Sentemo-nos no pub para mais um passo rumo à integração na cultura britânica, à nossa frente uma enorme caneca. Ainda não é hora do almoço, mas o jogo de futebol já começou, enquanto o estômago se esforça por se habituar a estes horários etílicos. A ementa recomenda o tradicional assado de domingo e a tradição manda acompanhar um bife com molho de menta. Compremos antes um pacote de batatas fritas. A dúvida persiste: sabor a vinagre ou a cheddar e cebola caramelizada. Gostos não se discutem.
Tenho percorrido o bairro à procura de um pub local ao qual poderei chamar amigo. Algo como o café de esquina onde com um simples aceno à entrada se dá início à preparação do nosso café personalizado.
Já passei por salões distintos com cadeirões, lareira e conversas importantes, pelos locais de celebração da adolescência dos trintões e os inevitáveis Smiths e “Common People” no ar. Também já entrei nos antros da cultura dos excessos estudantis e nos estabelecimentos familiares onde várias gerações passam um domingo tradicional. Sempre acompanhados pela cerveja. Cada vez menos inglesa, é certo, agora substituída pelos sabores de overseas, mas sempre uma presença incontornável nos mais diversos tipos de convívio.
Hoje sentei-me no Quinn´s, gerido por descendentes de irlandeses chegados a esta cidade no início do século XX, como é comprovado pelas fotografias e os quadros na parede. Cheira a madeira e muitos anos de história e histórias para contar. O ambiente é mais duro, há marinheiros idosos com tatuagens e heróis da classe trabalhadora. Encontro um skinhead, mas não consigo perceber se é de extrema-direita ou anti-racista. Ouvem-se os cânticos de alguns apoiantes mais entusiastas do Arsenal, o clube mais importante da zona norte. O Chelsea aqui é detestado, como sinónimo de riqueza, nova e antiga. O Arsenal, por seu lado, encarna a figura do romântico perdedor, uma equipa que dá valor a um futebol estético, filosófico, mas que perde sempre nos momentos fulcrais. Acaba por ser fácil escolher quem apoiar, umas pitadas de idealismo não fazem mal a ninguém.
Quando o jogo acaba, já é quase noite lá fora e reparo como ainda não me consegui habituar à rapidez com que o dia é consumido. Almoça-se e quando estamos a acabar o café a luz é desligada. Escurece e começa-se logo a pensar nas compras para o jantar. Ou no próximo pub por descobrir. Porque ainda há tantas aulas de socialização britânica por completar.
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