Terça-feira, 29 de Abril de 2008

Para o homem do pullover amarelo, uma camisa a condizer

publicado por Pedro Marques Lopes às 22:19
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O feitiço das palavras

Tenho paixão por palavras, dos bonequinhos que as linhas constroem, dos triliões de sons que elas produzem, das emoções que provocam. Encanta-me o poder delas, a capacidade que têm para tudo explicar, o ódio ou o amor que provocam, o entusiasmo ou a melancolia. Não há nada que elas não possam fazer.

A história de que uma imagem vale mil palavras até pode ser verdade. Mas podemos desfazê-la com 1001 ou até menos, muitas menos.

Infelizmente - como todas, aliás - essa paixão tolda-me o espírito. Olho para elas como um fim em si próprio, como se o que elas geram ou possam gerar fosse algo de secundário ou até de indiferente. Basta-me a carícia do som de um “meu amor”, do arranhar de um “odeio-te”, da dureza de um “não”, da ternura dum “minha menina”, dum ronronar de um “linda” ou da dança de um “oftalmologista” ou de um “rocambolesco”. Há dias em que passo o dia a dizer portanto só pelo prazer de sentir o duplo bater da língua atrás dos dentes.

Bem sei que as palavras são importantes, que não se deve brincar com elas, que podem ferir ou curar, que elas fazem parte de um código maior que nós, que se as libertarmos dos seus significados vão pairar no limbo como almas penadas, mas quem é que as mandou ser tão bonitas.

É por estas e outras que não se deve levar muito a sério os que escrevem, nunca saberemos se eles estão ou não enfeitiçados pelas palavras.

publicado por Pedro Marques Lopes às 19:31
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Planeta pullover

O homem do pullover amarelo foi buscar a Nené o hábito de se referir a si próprio na terceira pessoa do singular, algo inadmissível num ponta de lança mas que talvez se tolere num anti-herói burguês. A iconografia,  sacou-a do álbum A Marca Amarela. O pullover em si, à Pull and Bear,  após uma humilhante visita à Rosa & Teixeira, e depois de se confrontar com o angustiante dilema do decote em  “v” ou arredondado  e com o reduzido leque de amarelos disponíveis nas lojas de Lisboa, que excluem o amarelo nevado, o amarelo mosaico, o amarelo limão intenso, o amarelo limbo nevado e o amarelo limão mosaico - só para ficar entre os canários lipocromos e não entrar no universo da botânica ou das tintas Dyrup. A T-shirt amarela, antecipando já a canícula, foi reciclada de um brinde e é amarela a dar para o torrado, quase alaranjada ao sol rasante, numa perigosa aproximação cromática a outro anti-herói burguês (Santana) com quem tarde ou cedo se cruzará na Bica do Sapato, mas em compensação as letras da publicidade estão entre o imperceptível  e o subliminar. A sua complexidade psicológica é nula, isto é, apenas suficiente para a aferir, não há cá personagem mitológica transmutada em criatura hipertrofiada e de licra justa, nem genealogias complicadas ou incestuosas. O homem do pullover amarelo acusa até todas as tentações das criaturas banais, embora seja um John Difool  que sublimou a luxúria em gula e trocou os prostíbulos das galáxias longínquas pela restauração lisboeta. Enfim, chulos há-os em todos os negócios, mas o que o preocupa mesmo são os soufflés, que o debilitam como a kryptonite trama o Super-homem. Detesta apaixonar-se às refeições, promete imparcialidade e uma cobertura transversal, translúcida, transbordante, transtejo, da tasca do Tó ao Tavares, sempre trajado de amarelo. O anonimato relativo  é para preservar, mas pretende-se cada vez mais ostensivo e, sendo bem sucedido, ele conta que a pressão sobre os cozinheiros conduzirá ao aumento da frequência de clientes com pullovers amarelos por salutar mimetismo oportunista - em “V” a concretização da utopia social passava pela clonagem da máscara do enigmático herói e no projecto da “boa mesa ou morte” a estratégia é a mesma.  Enfim, se ele sonha com entradas em grande estilo, de pullover esticado para os lados e a franquear a janela como um esquilo voador ou então em passo lento pela porta principal e de braço dado com uma Maria de Lurdes Modesto de lantejoulas, o mais provável é chegar a pé e a sós ou então na companhia de amigos que não desconfiam da sua dupla vida e passarão a noite a gozá-lo por causa da indumentária.  Mas ele está aqui para servir a população de Lisboa e iria até de sapatinho de vela e calcinha aveludada verde, não lhe passando pela cabeça que com estas tristes figuras jamais sacará a loira caprichosa daquela  história do Fantasma. É frustração que dura há 30 anos,  a mulher continua impecável, sobretudo quando a vinheta calha perto da lombada e fica mais resguardada do pó e do sol, e ele já não vai para novo, em particular quando a luz incide de topo. De resto, foi sorte não lhe ter dado para se armar em Sansão, pois um pullover amarelo ficará ainda melhor com a careca anunciada, que só pode ser a somatização do seu anti-heroísmo pequeno-burguês e prova de empenho nesta causa - bordar apenas o monograma no pullover teria sido pouco sério.

