Sábado, 30 de Junho de 2012

É só um jogo

De vez em quando aparece um chato a dizer: "Não te chateies tanto. É só um jogo". É só um jogo. Como se os jogos de bola, da nossa equipa de bairro ou da selecção do nosso país, fossem menos importantes do que as coisas sérias, "essas sim valiosas e válidas". É só um jogo, sim. Mas a vida é jogo também. A vida, como diz o Calderon, é sonho. E, já agora, convém ter asas nos pés, como lembram às crianças os Clã, falando também aos pais das crianças. Se alguém me vier outra vez com essa conversa, vou perguntar: já estiveste apaixonado? E se a pessoa disser que sim, com aquele ar de quem faz ballet de nuvem em nuvem, direi, ternamente ressentido: "Não percebo essa cara. É só o amor".  É só o coração. É só a emoção. É só tudo aquilo que nos eleva, às vezes perigosamente, como tudo o que é arriscado. Mas viver faz demasiadas vezes aquela vez em que experimentámos pela primeira vez a montanha russa: a partir do momento em que entramos, por mais gritos que se dê, já não há volta atrás.

 

É só um jogo. Um pouco como toda a vida. Tudo isso para dizer que foi bonito ver as pessoas apaixonadas pela selecção e pelos jogos da selecção. Antes das partidas era um tónico dar uma voltinha: andávamos todos, das oficinas aos bancos, a apostar que íamos ganhar, que íamos fazer isto e aquilo, que o Nani ia ter o seu momento, que o Ronaldo ia fintar todos, que o Coentrão ia entrar pela baliza dos outros. E o que é isso? É sonho. Um sonho que se transformou, felizmente, em tristeza quando acabou. Só quando dormimos mal depois da jogatana da derrota e passámos o dia seguinte a lamuriar o fim da jornada é que percebemos o tamanho gigantesco e imoderado do nosso sonho, da nossa ilusão. Foi bom sonhar, pá. Que nunca nos faltem motivos para o voo.

 

publicado por Nuno Costa Santos às 12:02
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Sexta-feira, 29 de Junho de 2012

O passado não é para ter presente

Afinal, em que ano é que estamos? Esqueçamos o que aprendemos com kant sobre o tempo. E já agora o espaço. O passado é uma realidade à parte. Com características próprias. Uma lógica distinta. O passado é revivalista. Avança à caranguejo. Dois passos ao lado até ao ano daquela namorada. Três atrás até ao nosso melhor ano no liceu, que coincidiu com a saída daquele disco e a exibição daquele filme. Quatro ainda mais atrás quando fomos pela primeira vez a….

 

Se em divagações letárgico-melancólicas fecharmos os olhos enquanto fazemos variar, debaixo dos dedos, as frequências radiofónicas, perdemos o norte temporal, hesitando no ano em que nos encontramos. 60, 70, 80 serão décadas privilegiadas.

O presente parece incómodo. O passado 2.0, em doulby surround, versão tecnicolor está aí. E leva preferência.

Regista-se um aumento exponencial de programas e estações vendendo barato a ilusão de que numa aparência Goodbye, Lenin!, tudo permaneceu igual enquanto envelhecíamos. O mesmo sucede com a televisão, internet e moda. E tudo o que se possa alimentar do “houve uma altura em que eu”.

 

Habituámo-nos a reler a nossa revista preferida extinta há um quarto de século e recuperada para a blogosfera. A rever episódios das nossas séries favoritas do tempo do VHS, no YouTube. A ouvir como novidades absolutas hits de um top ten de 1979 numa rádio a viver da nostalgia alheia.

Podemos estar facilmente em 20 de julho de 1969 e na eminência de fazermos, em directo, parte da audiência que escutará: That's one small step for man, one giant leap for mankind.

O passado não passa.

É um cão raivoso que nos agarra as pernas sem intenção de as deixar. A diferença é que voluntariamente lhas oferecemos, sem vontade de o ver largá-las. Porquê? Bem, o passado é apetitoso. Vende. Um tempo de heróis. Sebastiânico. De posters, colheita revista Bravo nº1568, na parede. Exagerado. Interpretado e reinterpretado por nós. Dificilmente corresponde à realidade. Uma jukebox recheada de sucessos. É um tempo não vivido. Aldrabado. Idealizado. De abundância. De leite e mel. Marcando só os dias que nos interessam. Tem pouco para não gostar.

 

Toda a gente tem fotografias com um grupo sorridente de indivíduos com ares de finalista e de quem precisa de um estômago novo em sítios como Lloret Del Mar ou equivalente.

Convivas entoando refrões I Just can´t get enough em êxtase king of the dance floor. Episódios guardados, surpreendentemente, com saudade. E essa é a razão por que a internet se transforma no equivalente a uma gigantesca sala preparada para receber bodas de casamentos ou festas de baptizado a preços baratuchos só que para convívio género reunião Amigos de Alex. Adultos com responsabilidades procurando informação sobre os seus queridos anos de esplendor, 80 ou outros. Entrando numa cápsula do tempo que faria a inveja a Júlio Verne ou H. G. Wells à procura de reminiscências retro à base de episódios do Marco e Tom Sawyer recuperados para os filhos, mais interessados no Gormiti, mas percebendo a importância de se manterem disponíveis para o downgrade.

