Tenho paixão por palavras, dos bonequinhos que as linhas constroem, dos triliões de sons que elas produzem, das emoções que provocam. Encanta-me o poder delas, a capacidade que têm para tudo explicar, o ódio ou o amor que provocam, o entusiasmo ou a melancolia. Não há nada que elas não possam fazer.
A história de que uma imagem vale mil palavras até pode ser verdade. Mas podemos desfazê-la com 1001 ou até menos, muitas menos.
Infelizmente - como todas, aliás - essa paixão tolda-me o espírito. Olho para elas como um fim em si próprio, como se o que elas geram ou possam gerar fosse algo de secundário ou até de indiferente. Basta-me a carícia do som de um “meu amor”, do arranhar de um “odeio-te”, da dureza de um “não”, da ternura dum “minha menina”, dum ronronar de um “linda” ou da dança de um “oftalmologista” ou de um “rocambolesco”. Há dias em que passo o dia a dizer portanto só pelo prazer de sentir o duplo bater da língua atrás dos dentes.
Bem sei que as palavras são importantes, que não se deve brincar com elas, que podem ferir ou curar, que elas fazem parte de um código maior que nós, que se as libertarmos dos seus significados vão pairar no limbo como almas penadas, mas quem é que as mandou ser tão bonitas.
É por estas e outras que não se deve levar muito a sério os que escrevem, nunca saberemos se eles estão ou não enfeitiçados pelas palavras.
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