Sexta-feira, 18 de Abril de 2008

Betumes e nabiças

Um tipo vai visitar a avó e a primeira coisa que ouve é "Trouxestes guarda-chuba?". Não há sequer um olá: o primeiro instinto das avós é sempre o da protecção.
“Ó vó, isto tá um sol do camandro".
"Tá de chuba".
"Cumé c'àvó sabe?"
"Os meus tornozelos tão-ma dizer".
A minha avó sabe coisas: em que época do ano se deve cultivar e o quê, quando vai chover, como se tiram nódoas disto, quanto tempo o bacalhau fica de molho, como se depena uma galinha, como pôr meias solas num sapato. A velhota também sabia sempre em que tascas podia encontrar o meu avô quando ele não chegava a horas a casa, mas isso também não era difícil.
A minha mãe também sabia coisas: cerzir meias, a época certa dos pêssegos, como poupar dinheiro, ver quando é que um pepino estava estragado. O significado da palavra “plissada”, o que é um cabelo “espigado”, o tempo de cozedura de uma nabiça – tudo isto  a minha mãe conhecia.
O meu pai, como todos os pais, olhava para uma porta empenada e sabia automaticamente que ferramentas usar. A minha avó conseguia fazer refeições com ingredientes que – julgo – já entraram em extinção. E eu tenho dificuldade em perceber as instruções dos congelados para usar no micro-ondas.
Lavavam a roupa sem a manchar, abriam capôs de carros e trocavam velas e correias de distribuição, punham óleo em dobradiças. Usavam palavras esquisitas como “betume”. Tudo fiava fino, tudo tinha um sítio, uma função, um remédio. “Isso é bichas”, diziam, e vai de óleo de fígado de bacalhau.
Eu, honestamente, não sei nada disto. Se não fosse o Pingo Doce, morria. Ponho a roupa toda ao molho na máquina e rezo para que as camisas não brinquem ao daltonismo. Olho para o micro-ondas com a esperança de um crente a caminho de Fátima. Tudo o que os meus avós e os pais me ensinaram ficou esquecido algures.
Honestamente: espero não estar sozinho nisto. Espero poder dizer ‘A minha geração não serve para nada’. Espero não ter de admitir que sou eu e apenas eu que sirvo para pouco mais que cliente do Pingo Doce.
Incapazes deste mundo, juntem-se a mim: unidos não construiremos um mundo melhor, mas talvez consigamos um desconto no supermercado.
publicado por João Bonifácio às 01:00
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Quinta-feira, 17 de Abril de 2008

