Há dias que têm nome. Nomes bonitos e feios, presos a memórias ou que se estendem no presente. Para mim este dia em que vos escrevo, 27 de Setembro, será sempre um deles, terá sempre um nome, como outros terão. O dia de hoje chama-se evidentemente Leonor porque foi o dia em que a minha filha mais velha nasceu.
A paternidade é uma coisa dificil de explicar e ainda bem. Senão de que me teriam valido os excessivos miligramas de Lexotan consumidos naquelas escadas frias do Hospital de Santa Maria há catorze anos? Ou o suor, a ansiedade, a extrema alegria para a qual nunca irei estar preparado? O mesmo ou parecido iria acontecer duas vezes mais na minha vida, com mais duas criaturas a nascerem perante mim. Consegui-lo explicar de forma lógica e serena seria destruir um mistério que precisa existir e que só a sua vivência o explica.
Lembro-me vagamente desse dia que me introduziu a uma forma inexplicável de amor, que só achava possível em filmes ou literatura, apesar dos conselhos e experiências dos amigos e familiares. Lembro-me do Sérgio Coimbra me ter pedido um texto para O Independente a contar a minha aventura e ter ficado horas a olhar a página em branco, meio sorriso meio estupido. Lembro-me que o texto acabava comigo a segurar uma recém-nascida e a dizer que era tão bonita como a Claudia Schiffer.«Em roxo, mas a Claudia Schiffer», citando-me.
Este dia em que vos escrevo tem nome e olhar e presente e futuro. Este dia com nome serve-me para lembrar que todos os anos, por esta altura, também sou eu que nasço outra vez.
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