Quarta-feira, 20 de Junho de 2012

A Selecção somos nós

Volvidos alguns dias posso admiti-lo publicamente. Tenho dúvidas de que o pé que marcou os golos contra a Holanda tenha sido o de Ronaldo e não o meu. Riem-se? Só porque estava a largos quilómetros de distância? Não é do meu feitio teimar, mas estou convencido. Poder contar com isso e com os meus efeitos por fora, contorcendo-me no sofá, foi fundamental para o resultado final. Mais as vezes que roubei a bola ao adversário enquanto recarregava o pires com pistácios. Ninguém me prova o contrário. Sempre que a bola apareceu ziguezagueando na área fui eu quem me fiz primeiro ao lance. Perplexos?

 

Não há repetições e comentários que me demovam. Além do mais, futebol é a gente poder opinar. É mais bater no ceguinho do que embarcar em falinhas mansas. De água mole em pedra dura. Acusar «o que é que você sabe disso?» serve de argumento. Trocar jogadores sem perceber nada do assunto é num plano, meramente, teórico possível. Dar palpites, sem ter de perceber, também. Sem experiência. Porque sim. Bem como não dar conta de coisas que nos deviam entrar pelos olhos.

 

Futebol é futebol. Tem pouco de certeza. E clareza. O resto é a vida. E o futebol não é a vida. Não é como ela. Se não, não precisávamos dele. Já a tínhamos a ela. Bastava-nos.

O futebol não é a vida. Só faz parte dela.

Tem pouco de lógica. Pelo menos não consta que Aristóteles jogasse à defesa, fosse bom no jogo aéreo ou óptimo na conversão de penalties. O cálculo proposicional, também, serve de pouco no um para um. E o princípio da não contradição parece-me em tudo isto de somenos importância.

 

O futebol é uma coisa nossa. E essa é a razão para não ser a equipa que joga mal. Somos nós. A equipa não vence. Ganhámos! Não se desconcentra. Desconcentrámo-nos! Só há uma excepção. A vitória é nossa.

Só a derrota continua a ser do treinador. E a culpa é do árbitro. Duas, pronto! Quem é que está a contar?

É assim desde os bancos da escola. Sei do que falo. Passo a demonstrar!

Aqui há dias encontrei um antigo colega numa loja de bricolage e decoração. Daqueles que têm tudo. O melhor guarda-redes da escola primária. O que perdia em elasticidade devido ao problema que tinha nas pernas inertes compensava com as muletas que funcionavam como membros extra, imunes a qualquer regra dos organismos que fiscalizam o futebol mundial.

Numa célebre tarde consegui a proeza de lhe marcar três golos, o que me valeu um porta-chaves, premiando previamente a compra de um detergente para a roupa de uma mãe e ali o meu desempenho magnífico. A sorte não vem sempre. E nós acabámos a levar a taça. E eu saindo em ombros. Aspirante a campeão.

Penso que quando me viu franziu o sobrolho angustiado por essa tarde. Ainda tinha o resultado presente. Desforra por concretizar.

Vinha carregado de ripas, estacas, pregos, tinta e rede. Segundo explicou, preparava-se para construir no jardim traseiro da sua casa uma baliza para o filho que vinha consigo pela mão e perpetuaria o seu nome nos anais do futebol escolar onde se validavam os golos mais pela força das circunstâncias do que por tocarem as malhas inexistentes das balizas.

 

Nunca mais consegui marcar três golos. O meu futuro não estaria no futebol.

Mas garanto que os dois golos contra a Holanda são meus. Quase que lhos garanti a ele quando o vi transportando a baliza em construção. Sei que duvidaria. Vingando, assim, os três por perdoar.

 

A Selecção somos nós. Razão suficiente para nunca perder um jogo. Podem sempre contar com a minha ajuda. Pronto para a assistência. Serei certamente um dos primeiros a oferecer-me para a barreira. Podem contar comigo para os livres, cantos e lançamentos. Posição fixa. Trocando de lugar. Centrando. Rematando. Marcando em cima. Jogando de início. Ficando no banco. Escolha habitual ou arma secreta.

 

Não perco um jogo da Selecção.

Às vezes os resultados também ajudam.

 

De qualquer maneira, para finalizar, o Rui Patrício que me perdoe, mas penso que um par de membros extra seriam de aproveitar para a Selecção. Por mim seria de arriscar.

Eu e ele ficaríamos, finalmente, de contas saldadas.

Mas é só a minha opinião. E eu numa boa tarde consigo marcar-lhe três.

publicado por Carlos M. J. Alves às 10:02
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