Duas ou três breves notas sobre a humanidade

Durante anos e anos tentei todos os métodos possíveis e imaginários para perceber as pessoas: observei-as silenciosamente, apontei as expressões que mais usavam, notei cada gesto, interpretei o que via e ouvia  à luz da psicanálise, da sociologia, do instinto. Fiz tabelas, equações, powerpoints - e não percebi nada.
Na época do hi5, desconfio, as pessoas mostram tudo. Tanto que até se torna difícil descobrir qualquer coisa importante sobre elas. Apresentam-se com "Eu sou a soraya goxto de ler passear amar viajar com o meu queriduxo" e, que dizer?, continuo sem saber quem no fundo é esta Soraya. Mesmo que nos aproximemos das pessoas e olhemos para - por exemplo - a decoração da casa delas, isso nada nos diz, excepto que, como toda a gente, frequentam o Ikea duas vezes por ano.
Mas de há uns anos para cá desenvolvi um método para entrever minúsculas partículas do ser de cada indivíduo, partículas que, quando ampliadas, se tornam reveladoras. Basicamente: espiolho a casa de banho. Tudo que é preciso saber sobre uma pessoa está na casa de banho.
Por exemplo: há quem aperte a pasta dos dentes junto à tampa e quem o faça pela parte de baixo. Os últimos serão mais desordenados, mais relaxados, e os primeiros mais controladores. Se um homem põe velas de cheiro na casa de banho o mistério acerca da sua sexualidade dissolve-se. Numa casa de rapaz solteiro achamos normal que o rolo do papel higiénico esteja pousado no tampo da retrete ou aos caídos pelo chão (ou substituído por guardanapos de papel). Mas isto, numa mulher, faz-nos desconfiar da sua capacidade para - por exemplo - ser a exemplar líder de um lar.
Quase tudo pode ser descoberto através de uma simples mirada no WC: o grau de exactidão geométrica com que as toalhas são colocadas indica se aquela é ou não uma pessoa picuinhas. E se o chão está sempre limpo sabemos que aquela é uma pessoa com rotinas (ou com dinheiro para ter uma empregada ucraniana). Alguém que tenha champô, amaciador e gel de banho da mesma marca tem mais cuidado consigo mesmo que um caramelo que compra os fluidos íntimos no supermercado Dia sem reparar na marca.
Nunca acabam, as revelações de casa de banho. Se encontrarmos cabelos de cores diferentes numa escova ou num pente podemos bem estar na presença de uma pessoa promíscua. E há o espelho: um/a narciso/a tem sempre um espelho grande. O cesto da roupa suja - quem tem um cesto de vime é um clássico, quem põe a roupa no chão pensa que é hippie, é coisa de garoto com dificuldade em crescer.
E depois há o armário dos medicamentos. A tristeza que nos parecia ver na/o nossa/o anfitriã/o é confirmada pela presença de anti-depressivos. Uma caixa de ansiolíticos diz-nos que aquela pessoa ou dorme mal ou é ansiosa. E se encontramos, numa casa de fêmea, uma caixa de preservativos no armário dos medicamentos, então podem ter a certeza: ela está disponível e quer que o saibam, caso contrário guardá-los-ia na gaveta da mesa de cabeceira. Porque toda a gente sabe que toda a gente espia o armário dos medicamentos dos outros.
Mesmo a disposição de cada elemento no armário dos medicamentos indica o tipo de pessoa que temos pela frente: se os medicamentos para a cabecinha estão escondidos no fundo do armário, então temos alguém que gosta de manter o seu íntimo em segredo. Se os medicamentos para a cabecinha estão fora do armário - então temos alguém que gosta que saibam que é tolinho. E se não há álcool ou água oxigenada estamos perante um descuidado.
Andei anos a tentar perceber as pessoas: perguntei-lhes o que liam, o que gostavam de comer, qual era o sítio que mais gostavam de conhecer. Tudo em vão. Até que comecei a olhar com atenção as casas de banho.
Acreditem no que vos digo: tudo o que é preciso saber acerca de quem quer que seja está no wc. O wc tem sido pouco valorizado.
publicado por João Bonifácio às 22:42
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Variações sobre o despudor

O despudor já chegou à farmácia. Antigamente as pessoas tinham um certo pudor em revelar ao mundo que tomavam determinados comprimidos. Hoje, pousam as caixas de comprimidos em cima da mesa e a gente fica a saber que as pessoas têm problemas de vesícula, de depressão ou de rinite.  Falar sobre os comprimidos pode ajudar à conversa com quem não se conhece. Há muito relacionamento amoroso que se inicia com uma conversa sobre um toque de telemóvel mais estranho. Mas também há amores eternos que se iniciam com um "Então, desde quando é que anda a tomar Cholagut?".

publicado por Nuno Costa Santos às 20:25
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Os almoços

 

 

Os almoços servem para ter ideias. Ah, e para comer. Quantas vezes não passo as manhãs em branco e parto para um almoço com amigos de bloco engatilhado, pronto a disparar. Sim, sei que, quando voltar do repasto, vou trazer várias ideias no bolso, minhas e dos outros - que isto de fanar estende-se para além do pão e dos pacotinhos de manteiga alheios.  Sim, o brainstorm é mais fácil ao almoço. Justamente porque não tem o grau de responsabilidade de um brainstorm. À partida está-se ali para mastigar e trocar histórias - não para contribuir para o avanço  (ou o desvario) criativo da humanidade. E é por isso é que as ideias descem com mais entusiasmo no - cuidado, vem aí uma imagem - aquaparque do delírio e da imaginação. As melhores ideias que repousam, possivelmente para sempre, nos meus sebentos cadernos tive-as (ou roubei-as) ao almoço. Aqui fica o agradecimento aos criativos comensais.

publicado por Nuno Costa Santos às 20:24
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[this depression is for display purposes only]

A princípio, acreditei que fosse um problema meu. Discos e discos de música deprimente e depressiva, impossível de passar em festas, a menos que se tratasse da XXVII edição do suicídio colectivo anual da igreja adventista do oitavo dia da Carolina do Sul. Depois, muitos serões em casa de amigos volvidos, comecei a desconfiar. Vieram concertos e festivais de música, classificações das revistas da especialidade, recomendações de melómanos. A música boa era, inevitavelmente, melancólica, soturna, cabisbaixa. A alegria, a pop estridente e luminosa, a dança, as histórias felizes, resultavam, de modo fatal, no kitsch; às vezes, no gay; no comercial-ligeiro para pôr multidões a tirar, cito, o pé do chão.

