Corríamos as ruas da vila todas as noites. Pintámos as paredes com palavras. Punk is not dead. Pareceu-nos necessário. Punk is in the head. Manifesto qualquer coisa: uma insatisfação, um desgosto, uma inquietação, uma alegria, o Elvis. Manifesto sub-16. Depois vieram os livros, outras interrogações, o reforço das preocupações e da vontade de mudar o mundo todo com as palavras que ainda rasgavam as paredes da vila. Punk is not dead. Não te esqueças, rapaz! Ajuda lá a cantar esta canção. É uma canção sobre liberdade. Ainda vais para o inferno.
Na caixa da guitarra, as mesmas palavras. Punk is in the head. Na vila, pelas ruas, "mas tu não és de direita?"; está tudo na cabeça, ainda vais para o inferno por ajudares a questionar, a perguntar porquê e a dizer que não e a dizer que sim. O mundo estava ali, à porta, com o desafio nas mãos e tu como é que ias enfrentá-lo? Com o gatilho, claro. Sempre com o gatilho. Não desistas, rapaz. Nunca desistas das canções de liberdade, das que te libertam para sempre e para o bem. O bem não tem cor. O bem é o bem.
Porque quando és um puto é tudo mais fácil de resolver e só podes aproveitar essa oportunidade para ser melhor. Porque as palavras rasgam bem mais do que as paredes de uma pequena vila. Porque é o outro extremo que te ajuda a pensar. Tantas coisas que se podem trazer na mala, quando és obrigado a crescer e a deixar de escrever nas paredes. Punk is not dead. Éramos muitos. Era muito. Só se pode agradecer e nunca esquecer. É impossível esquecer o que nos fica na pele.
Já não se faz música de intervenção, dir-se-ia; que essas coisas têm o seu tempo. Pois o inconformismo não tem tempo. Punk is in the head. Há sempre qualquer coisa que te inquieta e por isso tens de cantar as canções que te libertam. Eu tinha 14 anos quando ouvi o London Calling. Nunca te esqueças. 14 anos. O sangue ainda corre nas mesmas veias. Nunca te esqueças, rapaz.
Passam hoje 9 anos que morreu o Joe Strummer. Ajudem lá a cantar.
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