Acreditei, a minha vida toda, que era na confiança que a Justiça oferece aos cidadãos e na estabilidade das instituições que estava uma das chaves para o sucesso das sociedades. Talvez por isso tenha orientado a minha formação académica e cívica nesse sentido. Em todas as conversas que tenho com os amigos, há no meu discurso uma tendência para defender as instituições e para promover a sua necessidade. Torno-me numa pessoa aborrecida mas, tive sempre muita convicção no que acredito. Sou um conservador.
Porém, num destes dias, um desses amigos informou-me sobre o desfecho do seu grande processo judicial. Era um processo de Trabalho que se arrastava há 3 ou 4 anos. Acabou em desistência. Por ironia do destino, a história começou no dia em que os Sex Pistols tocavam em Paredes de Coura. Fomos os dois. Não me recordo ao certo de quantas vezes, nas longas noites no nosso Cheers, discutimos sobre Justiça, Tribunais, demagogia, confiança institucional e rock'n'roll. Acredito que ele via na minha convicção uma espécie de esperança. Para tudo.
Vivo, agora, um dilema. Neste meu dilema, ancorado numa crise social e económica aguda, ando perdido entre a manutenção da minha convicção inicial e a total desconfiança sobre a capacidade de resposta das instituições às inquietações das pessoas. Pergunto eu, hoje, como pode alguém ter confiança numa Justiça que não consegue, sequer, notificar um arguido e que deixa um processo arrastar-se sem que a inquietação de dezenas de famílias seja, pelo menos, tranquilizada? Com que dignidade vive um país cuja indefinição e ineficácia dos seus tribunais faz com que qualquer um de nós pense duas vezes antes de se meter em processos para reivindicar direitos legítimos?
Ninguém vive assim, num clima de desconfiança, de dúvida, de incerteza e de resignação. E as forças esgotam-se. E as pessoas desistem. E desistimos de todos nós. Não se vive, assim.
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