Passássemos ao cinema, à pintura, à literatura, ao teatro, e o cenário não mudaria. Em arte, a tragédia foi, através dos tempos, o grande género, não a comédia. A seriedade vem, amiúde, como bandeira da idade adulta e, afinal, os palhaços sempre serviram para entreter crianças.

Isto já seria misterioso, mas o enigma adensa-se quando saltamos da auto-medicação artística que seguimos de cada vez que escolhemos consumir determinado produto cultural. Se gostamos de filmes pungentes, livros que nos encostem às cordas, óperas trágicas e músicas deprimentes, por que diabo preferimos pessoas alegres?

Se o amigo leitor tem em casa a discografia completa dos Tindersticks, o primeiro do Jens Lekman e bilhetes para o concerto do Nick Cave, deveria apreciar a companhia de suicidas solipsistas defensores da substituição do alho pelo valium nas mais diversas aplicações culinárias. Será assim? Não. A malta gosta é de gente viva, sorridente, colorida, que encha uma sala, domine aniversários e debite piadas com a prolixidade e incapacidade para o sofrimento duma catatua.

Gostaria de ser convidado para uma daquelas festas em que nos deixam à vontade para trazer companhia e sugerir uma pessoa destas. Ai, posso levar alguém? Então, vou com o meu amigo maníaco-depressivo, que acredita que o Cosmos se organizou desta forma com o exclusivo fim de lhe causar aquela calvície precoce e se auto-mutila de cada vez que uma estrela de cinema não lhe responde às cartas. Vai ser um pagode!

O pessoal devia vibrar perante perfil semelhante. E os pais? Por que desejam para os filhos gente agradável e bem-disposta? Por que não aparecer-lhes em casa com uma moça pela mão e dizer: “Papá, Mamã, esta é a Clarinha. Foi espancada pelos pais em criança, mais tarde vendida a um psicopata que a violava todos os dias ímpares e que gosta de fazer sacrifícios animais como forma de expiar a culpa do mundo. É de uma densidade…”

Algo vai mal na relação que a espécie humana estabeleceu com a tristeza e a alegria. As pessoas é que deviam ser sérias e a arte entretenimento. Mas, ultimamente, preferimos um piadista que nos ponha a rir na vida real e distraia, por um momento, das desgraças que comprámos na fnac e pusemos em casa a encher as estantes do ikea. Inventámos a arte séria e densa para poder ser, trivialmente, superficiais.

Ainda não percebi se isso é mau.
publicado por Alexandre Borges às 19:27
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Terça-feira, 15 de Abril de 2008

