Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013

Autores do Condomínio

Está em cena até ao dia 10 de Fevereiro. Sou o autor do texto. Para a folha de sala escrevi sobre o processo de trabalho, comandado pelo João Mota (que foi quem teve a ideia), e como fui chegando a algumas soluções. Sem pormenores. Aproveito para aqui sublinhar as referências literárias que são citadas - e, na maior parte das vezes, confrontadas pelos personagens.

Além da "Bíblia", essa eterna referência, na peça são convocados os seguintes autores e livros:

Albert Cossery, “Mendigos e Altivos”.

António Bento e Elias Barreto, “Sem Amor Sem Abrigo”.

António Gancho, “O Ar da Manhã” e entrevistas dadas pelo autor, incluídas no livro “Os Maníacos de Qualidade”, de Joana Amaral Dias.

Bashô, “O Gosto Solitário do Orvalho”.

David Foster Wallace, “This is Water”.

Dalai Lama, “O Caminho da Serenidade”.

E.M. Cioran, “Do Inconveniente de Ter Nascido”.

Fiódor Dostoiévski, “Noites Brancas”.

Jack London, “O Vagabundo”.

L. Moulin, “L’Europa a Tavola” (citado no livro “A Caridade Dá que Fazer”, de Luciano Manicardi).

Manuel Beça Múrias, “O Salazar Nunca Mais Morre”.

Máximo Gorki, “O Vagabundo Filósofo” e “Albergue Nocturno”.

Paul Auster, “No País das Últimas Coisas”.

Salman Rushdie, “Fúria”.

Samuel Beckett, “Molloy” .

Tahar Ben Jelloun, “O Albergue dos Pobres”.

 

Lanço glosas breves sobre algumas escolhas  - para acender alguma luz sobre as sombras do espectáculo.

O livro de António Bento e Elias Barreto, psiquiatra e psicólogo, foi um ponto de partida importante na investigação. Fala em situações-tipo das pessoas que estão na rua (os clichés que não podemos recusar). Existem de facto muitos esquizofrénicos e alcoólicos na rua. Outro tópico importante incluído nesse livro é a conclusão de que os sem-abrigo não são amados nem conseguem amar, dada a desestruturação afectiva que os marca. Também aprendi que há muitos sem-abrigo ao lado de antigos locais de trabalho. E que muitos dos sem-abrigo da Estação do Oriente são oriundos do Norte do país e muitos dos que estão no Terreiro do Paço são do Sul. Mantêm um fio geográfico de ligação ao lugar de onde chegaram.

Albert Cossery foi um autor que muito li e me marca. É convocado aqui para levar pancada - como só se faz com aquilo de que se gosta muito. A ideia de uma mendicidade aristocrata, que ele conheceu nas ruas do Cairo, entra em confronto com um condomínio apodrecido, sem essa possibilidade de elevação. David Foster Wallace aparece em versão compassiva. A certa altura, a personagem que invade o espaço, vinda do planeta dos likes, cita uma passagem da conferência dos peixinhos de Wallace, em que o autor apela, sem entusiasmos místicos, ao interesse quotidiano e "pouco excitante" no outro, longe das proclamações abstractas que enchem as paredes da cidade e os murais do Facebook. Cioran é outro autor muito cá de casa e cumpre de passagem uma ideia que me ocorreu há uns tempos: e se tivesse o romeno como vizinho? Beckett é citado por uma personagem que diz que quando era pequeno se fartava de chupar pedras (como Molloy). Ao livro de Manuel Beça Múrias com as cartas para a mulher escritas em Angola, durante a guerra colonial, fui buscar uma história que o meu amigo Pedro, filho, me contou: a história da captura pelo exército português de um miúdo negro nas matas angolanas - miúdo esse que hoje é fotógrafo. As palavras escandalosamente purificadas e esperançosas de Dalai Lama surgem como uma espécie de água cristalina a atravessar aquele lodo existencial. Os outros autores e as suas frases surgem para falar da atracção literária e intelectual que existe pela liberdade da condição de sem-abrigo - e normalmente são decepadas pelo humor ácido e sem esperança de quem ali vive.

Deixo para o fim uma, central, que pode passar despercebida aos espectadores. É a espécie de homenagem (embora não goste da palavra) que é feita ao poeta António Gancho, que morreu na Casa de Saúde do Telhal (esteve lá internado durante 38 anos) e deixou pelo menos um livro maior: "O Ar da Manhã". A personagem interpretada por João Grosso (um esquizofrénico, tal como Gancho) foi das mais difíceis de construir. Tem várias fontes. Uma delas é o poeta. Parte de fichas clínicas para se transformar em discurso ficcionado. A dado passo desagua numa entrevista que Gancho deu, em que afirmou ser mil escritores, de Camões a Michaux, e disse que uma das suas maiores desilusões foi uma tia não lhe ter passado a chave da casa de família em Évora, onde nasceu e cresceu. A ideia de ser confrontado em entrevista com o poema "O Ano Mundial da Paz",  da sua autoria, é delírio ficcional. Pareceu-me que este poema de sentido ecuménico cabia bem na divisão sentida pela personagem entre as figuras de Cristo e Barrabás.

