Uma vez, quis apagá-lo mas um amigo disse-me que era melhor mantê-lo - como homenagem, como memória. Ainda há pouco, ao listar os meus números de telemóvel, vi-o e lembrei-me da pessoa, da falta que faz, da vontade de conversar com ela, de ouvir os seus conselhos e histórias. Voltei a pensar se faz sentido mantê-lo. Por enquanto, está ali, intacto e resistente, como um amigo que não se quer expulsar de casa, por mais que a sua presença tenha deixado de fazer sentido. Um dia, sei disso, terá de se ir embora. Não sei quando, não sei em que circunstância e que sentimento acompanhará o momento. Até porque a pergunta continua a latejar, consciente do seu absurdo e da sua inutilidade: qual é a altura certa para apagar o número de telemóvel de alguém que já morreu?
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