PS. O homem do pullover amarelo agradece ao Nuno e ao Pedro Marques Lopes a simpatia - ele convidou-se para escrever aqui - e cumprimenta os outros membros desta casa, que ainda não conhece mas com quem espera poder jantar um dia à paisana ou em trabalho.
publicado por Homem do pullover amarelo às 08:28
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Palha

A primeira canção que ele aprendeu foi premonitória da desgraça que viveu.

Já a primeira que escreveu dizia assim (e conheço poucas palavras tão aguçadas para certos homens):

 

I got me a friend at last

He dont drink or steal or cheat or lie
His name is codeine
He's the nicest thing I've seen
Together were gonna wait around and die

 

Está aqui:

 

 

 

"Não serás como a palha que o vento leva", dizia o Salmo. E Cale cantava: "If I wasn't such a coward, I would run". Townes nunca foi um cobarde. E é preciso coragem para ser essa palha e ir onde tem de se ir. Mais ainda para saber cantá-lo.

 

Isto para dizer que faz agora 40 anos que saiu o primeiro disco, "For The Sake of The Song". Parece-me que a data não será celebrada com grandes encómios.

publicado por João Bonifácio às 02:01
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Segunda-feira, 28 de Abril de 2008

a desfilar na passerelle abre-se menos a boca, cometem-se menos gaffes

ontem estive alguns minutos a espiolhar o top +, pedacinho de anacronismo que não descola da grelha da rtp, e topei com a isabel figueira, belas formas, estupendo bronzeado, a trazer à liça o novo disco da mariah carey, ainda melhores formas, bronzeado mais envergonhado, que se chama, o disco, e = mc², assim mesmo, à einstein, les bons esprits se rencontrent, albert e mariah, separados apenas quiçá por um grande par de seios, mas entretanto perco o fio à meada, regresso à figueira, que no seu empenho de apresentadora leu a fórmula como "é igual a éme cê dois", assim mesmo, que isso de elevar ao quadrado não é coisa para ela, quanto muito elevar "ao semicírculo" ou "à bandeirola de canto", surpreendam-se os incautos, afinal de contas a moça foi casada com o césar peixoto e não com o nuno crato cujo pé esquerdo, aliás,  tem fama de ser uma merda.
publicado por Pedro Vieira às 01:44
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Domingo, 27 de Abril de 2008

Os a's da minha lista (um pedido de desculpas)

 Primeiro  foi o Adriano a chamar-me a atenção. Depois foi o Alexandre. Os dois estavam a receber SMS's e MM's meus que eram dirigidos a outras pessoas. Palavras tão profundas como "estou quase a chegar. Um beijinho", imagens de inscrições nas paredes da cidade, provocações ternurentas do género "ou atendes o telefone ou rebento-te a boquinha toda". Depois percebi o motivo da ocorrência: enquanto o telemóvel não se auto-bloqueava, tratava de, entalado entre os movimentos do meu bolso direito, enviar correspondência para os a's da minha lista. Calculo que não seja caso único - o meu telemóvel não é assim tão diferente do dos outros, há por aí muito boa gente com bolsos. Sim, os primeiros nomes da minha lista telefónica são os que mais sabem da minha vida pessoal. Eles que nada fizeram de mal para merecer isso.