O convívio

Ao que consta a falta de convívio é um dos grandes problemas dos nossos tempos. Diz que estamos todos muito individualistas, muito pouco interessados em beber uns copos com amigos, desconhecidos ou apenas uns tipos que estavam ali quando você chegou, contar umas graçolas, dizer mal da humanidade em geral e do vizinho do 4º dto em particular, enfim com aquelas coisas supostamente boas com que todos gostávamos de ganhar tempo. Melhor, aparentemente já não gostamos todos disso. Ou melhor ainda, já quase ninguém gosta disso. Parece, afinal, que agora gostamos mais de dividir o nosso tempo livre entre o desgaste das teclas do comando da televisão ou na matança de zombies na play station e a mui nobre e digna tarefa de gritar com os nossos filhos enquanto eles “chateiam” no msn. O nosso convívio – se a isso lhe podemos dar esse nome – resume-se a lols e sinais esquisitos que mandamos para uns tipos que ainda chamamos nossos amigos mas que teríamos dificuldade em reconhecer se os víssemos na rua. Foram umas pessoas que conhecemos há uns anos e que eram filhos de vizinhos dos nossos pais ou com quem andamos na escola. Ainda fomos aos casamentos ou baptizados dos filhos mas depois vamos encontrando-os cada vez mais espaçadamente até só ficarem uns smss de Natal e outras datas festivas. Quando, por acaso, encontramos alguma dessas pessoas, mal passada a fase do grande abraço, do “então pá o que é que andas a fazer”, filhinhos, mulher e tal, instala-se um desconforto atroz, uma necessidade urgente de sair dali o mais depressa possível. Combinamos uns jantares ou uns almoços que sabemos nunca irem acontecer.
É nesta altura que o tipo, a que vocês dão a honra de ler, olha para trás e descobre que não era nada disto o que tinha planeado escrever. O cidadão lê uma coisa que acha curiosa, começa a escrevinhá-la e quando dá por ela percebe que um feiticeiro escreveu o que lhe deu na telha com os seus dedos. Isto não era para ser um lamento meio pretensioso sobre o isolamento dos meus concidadãos, nem (parei a tempo e já não vos vou maçar com isso) sobre o fecho das pessoas no seu grupinho de amigos (os que o têm) e do pânico de conhecer outra gente, de ouvir coisas novas, de arriscar ser confrontado com os seus receios, de viver, no fundo, outras vidas. Nada disso.
A coisa era para ser sobre o convívio e o seu, pelo menos, para mim, novo significado.
Um amigo, com certeza, preocupado com o que ele poderia pensar ser a minha rendição aos prazeres da tal vida na concha, enviou-me um interessante site onde eu era informado que um conjunto de raparigas em lingerie, estariam dispostas a conviver comigo. Assim mesmo, conviver. As ditas senhoras, prendadas com certeza, não só convivem, também massajam.
A princípio, confesso, achei um bocado estranho o facto de se pagar mais por conviver do que por uma massagem. Mal ou bem, a massagem exige um certo esforço físico, conhecimentos anatómicos mas, depois, sensibilizado e triste comigo por a idade me estar a deixar desconfiado, percebi tudo: gente boa com os valores no lugar. Naquela casa dá-se mais valor ao convívio que à massagem, à troca de ideias sobre uns apalpanços nas omoplatas, ao diálogo construtivo ou não sobre uns ridículos pseudo golpes de Karaté. O mundo ainda tem salvação.
Anda um tipo armado em cronista a destilar pessimismo e há um amigo que lhe mostra que ainda há gente que dá grande valor, tanto que está até disposto a pagar por essa coisa tão agradável, ao melhor que há no mundo: o convívio.
 
publicado por Pedro Marques Lopes às 20:51
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Domingo, 13 de Abril de 2008

a singular importância dos picadores de ponto



é chegada a hora de abordar no sinusite a importância do funcionalismo público, independentemente de sindicalismos ou manifestações com bater de tachos, bonecos enforcados ou gente de rio de mouro [props pró pessoal] com máscaras do sócrates. a demagogia daqueles que defendem a presença mínima do estado na vida à portuguesa não se combate apenas lembrando o facto de os polícias, as forças armadas, os guardas prisionais, os médicos, os enfermeiros, os professores constituirem o grosso do funcionalismo, gente sem a qual não se deveria poder passar. a não ser, claro, que sejamos pretos a beber uns copos na rua e nos queiram levar constantemente à esquadra para averiguações, já que estas envolvem com frequência toalhas molhadas no lombo ou escorregadelas suicidas no duche.

sucede que por baixo da asa de cada funcionário público poderá estar a germinar um génio desaproveitado e portanto lanço daqui o alerta. nem todos os filhos de assistentes administrativos de primeira poderão ser artistas de primeira água. talvez se fiquem até pelo wrestling com professores. mas entre eles poderão existir almas criadoras dignas de carinho e estímulo e para isso nada melhor que contar com progenitores que nunca poderão ser despedidos, mesmo que assassinem selvaticamente o chefe de secção. na pior das hipóteses poderão ser alvo de um processo disciplinar por darem um uso não regulamentar à pistola de agrafos do antunes, que quando sai da dgci/mf às quatro e meia ainda faz uns biscates que pagam o plasma a prestações.

pois bem, o apoio e segurança do núcleo familiar podem ser decisivos, e há casos brilhantes que o comprovam. por exemplo, michelangelo buonarroti, autor de inúmeras obras-primas, estucador e pintor de interiores, trolha de mármores inesquecíveis, nunca poderia ter exercido o seu mister se lourenço, o magífico, todo-poderoso e autoridade máxima de estado em florença, não tivesse convencido o pai do jovem génio em potência a deixá-lo ingressar numa loggia de artes e ofícios, oferecendo-lhe como contrapartida um emprego como guarda-fiscal. ludovico lambeu os beiços à benesse e às senhas de almoço e permitiu que o filho se dedicasse às bichices das artes e corpos nus, entre outros molhos de brócolos. ora se a capela sistina ou similar não vale bem o contributo de todos para a adse, então não sei o que é que vale. o caro leitor pense nisso antes de cuspir no próximo funcionário que lhe aceitar o irs.
publicado por Pedro Vieira às 22:44
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Sábado, 12 de Abril de 2008

