Para português de quatro costados, considero-me um tipo razoavelmente pouco invejoso. Alegro-me com as vitórias de pessoas de que gosto e até, por incrível que pareça, não me sinto particularmente roído com os sucessos de gente que não gosto ou mesmo desprezo.
Julgando saber que esta coisa da inveja é uma coisa genética a que é quase impossível fugir, acho que fiz um trabalho, para alguns, decente no domínio deste tão vulgar sentimento. Não que ache que a inveja seja algo de intrinsecamente mau. Pelo contrário. Vivida de uma forma saudável, ou seja, cumpridas as regras é, possivelmente, uma das forças que tem mais contribuído para o desenvolvimento e bem-estar. Trabalhar para ter um BMW melhor do que o vizinho ou um apartamento de duas assoalhadas na Praia da Rocha só para mostrar ao paspalho do cunhado, tem feito mais pelo bem comum que todos os livros de economia e ciência politica juntos.
Infelizmente, este tipo de inveja não me ajudou a aumentar o património e logo não consegui, indirectamente, contribuir para o bem-estar geral.
A minha inveja é a que nutro por aqueles indivíduos que conseguem decidir, que optam por um caminho e não se questionam a meio, que sabem sempre se lhes apetece coelho à caçadora ou uma pizza com alcachofras, que sabem sempre dizer um não decidido ou um sim convicto. Aqueles que sabem o que estão a fazer quando vão pela esquerda ou pela direita, que sabem o que dizem quando dizem que amam alguém, que sabem realmente se gostaram de um livro ou não.
Esta não se resolve com um simples: “Ai é? Ai é? Agora vais ver. Vou tomar uma decisão que até vai fazer parecer a do João uma hesitação!” Nada disso.
Há pouco a fazer com esta inveja. Olhamos para eles, decididos e confiantes, e resta-nos a piadinha, o sarcasmo, ou até o ressentimento em estado puro: “oxalá te lixes”.
O mundo é deles e, se calhar, ainda bem.
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