 

publicado por Nuno Costa Santos às 16:14
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A altura certa

 Uma vez, quis apagá-lo mas um amigo disse-me que era melhor mantê-lo - como homenagem, como memória. Ainda há pouco, ao listar os meus números de telemóvel, vi-o e lembrei-me da pessoa, da falta que faz, da vontade de conversar com ela, de ouvir os seus conselhos e histórias. Voltei a pensar se faz sentido mantê-lo.  Por enquanto, está ali, intacto e resistente, como um amigo que não se quer expulsar de casa, por mais que a sua presença tenha deixado de fazer sentido. Um dia, sei disso, terá de se ir embora. Não sei quando, não sei em que circunstância e que sentimento acompanhará o momento. Até porque a pergunta continua a latejar, consciente do seu absurdo e da sua inutilidade: qual é a altura certa para apagar o número de telemóvel de alguém que já morreu?

 

publicado por Nuno Costa Santos às 15:27
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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008

Eu tenho um amigo

Todos temos um amigo. Um está no desemprego e a namorada abandonou-o. Outro é hiper-activo e nos restaurantes derruba o copo em cima da amante do terceiro amigo, um quarto fala quando não deve, há mais um que nos pede dinheiro emprestado dia sim dia não - e ainda há aqueles nos telefonam sempre mesmo que nunca lhes telefonemos de volta.

Um amigo, pelo menos, toda a gente tem.

 

Mas há um amigo que é especial. É o "Eu tenho um amigo". O "Eu tenho um amigo" de quem dizemos - a outro amigo - "Eu tenho um amigo que não resiste a roubar os trocos das máquina do tabaco". Ou "Eu tenho um amigo que se sente atraído pela cinquentona que por acaso é sogra dele".  Ou "Eu tenho um amigo que sofre de ejaculação precoce".

Todos temos um amigo.

 

Este amigo é-nos muito querido. Antecipou-se aos nossos possíveis problemas, sofreu-os por nós - o que além de uma tremenda demonstração de humanidade, nos incumbe de uma responsabilidade que nos torna melhores, mais humanos.  

Temos de sossegar esse amigo, porque o mundo compreende-o. Nós não (por vezes até o detestamos e aos seus problemas), mas o mundo sim. Nunca ninguém, ao interceder a favor do seu amigo dizendo "Eu tenho um amigo que", ouviu um "Que imbecil, esse teu amigo". As pessoas condoem-se, em particular porque também têm amigos assim:

 

"Queria falar-te de uma coisa. Eu tenho um amigo que sofre de ejaculação precoce".

 

"Epá, errr, eu, hmmm, também tive um amigo assim. Mas aquilo passou com o tempo".

 

(Hão-de notar que as pessas que ouvem um amigo dizer "Eu tenho um amigo que"  não têm um amigo na mesma condição - tiveram.)

 

Todos temos um "Eu tenho um amigo". Vamos construindo com ele uma longa e terna dependência. E um dia, quando esse amigo morrer, nós ficaremos tão tristes que morreremos com ele.

E haverá alguém, num restaurante qualquer, a dizer:

"Eu conhecia um tipo que fumava como um cavalo e sofria de ejaculação precoce e morreu de velho. Bom tipo", dirá esse alguém, enquanto acende mais um cigarro, pensando no medo da morte que o seu "Eu tenho um amigo" sofre por ele todos os dias. 

É esse "Eu tenho um amigo" que carrega a vida inteira as vergonhas, a culpa e os maiores terrores de todos. E a ele é raro darem-lhe um abraço ou cantarem-lhe os parabéns.

publicado por João Bonifácio às 01:51
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Quinta-feira, 24 de Abril de 2008

Até já.

Ela disse, insistiu durante toda a noite: « Eu acredito nas relações. Acredito mesmo que devam durar , que existam, que façam bem». Mas só mais tarde disse que nunca teve o numero de telemóvel de um namorado em teclas de marcação rápida.

publicado por Nuno Miguel Guedes às 19:10
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Hotéis

Os hotéis são locais perfeitos quando não se tem de lá dormir.

publicado por Pedro Marques Lopes às 16:39
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