Aproveitando a ligação em rede para saltar de computador em computador de modo a andarem para trás no tempo, convictos de que “no meu tempo é que era bom”. Até atingirem a paragem pretendida: 1984, 85, 86… de Sanjo acabados de comprar e penteado New Romantic. Passeando-se por uma galeria de imitadores anacrónicos. Ali vai um Jim Kerr em pose Don’t you Forget about me. Olha um Boy George armado em karma Chameleon.

Claro que os tempos são outros e os Simple Minds andam em Tour ‘5x5 Live’ tipo greatest hits, em palco, para saudosistas. E Boy George vai saltando de dependência em dependência, acumulando penas e trabalho comunitário obrigatório.

 

O passado não devia deixar saudade. Evitava as figuras tristes. Infelizmente, como isso não acontece, todas as épocas regurgitam, na ressaca dos tempos de glória, Elvis com peso a mais.

Quando Madonna canta em Coimbra na sua MDNA Tour, Papa Don't Preach, carrega toda a gente para 1986. E ninguém se importa. O mesmo se diga de Bruce Springsteen no Rock in Rio-Lisboa em que se estava em qualquer ano, menos 2012.

Até Sean Penn no papel de uma estrela rock reformada, em This Must be the Place, de Paolo Sorrentino, se inspirou no Robert Smith de Boys don’t cry.

 

Um revivalismo próprio de quem acha que perdeu alguma coisa importante que esteve na sua posse, ou não está contente com o que tem, mas que pode muito bem de alguma maneira ainda recuperar circula pelo ar. Um universo paralelo, onde as pernas de Tina Turner não saíram prejudicadas pela celulite. E Bryan Adams, por quem os anos não passam, continua interessado em Run to You.

Todo um sortido à base de rádios, publicações, vestuário e calçado, filmes e internet para inadaptados do tempo presente. Gulosos pelo antigamente. Conjugando, satisfeitos, pretéritos. Patinando no seguir em frente.

 

Com tudo isto sobram poucos para o dia-a-dia. O quotidiano é uma rua da baixa sem moradores. É preciso coragem para viver no presente. Mais agora com a crise.

Em todo o caso, acho que se tivermos em mente o Livro do Desassossego, o problema ficou muitos anos antes resolvido por Fernando Pessoa:

 

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho.

publicado por Carlos M. J. Alves às 11:23
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Quinta-feira, 28 de Junho de 2012

Liberdade

Por questões que me são completamente alheias, tenho de trabalhar 5 dias por semana. Muitas vezes, trabalho fora do horário mas, isso não me aborrece. Incomoda-me - isso sim - ter de me deslocar para fora do escritório, em reuniões com outras pessoas com as quais não sinto, por norma, grande empatia. Aborrece-me, o trabalho. Por mim, passaria todo o dia a falar com pessoas, a dar-lhes opiniões sobre o seu trabalho. Julgo, até, ter boas ideias sobre praticamente todas as coisas. Estas competências nasceram do facto de eu ter visto muita televisão ao longo da vida. Agora, ter de me deslocar a um sítio é muito aborrecido.

 

Assim foi, num destes dias. Subi uma calçada em busca de uma rua cuja localização desconhecia. Apesar de ainda ser cedo, o calor apertava-me o colarinho, o sol espetava-me a pele e todo o meu corpo era um autêntico jazigo de felicidade. Arrastei-me umas centenas de metros com a pasta na mão. Parei, então, à porta de um café onde estavam dois homens parados. Um deles usava uma bata branca, de farmacêutico, e fumava um cachimbo com um ar muito distinto, pelo menos parecia que estava convencido dessa distinção. O outro homem, com quem conversava, pareceu-me ser o dono do café. Tinha ar de dono do café. Não sabendo eu esclarecer muito bem esta minha impressão, dirigi-me a este último para lhe pedir indicações. Mandou-me subir o forno, meio desconfiado. Tivesse eu perguntado o resultado do jogo e teria ali um amigo para a vida. Mas, "o que é que este gajo anda aqui a fazer de fato e gravata?" pareceu-me terem sido os seus pensamentos mais íntimos. Apeteceu-me praguejar mas, não o fiz, por decoro e por preguiça. O calor aumentava conforme ia subindo a calçada, o que me parece normal, visto estarmos no Verão. Porém, noto muita admiração com este tempo, mesmo nos jornais. Eu cá, por mim, nunca me admiro com o calor no Verão. Acho que é perfeitamente aceitável. Aborrece-me mais ter de me deslocar para reuniões com desconhecidos.