 

 

 

O resto é teatro e o teatro é aquilo que deve ser: a sabotagem de todas as investigações.

publicado por Nuno Costa Santos às 23:59
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Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2013

A família ama Duvall

 

"Amamos Duvall" (FlorCaveira) é o disco que mais tem passado no leitor de CD's da carripana. Quando estou só ou com a família. Porque é uma jangada com animais sonoros para todas as idades, com melódicos - e ruidosos - rebuçados para as bocas de todas as gerações. Se calhar exagero um pouco - e é importante exagerar. Há cançonetas que se dão mais ao ouvido do adulto, como a inicial, "Atanásio contra o mundo", em que Tiago Cavaco repete versos que são o programa desta jornada: "Manda o teu Derrida para o inferno"ou "para quem se cansou de brincadeiras de miúdos/precisa de um sismo bem profundo/que realmente abale tudo". O resto é a comprovação prática desta tese corajosa (porque assumida), sem espaço para maiúfas de menino poseur e desconfiada das armadilhas do desconstrutivismo. Mesmo - e talvez sobretudo - na melancolia. "Na depressão nós amamos Duvall"  é o refrão do segundo tema, uma canção de auto-ajuda em modo dançante.

 

Outras preferências:  "Sirenata", música, essa sim, para miúdos e graúdos - o diálogo entre pai e filho em que se fala, entre outras coisas, de saliva, ouro, lata e António Variações; a irresistível e lenta "Rãs nos Aposentos de Reis", com uma letra que apetece cantar como quem entoa um novo hino à humildade; "Homens de Água", a faceta "canção pop perfeita" de Cavaco-Guillul, que faz exigir um concerto para breve onde possamos cantarolá-la em uníssono; "Casa com vista para da trincheiras", duros lembretes para os dias de apocalipse. 

 

(Nota de intervalo: aqui chegado começo a pensar que as minhas canções preferidas são quase todas as do disco. Bicho que é bicho faz escolhas. Vai ter de ser).

 

"Contigo sou sempre agradecido", com Samuel Úria, é a que levo para a ilha. Das melhores canções da temporada. Com uma samplada de Ratos do Porão, funcionando perfeitissimamente quando cruzada com os doces versos de gratidão ditos pelo cantor de serviço, é a música que todo o bom namorado deve enviar em mp3 (agora que já não há cassetes de amor) à sua amada, do dia ou de uma vida; "Estás casado com o Estado", asfixiante tema que, misteriosamente, dei por mim a cantar hoje de manhã ao pequeno-almoço; "Xungaria no Céu", o regresso aos temas que a família toda aprecia, não fosse ela  atravessada por um sample infantil (parecendo falar em "Pudim"); O rap "Alguém Perdeu o Ferrão" que é como quem diz o "refrão".

 

Mais setinhas em direcção ao céu: para os samples cinéfilos, tugas e americanos, bem semeados, para um difuso e importante sentimento de gratidão para com uns rapazes, também eles generosos, chamados Beastie Boys e ainda para a produção do disco, muitíssimo apurada, feita em parceria com João Eleutério. Parabéns, Cavaco!

publicado por Nuno Costa Santos às 15:14
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Sexta-feira, 27 de Julho de 2012

A Minha Rua é o Céu

(Para os meus filhos)


Um dia, antes de adormecer, Ivo perguntou à mãe:

- Mãe, o que é que acontece às pessoas quando morrem?

A mãe ficou calada, sem saber o que responder. Era a primeira vez que o filho lhe fazia uma pergunta tão difícil. Quase tão difícil como aquela: - Mãe, o que é maior: o amor ou o espaço? Ou aqueloutra:- Mãe, se eu um dia mandar no mundo tu vais continuar a mandar em mim?

Resolveu responder-lhe com uma resposta que já a sua mãe lhe costumava dar:

- Vão para o céu.

- Pró céu? Aquele céu?

Antes que o Ivo fizesse mais perguntas difíceis, a mãe deu-lhe um beijinho e desligou a luz do candeeiro.

Ivo tentou adormecer. Primeiro contou ovelhas, depois contou cabras, bodes, depois esquilos, raposas, cavalos-marinhos, lulas gigantes, primos, tios e tortas de limão. Depois começou a imaginar as pessoas que conhecia todas no céu. E, no meio dos pensamentos, arranjou mais uma pergunta para fazer à mãe:

- As estrelas são as pessoas mais importantes que já morreram?

Continuava a não conseguir adormecer. Achava que era por ter ficado pouco satisfeito com a resposta da mãe.