Vingança! (ou uma crónica inevitável)

A infância traz marcas que nos perseguem, como fantasmas. No meu caso lembro-me distintamente da segunda pergunta que os meus novos amigos me faziam (a primeira era "como te chamas")

-És do Benfica ou do Sporting ?,

nesses tempos distantes em que a capital portuguesa dominava olimpicamente o futebol e a expressão "sociedade anónima" lembrava apenas escritórios mal iluminados nas ruas da Baixa.. A pergunta era aquela, então,"Benfica ou Sporting", as respostas possiveis contidas no enunciado. E a minha era invariavelmente a mesma, sincera e natural como respirar


 -Sou da Académica,

 algo que me parecia extremamente normal e até motivo de particular
orgulho. Mas não para os meus infantis amigos

 -De quem?,

 perguntavam, aturdidos pela bizarria, pela excentricidade. Não havia vida futebolística além dos dois grandes rivais lisboetas, com excepção
possível de um Belenenses, clube de vetustos avós, ou - Deus nos livrasse! - do Futebol Clube do Porto. Agora, da Académica, aos seis anos, ninguém era,muito menos alguém nado e criado em Lisboa.
 Excepto eu. E ainda o sou, e sempre o serei, até porque acredito que a
 Académica de Coimbra é o clube de futebol mais romântico do mundo. Umclube de estetas, de dandies do futebol, que aceitam as derrotas como parte da vida e não existem em função exclusiva das vitórias.

O tempo, felizmente, tem-me vindo a dar razão, e não disfarço algum contentamento com isso. Quero dizer, a parte das derrotas chateia-me de morte, como a todos os apaixonados. A diferença é que quem é da Académica sabe viver com isso, porque tem a certeza de que tanto ganhar como perder faz parte do património do clube.
.
 Porém, no capítulo das solenes embirrações que me assolam sobre esta matéria, uma há que me põe sociopata. É quando alguém replica, após saber da minha filiação clubística, que a Académica é um clube "simpático".
Simpático?! Simpático é o senhor que deixa passar a velhinha para a frente da fila - a Briosa é um clube brilhante, elitista e inteligente, e que conta, como todo o Universo deveria saber, com os melhores adeptos do planeta.

A magia da Briosa é única e entranha-se. A mim, apanhou-me quando vi com o meu pai (academista) uma final da Taça de Portugal - por acaso, uma que ficou na história, a de 1969. Jogámos e perdemos com o Benfica de Eusébio, por dois a um. Tínhamos na altura uma super equipa - em que pontificava,curiosamente, Artur Jorge -, mas o que mais me impressionou (com 5 anos) foi o ambiente que se vivia no estádio. Mais tarde vim a saber que se tratava da célebre greve académica, e que a Briosa era vista como uma equipa "anti-regime". Mas a entrada dos jogadores, vestidos com as capas negras - sim, eles estudavam mesmo! - , o maravilhoso toque de bola e passe curto (marca registada de Coimbra) e a festa que se fez antes, durante e depois no Estádio Nacional marcou-me para sempre.

Não se pode achar "simpatico" um clube assim. Tem que se amá-lo, com o rigoroso exagero da paixão. E vingá-lo, como o agora o faço com décadas de atraso, perante os meus infantis amigos que não sabiam quem era a Académica de Coimbra.

 

(publicado em 2005, na revista Epicur)

publicado por Nuno Miguel Guedes às 20:11
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Sexta-feira, 11 de Abril de 2008

Magnífico, magnífico

Um magnífico texto de Eduardo Pitta, acerca de "Ela e Outras Mulheres", magnífico livro do magnífico Rubem Fonseca.
publicado por João Bonifácio às 13:56
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Em defesa do trabalho

 Não sou preguiçoso, chego mesmo a apreciar o trabalho. Apenas gostaria de não o fazer mais que cinco, seis minutos por dia. 

 

É que nos prazeres convém ser moderado para melhor poder apreciá-los.

 

publicado por João Bonifácio às 13:20
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