Deambular pela cidade não é uma acção absolutamente livre. Estamos sempre condicionados por alguma coisa: um percurso habitual, a familiaridade das ruas ou a simples preguiça. Assim o é, também, nas conversas. Sentimo-nos condicionados pela existência de uma narrativa, pela necessidade da coerência e por temas definidos e perfeitamente separados.
Pois eu sou a favor da anarquia dos passeios e das conversas. Porque para a contemplação e para o campo das ideias não deve haver limites. Há mundos a desbravar para além do aceitável, do acessível. Há que pular o muro como o João Sem Medo e não perder tempo com regras. Nunca se pode deixar uma ideia morrer, e ficar sem assunto é deixar as ideias fechadas num abismo e as possibilidades por descobrir.
É preciso falar e falar, cada vez mais, sem grande calculismo do que se está a dizer, sem pruridos com o que o outro diz e pensa. Ouvir e construir uma conversa sempre nova, sem necessidade de passar a vida a questionar, sem sugerir, sem pedir licença para atropelar, sem bocejar e fazer bocejar de tédio.
E que, entretanto, se beba. Beba-se muito. Porque, como diz o Esganarelo no D. Juan: "Diga o que diga Aristóteles e toda a sua filosofia, não há nada que se compare ao rapé. É a paixão dos nobres. Não exagero: quem não ama o rapé não é digno da vida".
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