 

Ainda antes de chegar ao meu destino, sem saber muito bem onde este seria, exactamente, cruzei-me com uma mulher que, olhando para cima, reclamava da situação, do estado actual das coisas. Percebi que estava contra e não perdi muito mais tempo. Segui e lá me encontrei com o destino. Desinteressante. Apressei-me a regressar e pelo caminho reparei que não me havia cruzado com nenhuma criança, até então. O ar estava ainda mais pesado e o dia, um tédio resignante.

 

Pensei nos dias de Verão em que me estendia sobre a cidade como um turista; em que as conversas que se ouviam eram todas de uma beleza simples. Pensei, também, na liberdade da viagem a sul, sem qualquer destino, a mochila na mala do carro e o sol a clarear as ideias que depois acabariam inundadas de mar e estendidas na areia. Pensei no meu corpo refrescado pelo sal e na languidez dos dias.

 

Aborrece-me, sobretudo, trabalhar.

publicado por jorge c. às 11:54
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Quinta-feira, 21 de Junho de 2012

O momento antes do grito

O rádio a pilhas transmite novidades em direto da Grã Bretanha, o locutor fala do esplendor de Portugal na relva do estádio, a bola de couro retesando-se assim que embate no peito de Mário Coluna, relaxando em seguida, docemente, por sentir-se perto do coração tão negro, obedecendo a tudo o que o mestre lhe faz. Na rádio o homem narra como Coluna abre o peito e levanta a cabeça. Os ouvintes, num café da Rua do Viveiro, no Estoril, rodam os dedos na borda do copo de cerveja, esquecem a guerra em África, imaginam Eusébio desmarcando-se com a velocidade da pantera. Entre os ouvintes está o teu pai, cabelo com popa de James Dean, nenhuma tatuagem apesar dos três anos a servir a Nação, dois deles em Angola, onde a fruta era gigante, os amigos da Companhia tinham nomes como Maluco e Meio e onde certa tarde ele salvou um miúdo negro de se afogar.

 

Basta abrir e fechar os olhos, já não é o teu pai de 1966 que está de orelha atenta ao rádio. Em vez da popa de galã de filme americano e da lábia que laçava meninas, tem agora bigode de chefe de família e, não te lembras muito bem porquê, estão numa loja de eletrodomésticos e móveis, acompanhando numa televisão a cores o seguimento da jogada que começou no lado esquerdo do peito de Mário Coluna. Vês como a bola chega ao pé insano de Fernando Chalana, como ele arranca os rins do primeiro médio que entra à queima, deixando-o sentado como um bebé no penico, marchando depois em cima da linha de cal na direção da baliza, escondendo o sorriso maroto com o bigode que se parecia com o bigode do teu pai de 1984.

 

Passa tudo tão rápido que, quando Chalana confunde as ancas de outro adversário, já estás na faculdade e tens sal do Guincho tatuado na pele, talvez tenhas deixado duas cadeiras do aborrecido curso de jornalismo para fazer em Setembro e já bebes cerveja durante a tarde. Estás de férias, queres namoradas de verão, vês na TV da casa de um amigo como Rui Costa recebe o passe de Chalana e rasga a defesa, apanhando Figo no costado direito do terreno, fazendo-te saltar anos na cronologia futebolística da tua vida, um Euro em Inglaterra, outro na Holanda, João Vieira Pinto aparecendo na área enquanto Figo ameaça para um lado, mas sai a correr por outro, no Estádio da Luz em 2004, e é então que Eusébio, Jordão, Nené, Paulo Sousa, Cristiano Ronaldo, todos sobem no campo, todos se preparam para saltar, rematar, para coser uma data na linha da memória: com quem estavas, quem te abraçou, quem foi  beber vinho tinto e ouvir fados se por acaso a derrota.

 

Vês como a bola foi cruzada para o centro da área, mesmo que agora não haja relatos na rádio ou sequer tenhas televisão em casa. Vês como tudo está ligado, desde o teu pai na Rua do Viveiro até ao teu corpo sozinho diante de um computador, num apartamento no Rio de Janeiro, esperando que Nani volte a acolher um cruzamento largo como quem pega uma namorada ao colo, e que depois avance para cima do defesa. É o regresso sazonal ao futebol, a revisitação da memória, o filho pródigo voltando temporariamente a casa. Ou talvez seja apenas uma desculpa para te lembrares desse começo de verão em Portugal, quando as noites têm preguiça de chegar e tudo é ainda possível.

 

Hoje, se gritares golo, não estarás sozinho.

publicado por Hugo Gonçalves às 14:20
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Quarta-feira, 20 de Junho de 2012

A Selecção somos nós

Volvidos alguns dias posso admiti-lo publicamente. Tenho dúvidas de que o pé que marcou os golos contra a Holanda tenha sido o de Ronaldo e não o meu. Riem-se? Só porque estava a largos quilómetros de distância? Não é do meu feitio teimar, mas estou convencido. Poder contar com isso e com os meus efeitos por fora, contorcendo-me no sofá, foi fundamental para o resultado final. Mais as vezes que roubei a bola ao adversário enquanto recarregava o pires com pistácios. Ninguém me prova o contrário. Sempre que a bola apareceu ziguezagueando na área fui eu quem me fiz primeiro ao lance. Perplexos?

