"(Certo dia precisei dum cigarro, mais para mostrar do que para fumar... Não tinha. Pascoaes abriu imediatamente a cigarreira, quase com precipitação:
- Tira destes aqui... E exibia uns cigarros magrinhos, com todo o aspecto de terem sido enrolados e lambidos por ele na véspera à noite... Com uma certa repugnância, já que do poeta apreciava não a saliva mas o verbo, extraí um dos cigarrinhos, disposto a queimá-lo depressa e a não pensar mais nisso...
Pascoaes mirava-me candidamente. E só ao primeiro acesso de tosse do jovem fumador, aquela falsa candura se desfez em riso, num riso grosso e folião, mas cheio de bondade... Eram cigarros cubanos, fortíssimos! E o poeta ria infantilmente com as nuvens de fumo, as lágrimas e a tosse do petulante fumador...)".
Alexandre O'Neill, "Recordação Precipitada de Teixeira de Pascoaes", crónica incluída em "Já Cá Não Está Quem Falou", Assírio e Alvim, 2008.
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