Só pensava: - As pessoas, quando morrem, vão para o céu? E como é que as pessoas vão para o céu? Há uma carrinha da escola que vem buscar as pessoas para levá-las para lá?

No outro dia de manhã, ao pequeno-almoço, enquanto comia os cereais, Ivo voltou a fazer as mesmas perguntas à mãe.

- Mãe, mas como é que nós vamos para o céu?

A mãe estava distraída a barrar a sua torrada de manteiga.

- Ó filho, as pessoas vão para o céu…pelo ar.

- Pelo ar?

Ivo ficou calado. E depois perguntou.

- Mas então qual é a diferença entre morrer e ficar apaixonado?

- Não percebo a pergunta, Ivo – disse a mãe.

- Tu uma vez disseste-me que as pessoas voavam quando estavam apaixonadas…

A mãe riu-se e disse para Ivo se despachar a comer porque já estava atrasado para a escola.

Ivo não ficou convencido. E durante todo o dia continuou a pensar no assunto. Já tinha tido respostas para o tipo de perguntas. Por que é que os cães abanam o rabo? Por que é os seus olhos era verdes? Por que é que a professora na escola estava sempre a espirrar? Porque é que a sua equipa perdia sempre? Mas a resposta para esta última pergunta estava a demorar a entender. E era uma pergunta tão importante…

À noite, antes de adormecer, Ivo voltou a perguntar.

- Ó mãe, se as pessoas vão todas para o céu o céu deve ser um sítio muito cheio. É assim tipo a casa da avó Matilde no Verão quando os primos se juntam todos?!

- Mais ou menos, Ivo.

- Já sei: o céu é como a loja do senhor Armando quando está em saldos!

- Mais ou menos, filho. Agora dorme que amanhã tens de acordar cedo para ir para a escola.

Mal acabou de falar a mãe apagou a luz do candeeiro e foi para a sala ver um pouco de televisão. Ivo ficou de olhos abertos no escuro. Só se perguntava:

- O que é que minha mãe quis dizer com ‘mais ou menos’?

Continuava sem conseguir adormecer quando pensou:

- Já sei! Vou perguntar ao Senhor Lulito!

Ivo chamava sempre o Senhor Lulito quando tinha dúvidas importantes.

O Senhor Lulito era um conselheiro mágico. Uma espécie de fada que vestia fato e gravata.

- Olá, eu sou o Senhor Lulito e sou muito maluquito! Era assim que o Senhor Lulito se apresentava sempre que aparecia.

- Olá, Senhor Lulito! Estou com uma dúvida grande.

O Senhor Lulito, que já sabia qual era dúvida de Ivo, ficou muito sério. Ficava assim quando tinha respostas importantes para dar. Pensou, pensou e pensou e por fim disse:

- Vem daí. Eu vou mostrar-te o céu! Deu um piparote, mesmo à Senhor Lulito, pegou na mão de Ivo e levou-o pela janela. Voaram os dois pelo céu, entre as nuvens. A certa altura o Senhor Lulito disse ao rapaz.

- Este é um dos céus, Ivo. Mas há outros. Ivo ficou surpreendido ao perceber que o Senhor Lulito o levava de regresso à Terra. Fora os dois pelo mundo e o Senhor Lulito mostrou a Ivo pessoas e lugares que o David não conhecia – ele que vivia num sítio cada vez mais confuso e cheio de barulho. Mostrou-lhe jardins bem arranjados e cuidados não só por jardineiros mas por todas as pessoas, novas e velhas. Bairros onde os vizinhos se cumprimentam e ajudam uns aos outros, sobretudo os que mais necessitam. Prédios e pátios onde toda a gente pode deixar um desenho, um poema, uma história bonita.

-É para aqui que vamos quando morrermos.

Ivo ficou meio estranhado com a resposta.

- Para aqui?

- Sim, para aqui. Ivo, isto também é o céu. O céu é o melhor de nós. Aquilo que deixamos cá na terra quando morremos.

Ivo ficou de boca aberta com a resposta do Senhor Lulito, que ainda disse mais uma coisa:

- O céu é a tua rua se cuidares dela.

Pensou um bocadinho e no fim sorriu ao perceber um bocadinho o que ele queria dizer. No dia seguinte Ivo levantou-se um pouco mais cedo do que era costume. Foi até à janela e começou a pensar como é que podia cuidar da sua rua. Já tinha reparado que era uma rua um pouco suja e onde as pessoas não falavam umas com as outras. A primeira coisa que fez foi ir à cozinha buscar uma vassoura da mãe. Depois foi para rua e começou a limpá-la. Aos poucos, as pessoas que passavam por ele começaram a imitá-lo. Acharam injusto que fosse só Ivo a limpar o lixo que toda a gente tinha feito. Até a Dona Resmungona, que costumava deixar os sacos do lixo à porta, foi ajudar o Ivo a varrer a rua. Só faltava pôr as pessoas à conversa.

