Sempre me imaginei um clássico: li o cânone, uso camisas, abomino capuchos (os putos dizem "hoodies") e só tenho uma t-shirt, descontando as que uso para jogar futebol - pratico futebol e não Yoga, se fizesse Yoga tinha de comer rúcula, ir à Bica duas vezes por semana, frequentar o Monumental, saber o nome de pratos nepaleses e dizer que um Lucien Freud é "tipo" clássico e "tipo, eu é mais vanguardas". Se fizesse Yoga teria de namorar raparigas cujo sentido ontológico da vida reside em usar ganchos nos cabelos e discutir sabrinas.
Não acho Bergman depressivo, amo tanto o Bairro Alto como uma cela da Trafaria, tenho tanto interesse em visitar Serralves como em pertencer à claque dos Super-Dragões, recuso-me a ler BD, consigo rir-me a ler Kafka e o único sítio fora da Europa onde ambiciono viajar é o meu sofá.
Mais : guardo secretamente a esperança de um dia nomear uma filha Beatriz só por causa do bom Dante.
Nunca usei a palavra "bué" e se desse por mim a dizer "Yah" passava-me imediatamente uma certidão de óbito, que o jazigo de família parece-me lugar confortável e aprumado.
E nunca tive 13 anos, nem a acne dos 13 anos nem os 13 anos.
Mas quando um tipo nota que já não vai à socapa ao clube de vídeo e dá por si de madrugada a descarregar pornografia do teenies.com num laptop de rato clitoriano tem de admitir irremediavelmente que é um pós-moderno.
Um dia destes ainda me vêem de calças elásticas a fazer, todo pro-activo, fado-step num ginásio.
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