 

Não há repetições e comentários que me demovam. Além do mais, futebol é a gente poder opinar. É mais bater no ceguinho do que embarcar em falinhas mansas. De água mole em pedra dura. Acusar «o que é que você sabe disso?» serve de argumento. Trocar jogadores sem perceber nada do assunto é num plano, meramente, teórico possível. Dar palpites, sem ter de perceber, também. Sem experiência. Porque sim. Bem como não dar conta de coisas que nos deviam entrar pelos olhos.

 

Futebol é futebol. Tem pouco de certeza. E clareza. O resto é a vida. E o futebol não é a vida. Não é como ela. Se não, não precisávamos dele. Já a tínhamos a ela. Bastava-nos.

O futebol não é a vida. Só faz parte dela.

Tem pouco de lógica. Pelo menos não consta que Aristóteles jogasse à defesa, fosse bom no jogo aéreo ou óptimo na conversão de penalties. O cálculo proposicional, também, serve de pouco no um para um. E o princípio da não contradição parece-me em tudo isto de somenos importância.

 

O futebol é uma coisa nossa. E essa é a razão para não ser a equipa que joga mal. Somos nós. A equipa não vence. Ganhámos! Não se desconcentra. Desconcentrámo-nos! Só há uma excepção. A vitória é nossa.

Só a derrota continua a ser do treinador. E a culpa é do árbitro. Duas, pronto! Quem é que está a contar?

É assim desde os bancos da escola. Sei do que falo. Passo a demonstrar!

Aqui há dias encontrei um antigo colega numa loja de bricolage e decoração. Daqueles que têm tudo. O melhor guarda-redes da escola primária. O que perdia em elasticidade devido ao problema que tinha nas pernas inertes compensava com as muletas que funcionavam como membros extra, imunes a qualquer regra dos organismos que fiscalizam o futebol mundial.

Numa célebre tarde consegui a proeza de lhe marcar três golos, o que me valeu um porta-chaves, premiando previamente a compra de um detergente para a roupa de uma mãe e ali o meu desempenho magnífico. A sorte não vem sempre. E nós acabámos a levar a taça. E eu saindo em ombros. Aspirante a campeão.

Penso que quando me viu franziu o sobrolho angustiado por essa tarde. Ainda tinha o resultado presente. Desforra por concretizar.

Vinha carregado de ripas, estacas, pregos, tinta e rede. Segundo explicou, preparava-se para construir no jardim traseiro da sua casa uma baliza para o filho que vinha consigo pela mão e perpetuaria o seu nome nos anais do futebol escolar onde se validavam os golos mais pela força das circunstâncias do que por tocarem as malhas inexistentes das balizas.

 

Nunca mais consegui marcar três golos. O meu futuro não estaria no futebol.

Mas garanto que os dois golos contra a Holanda são meus. Quase que lhos garanti a ele quando o vi transportando a baliza em construção. Sei que duvidaria. Vingando, assim, os três por perdoar.

 

A Selecção somos nós. Razão suficiente para nunca perder um jogo. Podem sempre contar com a minha ajuda. Pronto para a assistência. Serei certamente um dos primeiros a oferecer-me para a barreira. Podem contar comigo para os livres, cantos e lançamentos. Posição fixa. Trocando de lugar. Centrando. Rematando. Marcando em cima. Jogando de início. Ficando no banco. Escolha habitual ou arma secreta.

 

Não perco um jogo da Selecção.

Às vezes os resultados também ajudam.

 

De qualquer maneira, para finalizar, o Rui Patrício que me perdoe, mas penso que um par de membros extra seriam de aproveitar para a Selecção. Por mim seria de arriscar.

Eu e ele ficaríamos, finalmente, de contas saldadas.

Mas é só a minha opinião. E eu numa boa tarde consigo marcar-lhe três.

publicado por Carlos M. J. Alves às 10:02
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Domingo, 17 de Junho de 2012

A vida não tem atalhos

 

(a S.C)

 

 

 

Não sei se vos acontece, leitores, e é mais do que provável que não estejam interessados. Mas já que aqui posso estar, suplico indulgência para estas simples palavras.

 

Acontecem estes pensamentos em contraciclo, quando os dias estão cheios de nada que nos impõem ou cheios de tudo o que nos apetece: o Euro, o euro, os festejos do santo lisboeta que foi erudito e recluso mas que insistem em celebrar fazendo simulacros ébrios de manifestações na Síria. Os dias dos piqueniques com marca na mais bela praça da capital, o péssimo equipamento alternativo da selecção nacional, as contestações públicas porque sim, as contestações privadas porque enfim, a indignação desorientada que transforma o indignador na cousa indignada.

E entretanto a vida. Num relapso, numa repetição de uma finta, num olhar que escapou às câmaras - a vida. No meio desta Babel que amamos e odiamos, poder olhar para o que nos acontece, poder olhar para os outros, poder olhar para o tempo.