- Como é que se faz isso? – perguntou-se o Ivo, sozinho no meio da rua. Teve então uma ideia: atrasar os relógios de toda a gente. Assim as pessoas, ao perceberem que o relógio não estava com a hora certa, começaram a perguntar as horas umas às outras.

Ivo ficou contente. Mas achou que ainda podia fazer mais. Encostou-se ao muro e fez de mensageiro da rua. Começou por se meter com a Dona Júlia.

- Olhe, sabia que o Senhor António acabou de cumprimentá-la?

- A mim?

- Sim, sim.

- Mas ele nunca me cumprimentou!

- É a primeira vez. Se calhar era bom dar-lhe o bom dia também.

- Bom dia, Senhor António!

- Bom dia, Dona Márcia!

Fez isso com todos os seus vizinhos, que começaram todos a cumprimentarem-se como se já se conhecessem há muito tempo.

Quando voltou para casa, Ivo ligou à avó que vivia numa casa sozinha a muitos quilómetros de distância dali.

- Olá avó, tenho saudades tuas!

À noite, quando estavam os dois a ver televisão, foi buscar uma manta para cobrir as pernas da mãe. A mãe estava tão concentrada a ver um programa que nem reparou. Antes de adormecer, Ivo disse à mãe.

- Ó mãe…

A mãe ficou um pouco preocupada. Pensou que vinha aí mais uma pergunta difícil.

- Ó mãe, acho que já sei a resposta àquela pergunta. Quando morrermos nós vamos para a nossa rua.

A mãe ficou espantada com a frase do filho e passou-lhe a mão pela cabeça.

publicado por Nuno Costa Santos às 21:11
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Sexta-feira, 6 de Julho de 2012

A Nuvem e a Baleia

 

 

(Para os meus filhos)

 

Era uma vez uma nuvem que estava farta de viver no céu. E era uma vez uma baleia que estava cansada de viver no mar.

Combinaram por telemóvel trocar de casa: a baleia ia viver para o céu e a nuvem ia viver para o mar.

Foi um momento muito engraçado. Quando a baleia chegou ao céu todas as nuvens ficaram muito espantadas.

- Uma baleia no céu? Será que aguenta?

A baleia estava um pouco envergonhada e corou, o que tornou a situação ainda mais divertida.

Quando a nuvem deu o primeiro mergulho os peixes assustaram-se muito.

Para não darem muito nas vistas tiveram uma ideia: a baleia mascarou-se de nuvem e a nuvem disfarçou-se de baleia. Assim passavam mais despercebidas.

O tempo foi passando e cada uma foi tirando conclusões sobre a sua nova vida. Quer uma quer outra tinham feito amigos mas a baleia estava um pouco farta do vento que a levava pelos ares e a nuvem sofria muito com os remoinhos que agitavam os mares e as correntes.

Aos poucos começaram a sentir saudades das suas antigas casas e resolver ligar uma à outra para combinar voltarem para lá.

Viveram momentos felizes mas, um ano depois, a baleia começou a sentir saudades dos tempos em que vivia no céu e a nuvem começou a sentir saudades dos tempos em que vivia no mar (e era chamada de Baleia Nuvem).

Decidiram então que voltariam a trocar de casa mas apenas nas férias e que desta vez não iriam sozinhas.

Assim foi: a família de baleias foi viver para o céu e a família de nuvens para o mar.

E viveram trocadas para sempre.

 

publicado por Nuno Costa Santos às 23:17
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Sábado, 30 de Junho de 2012

É só um jogo

De vez em quando aparece um chato a dizer: "Não te chateies tanto. É só um jogo". É só um jogo. Como se os jogos de bola, da nossa equipa de bairro ou da selecção do nosso país, fossem menos importantes do que as coisas sérias, "essas sim valiosas e válidas". É só um jogo, sim. Mas a vida é jogo também. A vida, como diz o Calderon, é sonho. E, já agora, convém ter asas nos pés, como lembram às crianças os Clã, falando também aos pais das crianças. Se alguém me vier outra vez com essa conversa, vou perguntar: já estiveste apaixonado? E se a pessoa disser que sim, com aquele ar de quem faz ballet de nuvem em nuvem, direi, ternamente ressentido: "Não percebo essa cara. É só o amor".  É só o coração. É só a emoção. É só tudo aquilo que nos eleva, às vezes perigosamente, como tudo o que é arriscado. Mas viver faz demasiadas vezes aquela vez em que experimentámos pela primeira vez a montanha russa: a partir do momento em que entramos, por mais gritos que se dê, já não há volta atrás.

