A cidade é - nós somos - o tempo que temos para aproveitar. Quando esse tempo é curto ficamos presos, tensos, desorientados e asfixiados. Seria necessário fazer uma greve de nós próprios para não descurar dos amigos, dos lugares, do Domingo, dos livros e, até, das notícias. Até para fazer a revolução como deve ser não há tempo. Gostava imenso de me indignar, mas a minha agenda para esta semana está preenchidíssima.
Os motivos da falta de tempo não interessam. O mais importante é aquilo que deixamos de fazer. De repente, não queremos saber e trornamo-nos ingratos, reactivos e abandonamos a vida e tudo o que nela nos faz respirar. É aí que nasce o cinismo e a resignação.
Até para esta crónica, como se torna evidente, há falta de tempo. O tema é banal e as frases não fluem. A inexistência de ideias começa a debater-se com o pouco texto produzido e mesmo esta frase demora mais do que o habitual a ser construída. Lá fora, parece estar tudo igual. Não há um único movimento inspirador.
Há uns dias, fiz uma viagem, não muito longa. Já não conduzia há algum tempo. Não me recordo de ter pensado em alguma coisa concreta. Porra, isto parece uma composição. Mas, adiante. Encontrei outros lugares no meio das serras e de um grandioso céu. Se calhar basta isso.
Talvez, hoje, quando chegar a casa e colocar um disco na aparelhagem, talvez assim que inventar o amor e as saudades, consiga entrar num outro lugar e ganhar um pouco mais de tempo para respirar. Logo se verá.
P.S.: Só agora reparei na útlima crónica do Alexandre. A falta de tempo é uma coisa tão triste quanto isto.
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