Aviso: por feitio e necessidade consegui fazê-lo. É um exercício perigoso, anti-social e tão mal-visto como ter o contacto pessoal do Miguel Relvas. Mas é necessário. O exercício, não o Relvas. Parar, por segundos que sejam, na feira popular do nosso quotidiano e olhar para única invenção humana que nos conseguiu escravizar:o tempo. O inventor de todos nós, Shakespeare (sim, sou Bloomiano, obrigado a todos) avisava exemplarmente no Henry IV: "But thoughts, the slaves of life, and life time's fool.And time, that takes survey of all the world, time must have a stop".

 

Decerto, mas qual tempo, de todos os que vivemos? O dos amantes, tão diferente e tão rápido em relação a quem arrasta os passos pelas manhãs?  O tempo do que sabe que vai morrer? O que espera em vão o encontro que nunca irá acontecer? O que se esquece do prazo do IRS? O tempo que destrói o amor, como avisava Vieira?

 

A vida é feita de todos estes tempos e nós, no nosso egoísmo, não paramos para os observar e disfrutar. A vida não tem atalhos. E se não nos entregamos com tempo a olhar para os caminhos que os tempos nos oferecem, passamos ao lado do que é realmente importante. Porque o tempo não é o nosso amo, é apenas a derradeira incógnita. Se não o olharmos nos olhos, mesmo quando nos fere, perdemos o jogo. Não é o tempo que tem que parar: somos nós. Ou então brincamos a alguma coisa a que abusivamente chamamos de vida.

 

 

 

 

 

publicado por Nuno Miguel Guedes às 12:00
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Quinta-feira, 14 de Junho de 2012

Sal da terra, luz do mundo

Há aproximadamente 18 anos atrás, um primo mais velho emprestou-me um objecto esculpido a partir de polipropileno e surlyn, duas coisas que devem fazer mal ao meio ambiente, mas que tornam o planeta um sítio melhor. Era uma prancha e estava num estado lastimável. Azul no deck, branca no slick, e receio que podre por dentro. Foi a minha primeira prancha e o meu primo nunca mais a pediu de volta. Este texto é uma espécie de agradecimento, se me estiver a ler. Ele provavelmente já não se lembra, mas patrocinou um dos acontecimentos da minha vida. Que nunca mais foi exactamente igual. Os meus pais não andavam com vagar para oferecer pranchas naquela altura, portanto qualquer gesto de caridade era bem vindo. Nessa altura, aceitei com normalidade o facto de a prancha absorver imensa água. Haveria de secar, tal como o fato de surf que ainda não tinha, do qual ainda não precisava. Umas ondinhas no Verão eram quanto bastava para me encher as medidas. Até àquele dia de Agosto, em plena praia do Vau. Entrou uma daquelas ondulações divinas que abençoam a costa algarvia a cada três quinze dias e lá fui eu. O mar devia rondar o metro nos sets, mas eu hei-de continuar a contar a história como se tivesse estado em Teahupoo com o Raimana. Permaneci dentro de água das 14 às 20 horas, altura em que os meus pais me obrigaram a sair da água. Só tinha uma licra vestida e não ofereceu grande protecção. Saí de lá com a barriga completamente assada e feliz. Essas 6 horas continuam a ser a minha melhor marca pessoal, aliás, nem sei explicar como é que aguentei lá tanto tempo. Só sei que de cada vez que me pediram para sair da água, eu pedi para apanhar mais uma onda. Os meus pais devem ter percebido que estava a acontecer qualquer coisa importante. Por esta altura, já tinha desistido de 2 ou 3 desportos federados e manter-me 6 horas preso a uma actividade era praticamente impossível.

 

Depois vieram a Mach 7-7 e o fato da Hot Buttered, ambos usados, enrugados e perfeitos. Estava pronto para o Inverno. No dia em que me preparava para estrear este material, o meu pai levou-me a mim e a mais dois amigos a Carcavelos. Chegámos lá e estava torto, gigante e impossível para um talento do meu calibre. Tínhamos visto ondas em Santo Amaro, mas não as tínhamos avaliado correctamente, pelo que pedi ao meu pai para dar meia volta e parar o carro junto dos surfistas todos. Cá fora, o Marcos Anastácio e o Rodrigo Herédia eram todos eles sorrisos e preparavam-se para entrar. Havia ainda bodyboarders como o Nuno Neto, rei do drop knee nacional, o Nuno Leão, e o Duda Leandro, tudo gajos que eu me habituara a ver na televisão, na Bodyboard Portugal, e que idolatrava. Entretanto veio o set. Vi tanta gente bem disposta e entusiasmada à minha volta que pensei logo em vestir o fato e fazer a minha estreia invernal ali. Ao que se seguiu um rude despertar. O Dapin apanhou uma onda que me pareceu e ainda hoje me parece enorme e destruiu aquilo como se não houvesse amanhã. A segunda do set parecia ainda maior e já tinha dono. Não sei se era o Miguel Ruivo mas o cutback que ele fez a sair do tubo ainda hoje me parece dele. Mais tarde veria fotografias que me pareceram ser desse dia numa edição da SurfMagazine que há-de estar num caixote na garagem do meu pai. Estas memórias meio fotográficas devem-se às cassetes vhs em que gravava toda e qualquer edição do Portugal Radical (olá Raquel Prates, olá Rita Seguro, olá Maria Borges, muáááá). Do WQS em Pantin ao EPSA em Tapia, passando pelos freesurfs em Carcavelos, nos Coxos ou no Havai, estas imagens nunca mais me abandonaram nem vão abandonar, enquanto este cérebro funcionar sem soluços. Ainda hoje recordo tubos do Tiago Oliveira e do Miguel Fortes como se tivessem acontecido ontem (provavelmente aconteceram, se os Coxos estiverem a dar).

