JPP diz aqui que há em Portugal «um delito de opinião para o qual uma pequena turba (...) pede punição, censura, opróbrio, confissão pública do crime, rasgar de vestes. Esse delito de opinião é ter estado a favor da invasão do Iraque».
Aqui está um um tema novo em Pacheco Pereira, um território ainda por explorar pelo comentador político, prova da sua constante procura de renovação temática.
Acrescenta Pacheco que essa pequena turba «só parece grande porque é alimentada pelo silêncio de muitos». Isto, meus amigos, que mais não seja, explica aquele velho mito que diz que há seis milhões de adeptos do Benfica.
Nessa turba, continua Pacheco, «todos falam com a linguagem, os slogans, os tiques, os excessos verbais, a arrogância moral e a pesporrência do Bloco de Esquerda».
Respeito esta passagem, que mais não seja por solidariedade com o tempo que JPP perdeu a contar as pessoas da turba até chegar à conclusão infalível e matemática de que "todos" falam a mesma linguagem.
Eu, que nunca votei no Bloco de Esquerda, fico tranquilo por saber que há homens assim, como Pacheco, que não usam os “slogans”, “tiques”, “excessos verbais”, “arrogância moral” e “pesporrência” daquele tipo de gente que diz à boca cheia, na Quadratura do Círculo, que não recebe lições de moral ou civismo de ninguém.
E é sempre tranquilizador haver homens que não apelidam de “anti-americanismo primário” quem ressalva que o argumento oficial de George W. Bush para a invasão do Iraque era a «existência de armas de destruição maciça» e «a possibilidade de Saddam ser um apoiante da Al-Qaeda».
Curiosamente, numa desconcertante (e grouxo-marxista) passagem Pacheco acrescenta que «A decisão de invadir tem pouco a ver com a existência de armas de destruição maciça, ou com a possibilidade de Saddam ser um apoiante da Al-Qaeda, que não era».
Ou seja: no fundo JPP subtilmente acusa Bush de mentir.
Ou seja: no fundo JPP subtilmente acusa-se a si mesmo de ser um anti-americano primário.
Isto, meus amigos, é um acto de contrição raro em Portugal, diria mesmo que uma auto-censura, uma auto-punição, uma confissão pública do crime.
Eu, que não concordei com a Invasão do Iraque (posição que, posso agora confessar, ainda fez vacilar George W.), não quero condenação moral de ninguém. Só quero mesmo que JPP não rasgue as suas vestes em público.
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