Sexta-feira, 15 de Agosto de 2008

Em defesa da nação

 

Ninguém pode dizer que os portugueses não são cosmopolitas. Em qualquer lugar do mundo sentem-se em casa, em qualquer do mundo aceitam a cultura local e mostram a portuguesa com um à vontade e confiança que só verdadeiros cidadãos do mundo possuem. Nas Olimpíadas cumpriram com as normas chinesas: chegaram a horas às provas (algo impossível de acontecer por cá) e em troca, de forma generosa, deram a provar a essência da nação: arranjaram desculpas para os seus desaires, culparam árbitros, o tapete, aquele roupão do judo, a temperatura da água, os ténis, o cheiro dos pés do adversário e o vento. A direita deve estar orgulhosa com esta extremosa demonstração de patriotismo.


 

Mas houve um homem que desiludiu. Que se mostrou avesso às mais nobres tradições nacionais, que não aceitou o peculiar protocolo português, que deixou ficar mal os colegas numa lamentável demonstração de falta de solidariedade. Pôs-se em bicos de pés, algo que fica mal a um português, por tradição e ADN baixo e humilde. O nome do espécime é Marcos Fortes. O rapaz – convém sermos verdadeiros – ainda tentou por instantes estar ao nível dos seus colegas e, fiel ao espírito da nação, conseguiu, não sem nobreza, ficar num dos últimos lugares da prova de lançamento do peso.


 

Mas um latagão não é (não pode ser) um bom português. Um bom português come sardinha, é pequeno, bebe vinho, levanta cedo, é humilde. E rezingão. Quando lhe perguntaram as razões do seu desaire (que no fundo não é mais que uma vitória moral e há que realçar o esforço do atleta, até conseguiu levantar o peso e lançá-lo, não se pode pedir mais) Marcos Forte traiu os colegas, a pátria, o devir nacional. Não culpou os árbitros. Não disse que tinha rinite alérgica e que o ar de Pequim lhe fazia mal. Não disse que tinha uma dor de cotovelo que o atrapalhava. Não: o infiel afirmou, e passo a citar, “Já cheguei à conclusão que de manhã só estou bem na caminha”.


 

Marcos Fortes podia ter-se contentado com a vitória moral que lhe era garantida pelo simples facto de ter aparecido na prova com a fatiota oficial dos atletas portugueses. Não é tarefa menor e sabem os deuses da costura que o forte da pátria nunca foi a moda. Custa envergar aquele maiô. Mas Marcos, egoísta, querendo exibir-se, resolveu não justificar a sua derrota, não inventar desculpas. E com o desplante de um americano usou o humor. Teve graça. Deu a entender que prefere dormir a trabalhar. Quase parecia um estrangeiro.


 

Perante o desplante de usar humor numa situação séria espero que, quando Marcos Fortes regressar ao nosso país, lhe retirem a nacionalidade. Que o tratem como um ilegal e o ponham a trabalhar nas obras sem direito a assistência social. É preciso restituir os valores nacionais. Nós vivemos com pouco mas reclamamos. Somos mais burros, mais incultos, mais imprestimáveis que toda a Europa mas temos desculpas que fazem corar de inveja o mais inventivo dos argumentistas americanos. O acto de Marcos Fontes é repugnante. Mandem-no para a América. Ele que vá escrever os monólogos de um qualquer Conan O'Brien. Mas que não venha para cá com a sua honestidade e o seu humor. Nós não queremos cá dessas coisas.

publicado por João Bonifácio às 18:12
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13 comentários:
De depoisdauma a 16 de Agosto de 2008
Belo post. Lembro-me de ter rido de espanto quando ouvi este tipo dizer isso ou então ri-me do seu ar Big Mac. Ele não parecia um atleta acabado de se dar mal na sua ida a Pequim, podia perfeitamente ser um daqueles tipos que protagonizam uns filminhos pipoca em que por uma data de acontecimentos improváveis vai parar aos jogos olímpicos e é confundido com o atleta.
De João Bonifácio a 16 de Agosto de 2008
É bem visto, é.
De MM a 16 de Agosto de 2008
Bem que venho aqui mais para ler o senhor Bonifácio, que infelizmente tem o sobrenome dum meu mui amado professor de história, do que qualquer outra coisa. Creio que vou agora desenvolver uma fixação pouco saudável.
De dri a 16 de Agosto de 2008
De uma rinite crónica,para uma sinosite igualmente crónica,fanhosamente lhe digo...tem muita razão com o tema do seu post.
Quem o diz é uma cidadã do mundo,portuguesa,ainda que madeirense residente no Porto,relapsa às normas instituídas enquanto habitante deste verdejante,bacalhoeiro,molengão,sonolento e muitas vezes...chico-esperto País.Aqui a sacanagem corre solta,desgrenhada,pata descalça e peito feito.Dispara em linha recta,afoita e decidida,pisa com firmeza e sem pudor.Quem quiser que se desvie da sua trajectória.Ela não pensa.Faz e...logo se vê no que dá.
Uma extraterrestre.Dri


