Quinta-feira, 8 de Março de 2012

Muita força para pouco dinheiro

Acreditei, a minha vida toda, que era na confiança que a Justiça oferece aos cidadãos e na estabilidade das instituições que estava uma das chaves para o sucesso das sociedades. Talvez por isso tenha orientado a minha formação académica e cívica nesse sentido. Em todas as conversas que tenho com os amigos, há no meu discurso uma tendência para defender as instituições e para promover a sua necessidade. Torno-me numa pessoa aborrecida mas, tive sempre muita convicção no que acredito. Sou um conservador.

 

Porém, num destes dias, um desses amigos informou-me sobre o desfecho do seu grande processo judicial. Era um processo de Trabalho que se arrastava há 3 ou 4 anos. Acabou em desistência. Por ironia do destino, a história começou no dia em que os Sex Pistols tocavam em Paredes de Coura. Fomos os dois. Não me recordo ao certo de quantas vezes, nas longas noites no nosso Cheers, discutimos sobre Justiça, Tribunais, demagogia, confiança institucional e rock'n'roll. Acredito que ele via na minha convicção uma espécie de esperança. Para tudo.

 

Vivo, agora, um dilema. Neste meu dilema, ancorado numa crise social e económica aguda, ando perdido entre a manutenção da minha convicção inicial e a total desconfiança sobre a capacidade de resposta das instituições às inquietações das pessoas. Pergunto eu, hoje, como pode alguém ter confiança numa Justiça que não consegue, sequer, notificar um arguido e que deixa um processo arrastar-se sem que a inquietação de dezenas de famílias seja, pelo menos, tranquilizada? Com que dignidade vive um país cuja indefinição e ineficácia dos seus tribunais faz com que qualquer um de nós pense duas vezes antes de se meter em processos para reivindicar direitos legítimos?

 

Ninguém vive assim, num clima de desconfiança, de dúvida, de incerteza e de resignação. E as forças esgotam-se. E as pessoas desistem. E desistimos de todos nós. Não se vive, assim.

publicado por jorge c. às 00:00
link | comentar
2 comentários:
De Exilado no Mundo a 8 de Março de 2012
Não demorará muito para que os bem-pensantes deste país conlcuam que urge uma revolução. Profunda. Com ou sem sangue, as circunstâncias o ditarão.
De Filinto a 8 de Março de 2012
Sou filho de um comunista e neto de um fascista, a realidade não pode por em causa as nossas convicções.
O que é importante é continuar -- como dizia um velho anarquista espanhol quando lhe perguntavam como estava: "pues como siempre, luchando".
Abraço

Comentar post

Autores

Pesquisar

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Últimos posts

Frangos & galetos

...

Contra nós temos os dias

Do desprezo pela história...

É urgente grandolar o cor...

Metafísica do Metro

A Revolução da Esperança

Autores do Condomínio

Hipocondria dos afectos

A família ama Duvall

Arquivo

Dezembro 2020

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

todas as tags

Subscrever

Em destaque no SAPO Blogs
pub