Não é, não é. Por mais que lhes aconteçam catástrofes e tragédias e tudo o que de mau podemos imaginar ninguém tem compaixão por eles (podia escrever por nós mas isto é uma crónica não um conto). Porquê? Porque são ricos. E aos ricos pode acontecer tudo - que nada há-de ser o suficiente para pagarem o pecado de serem ricos. Por isso estou com os ricos nesta altura difícil em que são novamente vilipendiados, agora por não serem taxados pelas suas grandes fortunas (algo que acho errado mas não é esse o tema). Ser rico é das coisas mais difíceis que se pode ser. É verdade. Ninguém leva a sério um rico doente. A doença do rico é um capricho. Ou então o resultado de negligência do próprio. Se é rico porque é que não foi a um grande especialista mundial tratar do assunto? Ou um rico triste. Um rico triste é, aos olhos do mundo, um contra-senso inaceitável. E existem, sabemo-lo, tantos ricos tristes para aí.
Há poucas figuras mais trágicas do que os ricos velhos (dizia e bem Jacques Brel: os velhos, mesmo os ricos, são pobres). Rodeados de gente que tudo vai herdar - e muitas vezes demasiado concentrada nisso. Ou então, noutros casos, sozinhos nos seus casarões, recordando aquilo que foram e não podem ser porque as pernas já não deixam. Alguns andam pelos lares caros. Sem que ninguém os vá ver. Olhados de lado - nos seus anos de viço foram "uns priviegiados, tinham criadagem e o raio!". O ressentimento contra a riqueza alheia é uma das realidades mais difíceis de esconder. Salta. Vem sempre à baila. Permanece mesmo em relação aos ex-ricos, das figuras mais terríveis que a vida pode conhecer. Não são pessoas para serem respeitadas. Amadas. Mimadas. Tiveram tudo na mão e deixaram cair. Nem jeito para serem ricos têm.
É aqui que queria chegar: os ricos, por muito "guito" que tenham, são, também eles, para usar uma certa terminologia, excluídos da sociedade. Tal como os pobres, não fazem parte. Quer num caso quer noutro as pessoas só lhes ligam para os culpar da situação. Devia também haver um neo-realismo para eles - sim, têm sido menos descritos e pouco rigorosamente contados porque mesmo os escritores pintam muitas vezes o mundo a preto e branco. Estão fora da sociedade e vão estar, nestes dias de rankings, cada vez mais fora, isolados nos seus pódios douradamente vazios. Digo-vos: eu não queria ser rico. Nem que me pagassem.
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