 

É só um jogo. Um pouco como toda a vida. Tudo isso para dizer que foi bonito ver as pessoas apaixonadas pela selecção e pelos jogos da selecção. Antes das partidas era um tónico dar uma voltinha: andávamos todos, das oficinas aos bancos, a apostar que íamos ganhar, que íamos fazer isto e aquilo, que o Nani ia ter o seu momento, que o Ronaldo ia fintar todos, que o Coentrão ia entrar pela baliza dos outros. E o que é isso? É sonho. Um sonho que se transformou, felizmente, em tristeza quando acabou. Só quando dormimos mal depois da jogatana da derrota e passámos o dia seguinte a lamuriar o fim da jornada é que percebemos o tamanho gigantesco e imoderado do nosso sonho, da nossa ilusão. Foi bom sonhar, pá. Que nunca nos faltem motivos para o voo.

 

publicado por Nuno Costa Santos às 12:02
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2012

A falsa questão do amiguismo

A vida artística portuguesa tem sido assombrada pela ideia de amiguismo. É uma das críticas que se faz a alguma crítica - a de que só escreve bem deste ou daquele por amizade, não pela qualidade das obras. Hoje, na blogolândia, é mui frequente registarem-se declarações de interesses do género: "Eu não vou dizer isto por amizade mas acho que o livro do Anaximandro é do caraças". Eu não vou dizer isto por amizade mas o sacana do livro é bom. E quem diz o livro diz o disco, a peça, a exposição de pintura, a performance, o artigo de jornal. Como se sem essa nota a observação perdesse força e relevância. E como se com ela se iluminasse como um astro flamejante.

 

Se calhar até há alguma rapaziada que escreve, como se diz, na base da amizade. Na vontade - por vezes inconsciente - de promover os amigos (e haverá algo mais ingenuamente belo do que desejar promover os amigos?). Mas confesso que tenho dificuldades em embarcar neste delírio moralista do "amiguismo". Até porque é um critério perigoso. Necessita que, antes de mais, se faça a pergunta: o que é ser amigo de alguém? E outra: será que quando gostamos muito de um determinado autor não nos tornamos amigos dele? Ou seja: não lhes desculpamos os erros e os tiros ao lado e não queremos falar bem dele a toda a gente? Confesso: seguindo este último critério (que, na minha qualidade de bicho afectivo, adopto frequentes vezes), sou um grande amigo do Vila-Matas, do Robert Smith e da Agnès Varda. Gente com quem nunca tomei uma imperial ao balcão da Portugália.

 

Esta intifada contra o amiguismo pressupõe um equívoco maior: a ideia de separar os afectos daquilo que se consome artisticamente. A ideia de absolutização da "emoção estética pura" que não se transporta para as razões do coração de todos os dias. É um fundamentalismo como outro qualquer, que merece compaixão (um riso ternurento, sim). Se nos dermos ao trabalho de pesquisar um pouco, perceberemos mesmo que é um exagero quase patológico,  excluindo uma tradição muito praticada nalguns dos ditos países mais civilizados do mundo (o que é isso?), com a imagem de crítica independente e séria (o que é isso?),  em que escritores escrevem sobre amigos escritores, artistas plásticos escrevem sobre amigos artistas plásticos e por aí adiante. Por quê? Por cumplicidade geracional, por generosidade de querer espreitar de forma mais fundamentada o trabalho do companheiro de tertúlias e copos. Porque sim. E sobretudo porque muitos desses exercícios ficam, pelo seu rasgo e qualidade, para a História (mais do que aquelas notas burocráticas das "recensões").

 

Penso que o amiguismo está longe de ser a questão fundamental da crítica. Há outras bem piores, como o unanimismo. A falta de coragem de arriscar observações artisticamente incorrectas. O ressentimento. O preconceito fácil, do género "eu só vou falar bem disto porque convém falar bem disto", o "eu vou falar mal disto porque convém falar mal disto". Sobre estas maleitas, se quiserem, podemos falar um dia.

publicado por Nuno Costa Santos às 09:40
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Sexta-feira, 25 de Maio de 2012

O menu da amizade

Tolero tudo nos meus amigos – até as suas virtudes. Não são os defeitos que, numa primeira fase, encanitam o espírito. Com as sombras de cada um podemos nós bem – e até, metaforicamente falando, protegem de exposições solares excessivas e outros deslumbramentos de ocasião. O problema, a existir, está no brilho da rapaziada, na forma como consegue transcender-se. Ou por outra: ser amigo de alguém é começar por aceitá-lo não com todos os seus defeitos, como se costuma dizer nas esquinas, mas com todos os seus dons e qualidades. Esses é que nos fragilizam e nos fazem equacionar as nossas imperfeiçõezinhas, as nossas lacunas humanas e existenciais, as nossas limitações. Tudo aquilo que gostaríamos de ser e, por inimizade dos deuses, não somos.

