Dizem que Deus é que sabe quando chega a nossa hora. A ciência, hoje, prevê a hora do nosso nascimento e a da nossa morte. O testamento vital e a eutanásia são, praticamente, uma inevitabilidade das sociedades modernas. Toda a gente quer saber quando é que damos lugar a outro. O tempo urge.
Mas, numa pequena aldeia perto de Nápoles, um homem chamado Giulio Ceesare Fava decidiu proibir aquilo que muitos acreditam ser o destino dos homens. E, muito embora Agostinho da Silva garantisse que não tinha a certeza da morte, pois nunca tinha morrido, a verdade é que a tendência é essa. Por tradição, morre-se. Agora, em Falciano del Massico a lei determina que ninguém poderá morrer. Se calhar era disto que precisávamos, uma imposição legal.
Parece um pouco inconsequente, como as apostas de morte: "o último a sobreviver ganha". Proibir o aparente fim pode não ter consequências para o indivíduo que viola a lei, a não ser que haja trânsito em julgado no Além. Tem, contudo, consequências maravilhosas para quem cá fica. O desígnio de um povo pode passar a ser não morrer. E aqui a lei retorna ao seu espírito humanista. É para o nosso bem. Vivamos, então, o mais possível, combatendo o tédio da morte, transportando a vida todos os dias como uma taça conquistada sem grande esforço. Que nunca mais se fechem as janelas. Parem, em nome da lei.
Não quero que o meu entusiasmo por esta lei fundamental ignore um facto importantíssimo. É que quando chegamos a um determinado ponto da vida, estamos cansados. E há uma altura em que ninguém tem o direito de nos mandar continuar. Temos anos de vida suficientes para poder descansar. Proibir a morte pode ser, também, impedir-nos de entrar numa nova jornada. Não é uma questão de fé, é pura imaginação.
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