Comprei uma madeira três nova. Linda, a bichinha. Conto os minutos até ao próximo fim de semana. A partir de agora, saia bem o drive, e não há green de par cinco a que não chegue à segunda pancada. Vou dar descanso ao drive em muito par quatro. Pensando melhor, até sou capaz de arrumar esse cabeçudo que ultimamente só me tem dado desgostos.
Agora é que vai ser. Acabaram-se os tops miseráveis, os hooks vesgos, os slices tipo carro em aqua-planning. Basta tocar nesta maravilha para perceber que, com este balanço, o meu swing vai ter um ritmo que faria o João Gilberto morrer de inveja.
Não, não me venham com conversas cínicas. Não me recordem o dia em que me deram a pista de carros Scarletix, aquela que passados dois dias já tinha sido atirada para o armário dos brinquedos velhos e ficou a descansar em paz com o Action Man legionário e o capacete do Vickie. Não vale a pena lembrarem-me do dia em que levei os meus ténis Sanjo (botas, atenção) pela primeira vez à escola, os que fariam as raparigas suspirar por mim, e que, numa semana, se tornaram apenas mais um par de ténis rotos. Da mota, do carro, do computador portátil, do DVD e de todas as coisas que iam dar uma nova dimensão às nossas corriqueiras vidas. Do novo emprego ou do novo negócio, que se tornou rotineiro como todos os empregos e negócios.
Vivemos na ilusão da mudança, de que um objecto ou uma decisão mude radicalmente a nossa vida ou até nos mude como pessoas. E apesar de no fundo, no fundo, sabermos que no essencial nada muda, não conseguimos deixar de sentir um frémito, uma pequena esperança de que aquela madeira três nos faça baixar o handicap, que aquele livro faça de nós um homem novo, que aquele emprego nos realize absolutamente.
Pode ser que não possamos viver sem essa ilusão, que seja isso o que nos faz levantar todos os dias com a esperança de que nos conseguimos mudar ou alterar significativamente o mundo à nossa volta.
Eu não tenho dúvidas: a partir de Sábado começa a minha contagem descendente para o Seniors Tour. Treme Fred Couples.
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