats de pessoas que usam pijamas. Ou blogues. Ou clínicas. Ou então almoços no último domingo de cada mês, em que se tem de falar baixinho, não vá o empregado topar a bizarria e descompor, com duas ou três piadas de algibeira, os apijamados comensais.
Há outras formas de olhar para o assunto. Acabar com esta instituição, assim de um momento para o outro, é tirar um direito às avós: o direito a comprar o belo do pijama para o neto. Ou para o genro. Ou para o marido da porteira. Ou para o ministro da Admnistração Interna. O que é que as senhoras agora vão comprar? Um fio dental? Não tem o mesmo efeito e não dá para embrulhar. Além disso, as lojas de bairro não vendem esse tipo de artigos. "O stock acabou de esgotar", dizem sempre, com a maior das simpatias, os funcionários.
O pijama, além de ser uma bela palavra (todo um programa de conforto, aconchego e até de ternura), é um direito, uma diferença que é preciso reconhecer. Já antecipo as manifestações dos cidadãos que usam pijama. Com tudo (umas setes pessoas) a gritar: “Pijaminhas sim, discriminação não”. Eu vou. Tenho dois pijamas (um azulinho bebé e um aos quadrados) que ainda vou usando quando não tenho ninguém em casa.
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