 

O Vítor é o maior nos discursos da junta. O Mário é o rei do SMS romântico-sentimental. A Júlia é, sem esforço, uma cozinheira de bacalhau à Braz de mão cheia. O Arlindo é um discretíssimo e digníssimo voluntário, capaz de inventar tempo livre para fazer companhia aos velhos e distribuir alimentos e brinquedos aos novos. O Zé Carlos tem requinte gastronómico. A Marta, mesmo que a tratem mal no café e na repartição, não conhece o ressentimento. O Rui é um tipo porreiro. Tudo isso chateia um pouco, eu sei. Gostávamos de ser nós a exibir os atributos. Por isso calamo-los. Normalmente elogiamos nos amigos as qualidades que não nos podem perturbar. Aquelas que perturbam, silenciamos. É preciso aceitá-las, digo eu, e difundi-las depois numa aparelhagem de alta fidelidade. Como quem aceita que o mundo parecer ter uma noção muito sua e própria do que é a justiça. O que não é verdade. Existe é apenas a ilusão, no instante em que vislumbramos o lado do bom dos outros, de o nosso se ter eclipsado. Mas ele está lá - está, sim senhor. Passada a inveja ternurenta que se tem pelos amigos, as virtudes alheias não são para engolir de uma vez - são para degustar.

 

É essa a coisa boa de ter amigos muito diferentes, com vocações bem diversas: poder fazer das suas virtudes um menu de degustação (não confundir com o menu de desgostação, que tem a ver com os sucessivos desgostos que inevitavelmente vamos experienciando nas relações ao longo da vidinha). Provamos um bocadinho daqui, um bocadinho dali, e, pouco a pouco, tornamo-nos seres menos vagos e centrados em nós próprios - mais completos e capazes. Um amigo culto, por exemplo, esse clássico. Pessoa lembrou algures, numa nota algo interesseira, que a cultura de um indivíduo está dependente da cultura daqueles com quem se dá. Começamos por invejar a cultura literária de um amigo mas depois aceitamos receber lições de literatura russa às quatro da manhã nos seus aposentos, enquanto nos afundamos no sofá e ele se entusiasma com o whiskie.

 

Aterrados que estamos nas bebidas, aproveite-se para dizer que às vezes as virtudes dos amigos são muito pouco óbvias, um pouco como os recônditos sabores de alguns néctares. Digamo-lo sem comparações: todos nós temos amigos insuportáveis. Insuportáveis para o comum dos mortais, claro. E, sabemo-lo, um amigo é o incomum dos mortais. O que obriga a um esforço quase santo de atenção, de procura e de, virtude das virtudes, paciência. Que vale sempre a pena, reconheça-se. Pode parecer uma metáfora barata, a puxar à ocasião, mas faz todo o sentido: saber usufruir as virtudes de um amigo é como saber provar um vinho superior, daqueles com sabores menos óbvios, só detectáveis pelas provas persistentes de um especialista. Mesmo um amigo muito defeituoso (à primeira vista um autêntico carrascão) poderá ter virtudes escondidas, possivelmente só detectáveis ao fim de algum tempo de convívio e regabofe. Sim, diz com razão o lugar-comum que a amizade é como um bom vinho. Mas não é só por causa do factor tempo que isso acontece - também é por causa da forma como se usa esse factor tempo. Desta possibilidade de fazer a pesquisa, nos guichets e arquivos das almas, daquilo que as relações superficiais nunca podem topar.

 

Há, sim, há verdadeiros enólogos da amizade, João Paulos Martins do companheirismo – e é para esse estatuto que, permitam-me a normatividade, se deve caminhar. São aqueles que conseguem passar a zona da resistência e do medo em aceitar as virtudes dos amigos para depois irem, em cada investida, procurando o melhor dos outros e fazer questão de dizê-lo – cantando, dançando, sapateando - a toda a gente. Eu aproveito o meu tempo de antena para dizer que o Luís, quando é bom, é muito bom. Que o João, além de ser um dos maiores escritores vivos, é capaz de ir ter sempre com um amigo em apuros, às quatro da manhã se for preciso. E que o André é dos maus feitios mais generosos do universo. E pronto, já chega. Já fiz o trabalhinho de casa. Para a próxima tento elogiar mais.

 

(Publicado no "Almanaque da Amizade e do Vinho")

publicado por Nuno Costa Santos às 18:51
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Sexta-feira, 11 de Maio de 2012

O Problema Está Nas Mangas

Acho que é o senhor Albert Camus (sim, esse) que tem um conto em que um homem isolado escreve, na solidão do seu quarto, uma inscrição que não se percebe se é “solitário” ou “solidário”. Não tenho a certeza. Mas se é só lhe fica bem ter tido essa ideia no papel. Porque de facto muitas vezes as condições tocam-se. Há muito bom solidário solitário. Há muito boa solidão que se quer dar aos outros, que se quer abrir ao mundo. Só não percebeu como. Até porque os dias não estão para isso. Os dias não estão para gestos largos, generosos, maiores. Não falo apenas da falta de condições financeiras para ajudar quem precisa (tanta gente, caramba!). Falo do cinismo que se instalou e que é, para citar o economês de esquina, um verdadeiro programa de desincentivo ao investimento de quem descer à rua e começar a perceber quem os são os vulneráveis do bairro. Dos mais velhos aos mais pobres.

