Mais Decos. Nas redacções do país o jornalismo contina a olhar de lado para a criatividade. A ortodoxia jornalística (e há muito conservadorismo entre os jornalistas) teme a imaginação criativa - tomada como "pouco séria" e "delirante". Por cá o paradigma é "lança-se um tema e uma história seguidos da opinião do especialista de serviço". Mas a verdade é que, sabemo-lo, o melhor jornalismo do mundo não se fica. Rasga sempre que pode - nos temas, nos ângulos, nas abordagens, nas vozes que são chamadas a cruzar depoimentos.
Ups, desculpe. Continua a ser um dos nossos maiores defeitos. Desrespeita-se pouco em Portugal - aliás, a reemergência de Manuela Ferreira Leite, misteriosamente apelidade de "lufada de ar fresco" numa emissão da SIC Notícias, só se compreende se olhada pelo medíocre ângulo do "respeitinho". Nos debates, nas conferências, nos "encontros", as veneráveis figuras são demasiado veneradas e acaba tudo por ser demasiado previsível, bem comportadinho e enfadonho. Portugal só será um país decente quando não houver medo de esticar o pé à passagem dos senadores. (E, já agora, quando se deixar de usar por dá cá aquela palha a ridiculamente pomposa designação "senadores").
Notinha inconsequente e sentimental. Poucas coisas me comovem tanto como ouvir certas pessoas falar dos seus. Os olhos abrem-se, vivos e brilhantes, durante as histórias que se contam e os episódios de família (de uma tia, de um sobrinho, de uma avó que marcou a infância ou de quem ouvíamos falar nos jantares) são enrolados, dedicada e naturalmente, nas mortalhas da ternura e do humor.
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