 

Entretanto aconteceu mais uma tonelada de coisas e não dá para contar aqui tudo, até porque ia ser mais do mesmo e vos ia aborrecer de morte (mais pranchas, mais fatos, mais dias de ondas grandes em que fiquei cá fora, a descoberta da existência de ondas para além de Carcavelos, e assim por diante). As coisas que contei, e as que ficam por contar, fizeram com que 18 anos depois esta coisa do surf ou do bodyboard ou do skimming ou das carreirinhas, é-me completamente indiferente qual, com que esta coisa das ondas mexa comigo de uma forma muito diferente do resto. Mexe comigo e com muita gente que conheci ao longo dos anos, cujas aventuras no mar passaram a epopeias em terra. A malta que eu refiro nesta curta história, dos bodyboarders da altura aos surfistas célebres que ainda hoje dominam os melhores line-ups (aproveito para juntar skimmers que vi competir na ilha de Faro ou atletas que competiram no nacional de kneeboard em ìlhavo, um abraço a todos se me estiverem a ler), eles não me conhecem de lado nenhum, mas foram os heróis da minha adolescência e alguns deles ainda são (vejam um cutback do Miguel Fortes nos Coxos, ou melhor, vejam cem cutbacks desses, e digam-me que aquilo não é uma coisa especial). Foi a partir das proezas nada sobrehumanas destas pessoas todas, de os ver dentro de água e querer fazer um bocadinho melhor ou apanhar uma onda ligeiramente maior, que eu próprio juntei alguns dias de ondas inesquecíveis às minhas memórias e convenci o meu pai durante alguns anos, até eu ter carro, a ir buscar-me a Carcavelos às seis e meia, sete da tarde, fizesse chuva ou fizesse sol. E, bom, posso não perceber puto de cinematografia nem ter uma câmara de filmar, mas os filmes gravados na minha memória já ninguém mos tira. Sou um amador feliz. É por isso que, na semana em que Lisboa recebe o seu primeiro festival de cinema de surf (não percam isto), vou comparar as minhas imagens às de muitos outros que, felizmente, continuam a fazer justiça às epopeias reais e imaginadas de todos os que, de uma forma ou de outra, se apaixonaram pelas ondas para sempre.

publicado por Vasco Mendonça às 11:33
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Quarta-feira, 13 de Junho de 2012

O dia em que voltei a sonhar com futebol

para o meu irmão caçula

 

 

 

Não estavas lá e, no entanto, falas desse golo como se houvesses esperado nas filas sobre-lotadas do antigo Estádio da Luz, debaixo de chuva, para ver a elegância de Rui Costa planando sobre o relvado, a forma como a bola avançava graciosamente se lhe tocava, o seu corpo de planador abrindo as asas, um jeito de correr que fazia o jogo mais bonito, e o chuto em que a força e a beleza, misturadas na quantidade exata, levaram a bola a passar por cima do guarda-redes, disparada de fora da área, para fazer rugir o estádio e estremecer o cimento armado da Catedral.  

 

Portugal ganhou esse jogo, com a Irlanda, por três zero (até Cadete marcou um golo) e conseguiu apurar-se para o Europeu de Inglaterra, em 1996.

 

Não estavas lá. Tinhas sete anos, tal como eu quando assisti à derrota de Portugal, com a França, em 84. Não estavas lá, mas falas desse jogo como se tivesses estado. Talvez porque te falei dele várias vezes, talvez porque também muitas vezes tentei imitar o Rui Costa quando chegavas da escola e jogávamos na entrada de casa, fazendo da garagem a baliza e escavacando as flores nos canteiros.

 

(Anos antes, quando eras ainda mais pequeno, jogávamos com uma bola de ténis na cozinha)

 

A primeira vez que te levei ao futebol foi para ver um Benfica - Sporting, e o Jardel deixou-nos o azedume de um empate nos últimos minutos. Mas é nesse jogo contra a Irlanda, é no esplendor desse golo de Rui Costa, que sinto que o futebol primeiro nos uniu.

 

E se andava desmotivado com o jogo, melhor, com a palhaçada que hoje rodeia o jogo, lembrei-me de como te contava coisas do tempo do Valdo, do Mozer, do Vitor Paneira, de uma meia final contra o Marselha, do pontapé canhão do Carlos Manuel, em Estugarda. Mas hoje és tu que me dizes qual é o onze inicial do Benfica ou quem será o jovem sensação deste Euro.

