Não vivas no Reino Unido! Foi este o título de uma notícia (com alguns meses, é certo) que me acordou hoje. Voltei instantaneamente a ser infeliz.
Afinal descobri que vivo num país em que as famílias apenas auferem, em média, um rendimento líquido anual de cerca de 43 mil € por ano e os trabalhadores apenas têm direito a 28 dias de férias anuais – o que, comparado com os 36 dias dos franceses, deixa efectivamente muito a desejar. Também se referem os elevados preços da comida, da bebida, da gasolina e dos cigarros (o que é verdade), bem como o facto de os gastos em matéria de saúde e educação serem menores que a média europeia (o que é triste). E, claro, há o sol. Ou a falta dele. Pois parece que tudo acaba e começa no sol.
Já quando vivia na Alemanha perguntavam-me muitas vezes o que me terá passado pela cabeça para virar as costas ao sol português e passar a construir bonecos de neve. Cada vez que vestem os gorros e as luvas, metade dos alemães lembram-se das duas semanas no Sul da Europa e chamam nomes ao São Pedro ou ao seu homólogo. A seguir, sonham com uma vida num país tropical. Em que se ganha um ordenado norte-europeu, claro, e há um sistema burocrático que é nosso amigo.
Tentei explicar que o sol apenas não me permitia ter um estilo de vida tão descontraído. Descontraído não apenas por ter um ordenado justo, mas porque se tem de lutar bastante menos no dia-a-dia. Porque em geral as instituições funcionam. Porque se dá valor à iniciativa e ao pensamento autónomo e há um espírito de comunidade que se sobrepõe aos interesses individuais. Acho que nunca consegui convencer ninguém.
Mas gostei muito de voltar para Portugal, onde há tanto potencial ao virar de muitas esquinas. Já na altura, em 2006, se viviam sintomas de crise no país e fui cumprimentado com alguma incredulidade e muitas queixas sobre a situação. “É melhor saíres enquanto vais a tempo”. Não saí e gostei de não sair, apesar do “isto está mau” que se ouvia em todos os cantos. E não foi só por causa do sol. Mas voltei a reparar que também aqui se queria viver noutro país. Há sempre um outro lugar onde podemos ser mais felizes, o "lá fora" torna-se uma quimera. O círculo voltava a fechar-se.
Agora os estudos dizem-me que vivo num país infeliz. Ponto. Apesar de eu achar que há muitos outros factores a influenciar a felicidade num determinado local, a começar pelo pequeno pormenor da satisfação pessoal e profissional. Se calhar deveria emigrar. Ou deixar de acreditar em estudos sobre a felicidade.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.