 

Tornou-se ainda mais difícil tentar ser solidário num mundo que promove não só a solidão mas sobretudo o individualismo blasé. A boca de balcão. Ou de twittada. Tornámo-nos cínicos – e não daquele cinismo bem-humorado e elegante, que põe em causa só para chatear; daquele cinismo que seca - e se calhar ainda não percebemos que essa é a maior doença deste tempo. Os centros de saúde espalhados pelo país deviam ter consultas para acabar com este cinismo, com esta patologia que questiona cada gesto de amor, cada tentativa, que mata quem tenta e se esforça. “Foste ajudar aquela senhora a atravessar a rua? Isso é porque te queres sentir melhor!”. Estão a perceber o que digo? A especialidade da casa – esta casa que habitamos chamada mundo - tornou-se a problematização. Nisso ninguém nos bate: somos muita bons a problematizar. E nisso, repito, não há solidariedade como a nossa. Estamos sempre prontos a ajudar quem tomou a decisão de arregaçar a manga para ajudar quem precisa. Ajudar a quê? A fornecer-lhe problemas à cachimónia, a dizer-lhe para se deixar de coisas, a voltar para casa, a parar, a regressar à condição de ser autocentrado, sem disponibilidade para outros umbigos, outras respirações. “Não te metas nisso, pá! Vais ajudar os pobrezinhos para quê? O Governo que trate do assunto. Só te vais meter em problemas. Eles ainda se vão virar contra ti. Tu não tens nem condições para te ajudar a ti próprio quanto mais para ajudar os outros”. E um tipo paralisa. Recua. Fica com dúvidas.

 

Sabemos que ser solitário é uma condição que nos cabe a todos pelo menos no essencial da vida. Crescemos, vivemos e morremos sozinhos, numa solidão que pode ser mais ou menos acompanhada e partilhada. Mas esse dado da existência não nos impede, como o outro (no caso, o homem do conto), de sermos solitariamente solidários, que é, em muitos casos, o máximo que podermos ser. Não se pense que esse gesto conta pouco. Conta muito. Acrescenta. Faz cada vez mais a diferença. Volto à imagem: comece-se por arregaçar as mangas em cada bairro, em cada prédio, em cada apartamento, em cada quarto, em cada coração. O resto logo se vê.

 

(crónica publicada no jornal que acompanhou a edição de 2012 do Lisboa Capital República Popular)

publicado por Nuno Costa Santos às 11:33
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2012

Morrer à míngua

Existe uma cultura generalizada de que não se deve pagar a cultura. E não, não falo apenas do Estado, do vilipendiado Estado nestes dias em que o premiado cinema português espera o apoio que está, muito troikianamente, a perder (e bem merece tê-lo, caramba! - dentro de um quadro mais justo, claro, e com composições de júri e opções mais equilibradas nos Olimpos cinéfilos). Falo também das pessoas - isso: os cidadãos - que querem demasiadas vezes ir ver espectáculos sem terem de pagar os míseros euros dos bilhetes. "Não se arranja um bilhete à borla?". Não. Não se arranja. Ou não se devia arranjar. Porque o bilhete muitas vezes até só custa três euros (há cada vez mais espectáculos a custarem isso) e, em vez de gastar os trocos no croissant com queijo e a meia de leite da manhã, é bom pagar aquilo que se vai ver, seja um espectáculo de teatro, um filme ou um festival de bandas alternativas. Porquê? Porque é justo pagá-lo. E por uma questão prática. Porque, se se assim não acontecer, deixa de existir palhaços. Ou performers. Ou actores. Ou realizadores. Ou técnicos de som e pós-produtores. Simples. Acabo de fazer um filme com meios mínimos e sei o que custa: temos sempre de andar a puxar a carroça e a entusiasmar os participantes - entre técnicos e criativos - de que vai valer a pena o esforço. Com frequência entre a meia-noite e as quatro e meia da manhã, que é quando eles, generosamente, arranjam um tempinho, fora dos horários de trabalho, para contribuirem para a causa. Basicamente não funciona. Ou funciona muito mal.

 

Muita da cultura custa dinheiro a fazer. E por isso deve ser paga. É esse o ponto, ou o meu ponto. E - admitamo-lo sem merdas - "a cultura" é um gesto essencial à nossa sobrevivência. Conheço pouca gente capaz de sobreviver sem arte, sem ouvir e ler histórias, sem se emocionar com a recriação das suas vidas - das luzes e sombras disto de andar vivo - que as várias modalidades artísticas (desculpem a pompa) permitem.