 

Sabes, zango-me amiúde com o futebol, mas regresso sempre. E se o futebol me ajuda a estar mais perto de ti, se de cada vez que houver um Euro ou um Mundial ou o Benfica ganhar o campeonato, eu puder sentir-me tão próximo como me sentia rematando contra a porta da garagem (e tu de luvas, equipado como um guarda-redes), como me sinto sempre que te conto o golo do Rui Costa nessa noite de aluvião e absoluta felicidade, então manterei para sempre um pouco de inocência futebolística, essa busca pela emoção e beleza pura do jogo, sem comentários, sem análises, sem repetição, só o golo de Rui Costa, as suas asas de garça abrindo e fechando para celebrar o golo, saltando para fora do campo, eu e tu nas bancadas, afogados de chuva e irmandade, eu e tu, mesmo que nunca lá tenhas estado, eu e tu e um golo celebrado em conjunto.

 

publicado por Hugo Gonçalves às 14:27
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Terça-feira, 12 de Junho de 2012

Enquanto dormíamos

Sempre achei que uma das mais adversas consequências da crise, para além das questões associadas ao poder de compra [e a juntar à hesitação no contributo para a natalidade] era retirar-nos a capacidade de sonhar. De aspirar a mais. De dar de vez o salto de Quarteira para Vilamoura. Piscar o olho a, pelo menos, mais duas assoalhadas e uma marquise. Fazer um upgrade de umas dezenas de cavalos, com bagageira mais espaçosa, numa cor vistosa. Ou optar pela versão desportiva.

 

Em termos de crise ando escaldado. Logo eu que sempre fui um português atípico, no que à pré-crise diz respeito. Atinadinho. Dos que não andou a viver por conta. Que resistiu à ideia de que as horas num relógio Cartier devem em termos de tempo ser diferentes. Embora desconfiado. Que se escusa às edições em capa dura e se fica pelas de bolso. Ando aterrorizado com a crise. Com o sono ameaçado. O sonho hipotecado.

Não ajuda ver a mui ilustre Constança Cunha e Sá tremelicando no ecrã sempre que comenta, perspicaz, a crise. Ou o, também, mui nobre Medina Carreira com as glândulas salivares sobreaquecidas pela ira, sempre que tacteia os interstícios político-económicos portugueses.

Da mesma maneira que só serve para me abespinhar saber que madame Christine Lagarde, directora geral do FMI (a das malas Louis Vuitton), aufere o apreciável vencimento de 438. 940 euros por ano.      

 

O exôdo das cegonhas e o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa preocupam-me menos, uma vez que para esse peditório tenho assegurado o contributo com duas unidades são os sonhos que me desassossegam.

Devo padecer de um inconsciente contido, pelo que o meu icebergue psicanalítico é controlado, no que aos sonhos diz respeito. Parece temer represálias de um qualquer Titanic vingativo e repressor.

 

O meu caso torna proporções gravíssimas pois nunca fui saudosista e vivi durante anos com a convicção de que o melhor estava sempre para vir. Sem sonhos a minha vida fica completamente sensaborona. Insossa. Uma desenxabida versão macrobiótica.

 

Resignado, concluí que como para a maioria dos portugueses para mim não há sonho, sem sono. Pelo que se não conseguir recuperar os outros (os das ambições) me fico pelo regime onírico forçado, na horizontalidade do travesseiro.

É nesses que ando concentrado. Os outros exigem conjuntura apropriada. Voltar a mercados. Exportações. Moody's, Standard & Poor's e Fitch. Taxas, níveis, ratings e rankings.

Quando me deito tento não tomar nada de estimulante. Cafeínas e afins. Continuo num passo discreto para a facção fundamentalista dos não fumadores recentes. Numa tranquilidade de seleccionador nacional.

Pernoito solidário com D. Januário Torgal Ferreira. Acato as imposições da Troika. Acredito na boa índole de Relvas. Embora concorde com o Hugo Gonçalves quando diz que ele tem sangue de Dantas. Espiões para mim só os de Ian Fleming em exigência Shaken, not stirred (no que ao Martini diz respeito) ou ou em ambiance John le Carré. Vítor Gaspar sabe o que faz.

Hesito entre uma posição freudiana ou neo-freudiana e acabo evocando um mantra-lengalenga:

 

   - Freud é bom companheiro, Freud é bom companheiro…

 

E adormeço. Em paz. Num mundo cor-de-rosa. Sem feriados. Com um povo que deixou de ser piegas. Ordeiro. Paciente. Orgulho de quem o governa.

 

Sonolento, em tom de epifania percebo a tranquilidade dos outros. Enquanto dormem. Como se impõe. Pergunto-me:

 

   - Andamos todos a dormir?