De RFF a 17 de Agosto de 2008
Concordo com o post mas reconhecidamente Francis Obikwelu fugiu ao vergonhoso desígnio nacional pedindo desculpas e assumindo responsabilidades o que infelizmente é raríssimo. Um grande homem e um grande campeão...
De Joanina a 17 de Agosto de 2008
Sou uma cidadã do mundo... As vezes não e tão fácil ser cidadã do mundo como o João "pinta", mas quando não se tem outro remédio lá se vai fazendo por isso...
Mas como Portuguesa que sou só quero dizer uma coisa... A mim causa-me tristeza, ver os atletas de outros países debaterem-se ate a sua ultima gota de suor para alcancarem sonhos muitas vezes impossíveis, enquanto vejo os Portugueses baixarem os braços e esconderem-se atrás de desculpas esfarrapadas e piadas de mau gosto!
Jo
De isa a 18 de Agosto de 2008
sentido de humor é como quem diz, eu particularmente n achei mta piada. esse gajo é um cretino. tinha ficado cá, a dormir, que tinha feito melhor.
De Blondie a 19 de Agosto de 2008
Eu penso que esse atleta é bem representativo da geração do "está-se bem", que levam tudo sem stress, sem responsabilidade, "na boa" e com "tranquilidade". Não obstante assumem a falta de responsabilidade e a dificuldade em assumir deveres e tarefas com empenho, com muita naturalidade. Nem tentam esconder essa faceta.
De Rui a 21 de Agosto de 2008
Blondie, sim, todos devemos estar "na má", sermos stressados e intranquilos. aí sim serias feliz ao ver os outros infelizes.

A geração dos 500 euros é, felizmente, tranquila, boa onda e não stressada. deixa de ser responsavel por assim ser?


De Blondie a 24 de Agosto de 2008
De todo, não foi isso que quis dizer, Rui.
Não quis defender, com o meu comentário, que devemos andar deprimidos, stressados e constantemente preocupados, até porque esse perfil é a antítese de mim própria. O que pretendi dizer é que perante determinadas situações temos de assumir uma postura mais responsável, séria e íntegra. Além disso, sentir stress em determinadas situações não é algo negativo, muito pelo contrário, normalmente torna-se sinónimo de responsabilidade.

Mas que hoje em dia, quando alguns falham em cumprir com as suas responsabilidades e são chamados à razão normalmente respondem com as tais expressões que referi, os tais clichés usados por quem não quer "vergar muito a mola", ou seja, quem não quer trabalhar.
De Joao a 4 de Setembro de 2008
Está confirmada a realização da primeira demonstração de Agility a realizar na cidade de Oliveira do Bairro Aveiro, no próximo dia 7 de Setembro de 2008.

Não Faltem

ABRAÇOS
De pvnam a 4 de Setembro de 2008
«........mini-spam........»
Separatismo na Europa


«... PS, PSD, BE, PCP, etc, etc...»

---> Por acaso, já alguém viu os Bandalhos Brancos/Intolerantes (há que chamar os bois pelos nomes!!!) - do PS, PSD, BE, PCP, etc, etc - empenhados na construção duma sociedade sustentável (ou seja, uma sociedade dotada da capacidade de renovação demográfica)???


NOTA:
-> Como NUNCA conseguiram construir uma sociedade sustentável sem ser à custa da repressão dos direitos das mulheres (mulheres tratadas com úteros ambulantes), hoje em dia, como seria de esperar, os Bandalhos Brancos/Intolerantes pretendem infiltrar-se (fora e dentro da Europa) no seio de outros povos [procuram infiltrar-se em qualquer lado]: quer importando outros povos para a Europa... quer deslocando-se para o território de outros povos...... consequentemente... os Bandalhos Brancos são INTOLERANTES para com a existência de Reservas Naturais de Povos Nativos!...


PS.
---> Para os Bandalhos Brancos/Intolerantes, «os pretos são os salvadores da pátria»: de facto, como os pretos(...) pretendem ocupar e dominar cada vez mais territórios, consequentemente os Bandalhos Brancos/Intolerantes estão a contar com os pretos(...) para combater o SEPARATISMO.
{{{nota: É possível encontrar portugueses brancos receptivos à ideia do Separatismo-50-50, pelo contrário, os portugueses negros(...) (e os mestiços também) são uns ferozes opositores do Separatismo-50-50}}}




ANEXO:
Os povos nativos de Boa Vontade (apenas reclamam o Direito de terem o SEU espaço no Planeta) devem possuir o legitimo Direito de se defenderem de Predadores Insaciáveis(...) que estão numa corrida demográfica pelo controlo de novos territórios.
-> Contra a (cada vez mais poderosa) Inquisição Mestiça;
-> [antes que seja tarde demais] É urgente reivindicar o legítimo Direito ao Separatismo: http://separatismo–50–50.blogspot.com/


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