Acabo de dar uma voltinha pelos sites noticiosos do costume e nada me salta à vista, nada me surpreende como a visita que a nossa vizinha de cima nos fez ontem à noite para partilhar o momento de glória televisiva que teve há uns anos no programa "Casa de Artistas", da RTP, em repetição ontem na RTP-Memória. Não foi bem uma visita, foi uma convocatória. Veio bater à porta para nos chamar ("Venham, venham, são só cinco minutos!") e fomos até à sua sala para a ver na televisão a cantar fado, de olhos fechados e com o seu melhor vestido, acompanhada do filho, músico que toca nos bares da cidade. Foi um gesto luminoso e raro, este o da Dona Bina (não a personagem do imaginário Bairro Melancómico mas a real, a do bairro lisboeta das Laranjeiras onde vivo há dois anos). Essa, sim, foi uma notícia, daquelas que os sites de informação não têm trazido: "Dona Bina Chama os Vizinhos para a Verem Cantar o Fado". Quero ter muitas destas no ano novo.
Temos já uma combinação para 2012: ir ao Estádio da Luz ver o seu - e o meu - Benfica jogar. É, acredito nisso, com a Dona Bina que vou voltar a gostar de futebol. É genuína e inteira no seu clubismo, nas letras que escreveu para o seu clube, nas sucessivas participações no Canal Benfica (Alexandre, para quando o documentário com a biografia da Dona Bina?). Quero ir com ela à bola como um menino atordoado com o tamanho do estádio e que ainda não sabe o nome dos jogadores. Ela vai-me ensinar um a um o nome dos gandulos e os seus melhores atributos nas artes da bola e à noite vou voltar a adormecer como adormecia quando era pequeno: imaginando jogadas dos meus jogadores favoritos, na altura com nomes como Chalana, Shéu, Strömberg, Nené, Magnusson, hoje com outros nomes, ainda mais sonantes na voz de fado da Dona Bina. Vai ser o meu glorioso momento na RTP-Memória com uma janela para estes dias futebolísticos.
Volto aos sites e a uma das notícias que encontrei nesta caminhada matinal: "Velocidade Furiosa 5 foi um o filme mais sacado na internet em 2011". Velocidade Furiosa 5, sim. Se calhar vão dizer que é um escândalo mas admito em público ter perdido os quatro primeiros da saga e confesso não me apetecer lá muito assistir àquele que surge, isolado, como se diz dos avançados, em mais uma aclamada lista de fim de ano. Qual foi o segundo? A Ressaca 2. Obrigado, meus senhores. Prefiro o meu noticiário de bairro.
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