 

Seguindo o conselho do Dr. Passos Coelho, apelando à mudança dos portugueses, com o coração ao pé da boca pingando amor patriótico pela nação confirmo no meu Maurice Lacroix que adormeci e estou atrasado para o emprego. Em espírito de natais passados vejo o meu chefe à minha frente. Confrontado com o meu absentismo, pouco preocupado com a crise, digo-lhe:

 

   - Reparei que estava um dia lindo e não me consegui despachar antes.

 

Percebo que nos sonhos para além de não se morrer, também não se é despedido.

E continuo a sonhar. Agradecido por ter emprego. Como qualquer bom português. Lá fora a crise. Que não nos deixa sonhar.

publicado por Carlos M. J. Alves às 12:33
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Segunda-feira, 11 de Junho de 2012

isto não é uma crítica literária

Os preconceitos têm um sentido de justiça que me agrada. É verdade que, quem é “preconcebido” pode perder alguma coisa, mas quem perde garantidamente e em força é aquele que “preconcebe”. Perde porque há-de morrer de tédio com as suas certezas, sem tesão com a falta de surpresa, aborrecidamente a dizer para ele próprio que sempre teve razão e ninguém para o ouvir.

 

Isto nota-se muito na “cultura”. Aquela pose que dá jeito em jantares onde se atiram máximas sobre autores e obras “incontornáveis” e intraduzíveis onomatopeias de desprezo a propósito de coisas que, em verdade, nunca se experimentou.

 

Os jornais são um bom exemplo (há milhares de outros). Os ditos de “referência” e os “outros”, como se a “referência”, neste caso, tivesse alguma coisa de absoluto e não oscilasse ao sabor de lideranças políticas e empresariais.

 

Aceitando que, neste jogo, como em muitos, não há inocentes, saúde-se o “Correio da Manhã”, que tem a nobreza de não tentar parecer “sério” e a franqueza de ter por “referência” mais evidente o país a que pertence, com tudo quanto esse país tem de bom e de mau.

 

O preconceito poderá não deixar ver, mas, para lá da longa secção de crimes passionais, machadadas e afins, há uma boa mão cheia de anos que o “Correio da Manhã” é, provavelmente, o jornal diário que mais notícias traz, que toca sem medo em assuntos onde outros preferem manter silêncios e distâncias cómodos e que, goste-se ou não, faz notícia com a primeira página a um ritmo e constância verdadeiramente admiráveis. Mesmo a secção dos golpes de machado e queimaduras com ácido entre vizinhos e familiares não deixa de falar dum país real que poderíamos pensar não existir, mesmo ao lado de nossa casa, se só lêssemos os senhores “derreferência”.

 

Dito isto, preconceituoso me confesso. Que há anos me encaminho para estas conclusões e continuo a preferir comprar coisa menos colorida no quiosque e a deixar o “Correio da Manhã” para uma leitura gratuita no café (num qualquer dos muitos cafés desse país a que o “Correio da Manhã” se refere e que o disponibilizam, qual serviço público, entre “A Bola” e o “Record”.

 

Como nem todos os dias se vai ao café ou, indo, nem sempre o “Correio da Manhã” não está a ser lido por outro camarada entre uma bifana e a meia de leite, não acompanhei, como merecia, a coluna que o Francisco José Viegas lá publicou entre (salvo erro) 2008 e 2011. Esses textos foram reunidos e publicados em livro, o Dicionário De Coisas Práticas, há coisa de ano (salvo outro erro), ali pelos dias em que foi conhecida a nomeação do Francisco para secretário de Estado da Cultura.

 

Como, uma vez entrando na categoria dos livros, os preconceitos se reduzem drasticamente (mesmo que estejamos a falar dum livro de anedotas da Popota), comprei e li o Dicionário, chegando em choque à conclusão com que abri esta crónica: quem realmente perde com o preconceito é quem “preconcebe”. Nestes três anos, houve alturas em que me lamuriei da falta de cronistas que apreciasse, de uma voz de direita esclarecida que desmascarasse o embuste político em que vivíamos e de um mestre da cultura que nos orientasse no supermercado de oferta artística em que – felizmente (bem pior seria o contrário) – vivemos. Tudo isso estava ali, no “blogue” do Francisco, entre machadadas em Vila Pouca e escândalos políticos em Lisboa.

 

Serve, pois, a presente de chicotada auto-infligida e recomendação franca. Não digo que se mudem todos para o “Correio da Manhã”, mas, pelo menos, que o catrapisquem no café para equilibrar as doses de “referência” e “realidade”. E, sobretudo, que adquiram e consultem o Dicionário De Coisas Práticas. Entradas concisas para um pensamento que não pactua com a cultura “moderninha”, de facilidades, “fedelhos”, pedagogos, big brothers e virgens puritanas.

 

P.S: Vale também isto para o Henrique Raposo, que só li como merecia nos textos reunidos em Portugal Do Avesso, ao invés de o ter feito pouco a pouco, semanalmente, no “Expresso” (que já há anos deixei de ler, não por preconceito, mas recomendação do meu médico dos ossos).

publicado por Alexandre Borges às 21:18
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