Neste preciso momento, um pouco por todo lado, por muito diversificadas que sejam as actividades a estarem a ser desenvolvidas por pessoas mais ou menos imaginativas e com mais ou menos recursos, milhões de indivíduos estão ocupados com o mesmo que eu: aproveitar a sua manhã de Domingo. O momento em que a humanidade mais está unida.
As manhãs de Domingo são uma incógnita controlada. Um X com possibilidades conhecidas, embora como é do conhecimento geral [e se há coisa que a política nos ensina é isso], prometer seja fácil.
Podemos defini-las como a melhor justificação para o resto da semana. Apresentá-las como o último recurso para perante as exigências habituais se escrever direito por linhas tortas. Usar os comentários semanais do professor Marcelo Rebelo de Sousa para as situar.
As manhãs de Domingo são a redenção. Tranquilas. Habitualmente uma zona livre de stress ou onde os seus índices de emissão são mínimos. Um bilhete premiado. Apesar de correrem o risco de como tanto se espera de si acabarmos numa atitude destrutiva de "gosto tanto de ti que te tiro os olhos".
Houve um tempo em que as minhas manhãs de Domingo cheiravam a torradas e a café acabado de fazer.
Começavam tarde. Lentas. Acordando, contrariado, pelos cães da vizinhança. Questionando os gostos musicais do vizinho que os pôs em pranto.
Serviam de purga porque tinham ainda fumo, de sábado à noite [de quem são próximas], agarrado à roupa caída pelo chão.
Eram importantes para lamber as feridas. Para encetar recuperações. Fazer as contas às noites perdidas. Dando luta às olheiras. Arejando.
Agora as manhãs de Domingo continuam a cheirar a torradas e a café acabado de fazer. Mas também cheiram a eau de toilette do Noddy. E são mais despachadas. Nesta altura do ano, se o tempo estiver bom a Paula Teixeira da Cruz na capa do i e às turras com a justiça acaba emborralhada em areia por uma criança de 4 anos encarregue de me convencer que não é preciso interromper uma bela manhã de praia para ir almoçar [baseado em factos verídicos].
Nesta fase,também servem para encher a despensa.
Dão para aprender mais sobre a natureza, nos documentários matinais da BBC e National Geographic.
Limpam o pó. Lavam o carro.
E hoje como ontem, estimulam-nos a pôr em forma.
As manhãs de Domingo mudam connosco. Incapazes de voltar atrás. Passando de um modo one-night stand para modelo familiar. Mas continuam esplendorosas.
Na maioria dos casos e das vezes, têm direito a banho prolongado. A fazer a barba sem pressas. E a jornal. A engonhar. São, definitivamente, o melhor da semana.
Não servem para tomar decisões. Não é tempo para isso.
Não se pensa em taxas extra ou subsídios.
Não havendo outra hipótese inevitavelmente acabam. Isso é o que têm de pior.
São uma instituição que presta serviço público. Não desmerecendo os feriados, claro. Que devem ser respeitados até pela raridade de que enfermam actualmente.
Existem na medida certa. Para serem devidamente apreciadas. Mais seria pecado [dos originais].
São o que nos dão força para a segunda-feira para não falar no que se lhe segue.
Raios-nos-partam se conseguiríamos viver sem as manhãs de Domingo.
Em qualquer dos casos, como quando estiver a ler este post a sua manhã pode já estar esgotada e ter já os olhos postos na próxima, resto de bom Domingo.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.