Rubem Fonseca, em pé, dizendo coisas sérias com a maior das levezas. É isso que é a melhor comunicação, sobretudo em eventos literários. Sem maldade, meteu-se com todos - até com Eduardo Lourenço, que sorriu, pouco intelectual e muito homem. Humanizou a literatura e a vida, Rubem. Chamou-nos loucos. Tirou-nos daquele ar sério em que queremos à força toda ser metidos. Despenteou o ambiente e a literatice. Podia ter feito o arzinho do escritor premiado que diz umas frases vagas e poéticas para impressionar a assistência e ter umas manchetes neutras nas secções de cultura dos jornais. Não. Colocou um picante seu, citou - muito citou ele - mas citou como quem tem um bate-papo com a tradição literária para melhor entender o ofício da escrita. E, já agora, passar esse entendimento a quem o quisesse ouvir. A ideia não foi falar para dentro. Quis falar com os que estavam à frente e com os que estavam em cima. Com novos e velhos. Sem medos de ferir este e aquele com os seus apartes cómicos. Chamou, com humorística ternura, "meninos" aos que estavam na mesa. Falou, além da loucura e da alfabetização, da motivação que é preciso para escrever. Teve verve. Rubem foi na Póvoa uma pessoa e uma personagem, daquelas que fazem falta a um mundo de estantes muitos direitas e de livros muitos arrumadinhos. Sim, nisto não houve Acordo algum. Se Valter Hugo Mãe foi há uns meses ao Brasil para fazer chorar os brasileiros, Rubem Fonseca veio agora a Portugal para nos fazer rir - ele que é descendente de portugueses. Valeu.