Agora que o frio começa a fazer-nos companhia, as árvores se despem e o Inverno se avizinha, deveria começar a sentir saudades de Lisboa. Ainda não, mas lá chegarei. Se calhar senti-las-ei quando voltar. Ou então no início do Verão, porque antes ainda há a neve londrina para descobrir e os parques da Primavera que engolem a cidade e os sons, as irritações com a chuva que ainda não apareceu, a luz dos dias que se evapora tão rapidamente e o calor das casas que nos acolhem. Nunca passei tanto frio como em Lisboa, cidade que durante uns meses lê, janta e vê televisão enrolada em cobertores e protegida por gordas camisolas de lãs.
Aqui, pelo contrário, vive-se o paraíso do aquecimento central. E, por alguma razão, os ingleses conseguem ter uma camada de protecção que lhes permite andar de t-shirt e minissaia na rua. Frio é uma palavra proibida nesta ilha. Se calhar também lá chegarei (à t-shirt, não à minissaia).
Nessa altura também sentirei, se calhar, saudades de Lisboa e passarei cada vez mais tempo nos cafés portugueses a discutir o estado do país e a comprar chouriços. Por exemplo no muito português café “Tino”, em Camden, onde a saudade do país é um eterno prato do dia, quer seja ao som do Manuel Luís Goucha ou do relato do Benfica-Sporting de hoje. Entra-se neste café e a rua londrina e o vendedor paquistanês desaparecem instantaneamente, para serem substituídos pelas Nova Gente, as Super Bock e as conversas dos reformados sobre a vida de cá e de lá. Estranha forma de vida de muitos destes portugueses, que passaram décadas a trabalhar e a poupar no estrangeiro e a sonhar com o regresso ao país. Quando se reformam, muitos deles mantêm-se por cá. Por hábito, saudades da vida de cá ou porque não querem sentir frio no Inverno?
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