Tudo isto me soa, como diz o outro, a bode respiratório. Quando se está à rasca é preciso encontrar um homem a quem atirar pedras. Alguém que possa ser "o culpado da situação em que vivemos". Que simbolize "os poderosos" e sobre o qual se possa derramar o líquido da raiva e do ressentimento. Não são só os media - embora hoje se assista a indignidades jornalísticas cada vez mais bizarras, contras a quais convém sempre ir dizendo coisas. Também tem responsabilidades quem nas esquinas se alimenta de nomes sonantes para satisfazer o desejo terrorista de celebrar a podridão do mundo e dos seus personagens.
Hoje é um homem da política, amanhã é um do futebol e depois um dos concursos. O importante é concentrar o mal em figuras. Como se o mal fosse só delas. Como se a maldade só fosse possível do outro lado da barricada, não no nosso apartamento. Como se de um lado, o dos espectadores, estivessem os bons sentimentos e do outro gente monstruosa que é urgente dizimar. Aos pinguinhos, em notícias gota a gota, que é para a tortura ser maior.
Aos poucos, sim, aos poucos Duarte Lima tornou-se o Kadafi do espaço público português: também ele está a ser assassinado à paulada e à cacetada com as televisões a filmar. Eu, digo, preferia não ver, tal como preferia não ter visto o assassinato do ditador líbio quando estava muito descansadamente a assistir ao telejornal das oito. Preferia não assistir à detenção televisionada do ex-deputado do PSD. Que seja julgado, tudo bem, se para tal houver motivos. Não quero é ter de ouvir o seu nome todos os dias a abrir noticiários ou ter de apanhar com ele no título da primeira notícia do Google News. Tirem, por favor, o senhor dos meus ecrãs. Não me interessa vê-lo morrer em público.
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