Fui ver o "Tabu" e encontrei a salas cheia e com uma reacção atenta e entusiasmada. E, meus queridos (falo para todos, até para mim próprio), os "tabus" pagam-se. Custam dinheiro. É preciso pagar ao pessoal para os fazer - desde aquele que teve a ideia inicial ao que fez os apuros finais, mesmo antes da entrega da primeira cópia para exibição. Não aparecem feitos. Se queremos continuar a vê-los é importante que se promova ideia - seja através do Estado, seja através dos privados, seja através dos espectadores - de que é decisivo pagá-los. Sem isso podemos morrer à míngua. De cultura. Que é uma forma particularmente indigna de morrer.

publicado por Nuno Costa Santos às 11:21
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Sexta-feira, 13 de Abril de 2012

História de um Filme

Todas as adolescências são musicais. Arrisquemos mais: as músicas que ouvimos na adolescência são as mais importantes das nossas vidas. Apareceram numa fase de definições identitárias várias e trazem consigo todos os “instantes decisivos”, de vivências fundamentais, em que foram ouvidas. Ao longo da vida adulta não são raros os momentos em que são recordadas e lembrados os sentimentos que as acompanhavam. Os sons trazem imagens – que se vão substituindo umas às outras – e assim, de forma espontânea, se vai editando a longa-metragem de um crescimento. Há quem prefira deixar a adolescência nesse país distante onde está, para não ter de remexer ora no tesouro que foi ora na caixinha de problemas que constituiu. O escriba que assina estas linhas (o que é apenas uma forma de evitar o totalitário “eu”) preferiu ir, quase 20 anos depois de o ter deixado, buscar esse “tempo sagrado” e tentar perceber que mudanças ocorreram no território que pisou nessa altura de todas as descobertas.

 

 

 

É aqui que entram as ilhas dos Açores. Ou, se quisermos ser mais rigorosos, uma ilha dos Açores, São Miguel. Foi esse o solo terrestre com vista para o mar que suportou o seu crescimento. Foi ai, nessa paisagem sem adjectivações possíveis, nesse ambiente ilhéu único, que cultivou imensas dúvidas e algumas certezas, no ambiente psicológico de investigação próprio da idade. Foi aí que partilhou com os amigos as experiências de criatividade e libertação que são transportadas, noutras circunstâncias, de forma naturalmente mais condicionada e normativa, pela vida fora. Como é que está a terra que deixei quando tinha 18 anos? Na altura de fazer as malas uma primeira pergunta foi logo colocada na bagagem. Interessava-me (sim, o melhor é assumir o controlo do avião) ir buscar a adolescência e aproveitar para perceber em que é que se transformou a ilha. Seguiam-se outras, decorrentes das primeiras: os locais onde cresci estão intactos – têm a mesma morfologia, o mesmo cheiro, a mesma poesia? As pessoas que lá estavam continuam no mesmo sítio? Estarei preparado para me confrontar com as rugas dos lugares e dos rostos? Pisamos aqui o terreno das emoções que todos os regressos suscitam: uma mistura entre curiosidade e apego. E a consciência de que muitas vezes é necessário vigiar a nostalgia, esse mar de conforto onde dá sempre jeito ao espírito banhar-se. Chegámos – nós, equipa de filmagem – à ilha de São Miguel nos finais de Setembro com a ideia de fazer um documentário ficcionado a partir de algumas ideias que tínhamos lançado em conversas várias.

 

Depois de um brainstorm numa casa junto à Lagoa das Furnas (oh privilégio!), alinhámos uma série de situações que queríamos gravar e fizemos um primeiro desenho da calendarização. Mas as pessoas com as quais nos fomos cruzando nas três semanas de rodagem tornaram esses planos iniciais apenas o ponto de partida para todo o tipo de surpresas. Cheguei, sim, à pista na qual queria aterrar: as pessoas, continuam a ser as pessoas a dar a volta ao mais programado dos textos. Hoje não sabemos se temos um documentário com momentos de ficção ou uma ficção com momentos documentais. Os abraços um a um ficarão para altura oportuna. Mas fica aqui já um agradecimento do tamanho do céu que estão a sobrevoar para quem – ora nos momentos de representação ora na interpretação de músicas ora em depoimento – também fez o exercício de ir procurar os seus discos perdidos. Agora quem diz discos perdidos também diz milagres encontrados. Até já, numa sala de cinema perto de si. A primeira exibição do filme "Noite de Festa" é amanhã, às 15h30, no Teatro Micaelense, integrada no Panazorean

 

O trailer é este:

 

 

 

 

(Publicado na revista da Sata)

publicado por Nuno Costa Santos às 23:28
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