Nesta parte do mundo a onda estava a crescer. Creio que noutras também. E tantas ondas juntas só podiam acabar em milagre. O Pedro Marques Lopes havia falado da rapaziada num texto sobre um jogador da bola. O Bernardo Rodrigues postara em território facebookiano um vivido post sobre um concerto dos psicadélicos moços. Uma espécie de solo agradecido do crente musical que nos transporta de imediato, e como raras vezes acontece, para um instante de comunhão maior:
"...omens graúdos choram como crianças. grupos de gente que nunca se viu na vida salta e canta abraçada. o rei monkey fuma, domina e canta à nossa frente sempre no tom e demonstra entre dois gingares, como se inscreve na história do roquenrole a definição do cool e do eterno. o espírito etéreo de uma geração. ao lado, o representante na terra de sua alteza incólume sr. mefistófeles trata de escangalhar com a guitarra a ultima das ligações seguras à realidade que nos restava. ao longo da noite são passados pelo crivo dos decibéis e do suor e da dança e das substancias que se tomou, os dois álbuns, os lados b, os singles únicos. o camandro.
à laia de desconfirmar improbabilidades latentes de perfeição, no dia a seguir, repetimos a celebração.
9 e 10 de dezembro de 1995, brixton academy londres. the stone roses".
Para rematar, o Luís Bettencourt desenhou e tocou ao vivo na semana passada uma versão "out of this world", como diz o António Sousa, do tema que abre o primeiro álbum - e que fará, se os santos o permitirem, parte da banda sonora de um filme por estrear. (E há mais bandas metidas ao barulho).
Agora, rezam as notícias de jornal, o gang está de volta. Se houver alguns fãs melancólicos e cépticos é de compreender. Nada de facilidades. A reunião não pode ser pelo guito. Tem de haver um sentido mais luminoso do que a contabilidade. E eu creio que existe. Se há reconciliaçao que faz sentido é a reconciliação de Ian Brown e John Squire. Não para uma jornada nostálgica - que também merece o seu espaço. Mas para uma celebração, para acrescentar nova beleza ao mundo. Flores e isso. Quem sabe, para nova filharada discográfica - que o segundo álbum da banda teve demasiado ruído de fundo. Ainda por cima, existe um lado bonito no gesto de reaproximação: tudo começou a acontecer no funeral da mãe de um dos membros da banda, Mani. Depois de década e meia de desavença, eis que a guitarra saltitante - aquela que ouvi e vi num teledisco de "Elephant Stone", passado num "Rock in the UK" sintonizado por uma parabólica - volta a fazer promessas ao palcos. E, quem sabe, às canções. Parece uma notícia do "Inimigo Público", do "Onion". Ou um sopro de vida adolescente com dedo divino. Como profetizava o Vasco Mendonça num comentário: "Acho que o Johnny Marr e o Morrissey também foram vistos juntos em Manchester". Estou com ele. Quero achar o mesmo.
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