Deu-se-me um aperto no diafragma. Ou então fui vítima de um aluimento da pupila, de uma catarata semântica, não sei bem. Acontece-me muitas vezes, consoante os dias.
Tudo se passou quando abri as notas do novo disco dos Silver Jews, "Look Out Mountain, Look Out Sea", e encontrei um velho provérbio Yiddish:
"the truth is not alive or dead
the truth is struggling to be said"
A primeira vez que o li perdi uma vogal. Não li o que estava lá mas o que me apareceu ou apeteceu:
"the truth is not alive or dead
the truth is struggling to be sad"
Alguma coisa aconteceu na minha infância - uma retenção córnea, um Édipo da retina - que inconscientemente me faz tresler o universo, reter o inverso, atentar nos lugares onde as pequenas falhas se acoitam.
O meu ouvido, no entanto, não erra: um disco em que se canta
"How much fun was a lot more fun?
not much fun at all"
merece, mesmo sem pompa, que o anunciem em qualquer circunstância.
Ando a ouvi-lo há uns dias e nada mudou: onde havia um "said" lutando por ser dito, permaneceu um "sad" resignado a "not much fun at all".
Com um aperto, em "repeat mode", não sei bem onde.
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