Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2020

Frangos & galetos

Ia cortar a guedelha mas cheirou-me a frango assado e substitui a angústia de me sentar, uma vez mais, na cadeira de um barbeiro que não é meu patrício, pelo consolo da pelezinha tostada, as batatatas salteadas e o pão cortado em fatias que uso para limpar a molhanga do prato. Traumatizado por experiências capilares menos felizes nas mãos de russos, venezuelanas e italo-americanos, custa-me entrar num barbeiro e ter de começar tudo de novo. Devia haver uma ficha entre barbeiros, como há entre médicos, que explicasse a história do cliente: remoinho indomável na franja, entradas valentes, benfiquista que não se importa de falar de bola enquanto a tesoura faz o seu trabalho.

 

Há sempre uma desculpa para evitar cortar o cabelo – um frango assado na confeitaria Rio-Lisboa é mais que suficiente para interromper a minha busca e sentar-me na esplanada. Muitas vezes, quando saio de casa, não sei onde vou parar. Mas muitas vezes acabo na Rio-Lisboa, como a mesma gula com que uma criança obesa encara um Happy Meal. Frango assado, meia porção de batatas salteadas, pão, suco de melancia. O prazer prolonga-se por minutos tal como a combinação de sabores dentro da boca. Resta-me ficar, sem pensar em ler jornais, sem fazer o mapa de deveres, sem tirar apontamentos no bloquinho. Fico ali, como se numa cama de rede, observando e ouvindo. Não fazendo nada a não ser respirar.

 

É bom esvaziar a cuca dos apitinhos do telemóvel, jogar tempo fora, cagar no mundo da alta velocidade e perceber a importância das esplanadas nas esquinas das cidades. Saboreio o frango. Molho o pão, remato com um gole de suco de melancia. É como ver a canarinha de 82, tudo feito com suavidade e beleza, um gosto por gostar, diversão antes de eficácia.

 

Meia hora assim, somente respirando como o peito de Sócrates quando recebia a bola e levantava a cabeça para o império diante de si. Meia hora: este é o meu tempo para pensar nas coisas que não têm tempo para ser pensadas. Coisas como: isto não é um frango, isto é um galeto – assim chama esta galera aos frangos assados. Mas frango assado é outra coisa, é esperar no automóvel da família enquanto o meu pai ia buscar o jantar ao Galego ou ao Jardim dos Frangos ou ao Manolo. Frango assado é os jantares de adolescentes que preferiam gastar a massa em vodka, dividindo as aves e empanturrando-se em batatas fritas e pão saloio. Frago assado é a rua das Portas de Santo Antão, em semana de santos, com turistas lambendo os dedos e indianos vendendo cães de peluche a pilhas.

 

Galeto é outra coisa. Galeto é este ritualzinho que começo a praticar todas as semanas. Sair de casa, dar um passeio, querer jogar minutos fora e seguir o cheiro da gordura queimada. Galeto será agora esta memória de sabores na boca e bulício de esquina carioca.

 

Quando se joga tempo fora comendo galeto é isto que nos vem à memória: uma alemã disse-me, em Nova Iorque, que dizer “orange” nunca seria o mesmo que dizer “laranja”. Perguntou: “Em que pensas se dizes laranja?” E eu pensei no Algarve, na casa dos meus avós, qualquer coisa com muito verão. Podia ter feito um anúncio para tv com tanta imagem solarenga.

 

Coisas que se descobrem quando há tempo para jogar fora: frango assado é uma coisa, galeto será outra coisa. Tudo isto usando a mesmo língua. Hoje, mordendo uma coxinha suculenta e vendo o tráfico de pessoas na calçada, percebi o privilégio de poder usar duas versões do mesmo idioma e o impacto que isso terá em todos os portugueses que vivem aqui e aí. Assustem-se os puristas, mas se há tantos milhares de jovens tugas no Brasil como se supõe, com o passar dos anos, com as viagens de vai-e-vem, com os filhos dessa gente crescendo aqui, a língua começará a ser outra coisa. Isso, confesso, não me assusta. E se por ventura esta miscigenação linguística acontecer, enquanto indivíduo que se diverte com este ofício, vejo o futuro como algo entusiasmante.  

 

Ou talvez tudo isto seja apenas o delírio de quem tem tempo para jogar fora e procura epifanias no estado de transe provocado pelo galeto da Rio-Lisboa. Há quem reze, faça meditação, jogue búzios. Eu vou comer galetos para encontrar paz e clarividência e perspectiva.  God bless the chicken. Ou como dizia o outro: “It beats working.”

publicado por Hugo Gonçalves às 16:05
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Ia cortar a guedelha mas cheirou-me a frango assado e substitui a angústia de me sentar, uma vez mais, na cadeira de um barbeiro que não é meu patrício, pelo consolo da pelezinha tostada, as batatatas salteadas e o pão cortado em fatias que uso para limpar a molhanga do prato. Traumatizado por experiências capilares menos felizes nas mãos de russos, venezuelanas e italo-americanos, custa-me entrar num barbeiro e ter de começar tudo de novo. Devia haver uma ficha entre barbeiros, como há entre médicos, que explicasse a história do cliente: remoinho indomável na franja, entradas valentes, benfiquista que não se importa de falar de bola enquanto a tesoura faz o seu trabalho.

 

Há sempre uma desculpa para evitar cortar o cabelo – um frango assado na confeitaria Rio-Lisboa é mais que suficiente para interromper a minha busca e sentar-me na esplanada. Muitas vezes, quando saio de casa, não sei onde vou parar. Mas muitas vezes acabo na Rio-Lisboa, como a mesma gula com que uma criança obesa encara um Happy Meal. Frango assado, meia porção de batatas salteadas, pão, suco de melancia. O prazer prolonga-se por minutos tal como a combinação de sabores dentro da boca. Resta-me ficar, sem pensar em ler jornais, sem fazer o mapa de deveres, sem tirar apontamentos no bloquinho. Fico ali, como se numa cama de rede, observando e ouvindo. Não fazendo nada a não ser respirar.

 

É bom esvaziar a cuca dos apitinhos do telemóvel, jogar tempo fora, cagar no mundo da alta velocidade e perceber a importância das esplanadas nas esquinas das cidades. Saboreio o frango. Molho o pão, remato com um gole de suco de melancia. É como ver a canarinha de 82, tudo feito com suavidade e beleza, um gosto por gostar, diversão antes de eficácia.

 

Meia hora assim, somente respirando como o peito de Sócrates quando recebia a bola e levantava a cabeça para o império diante de si. Meia hora: este é o meu tempo para pensar nas coisas que não têm tempo para ser pensadas. Coisas como: isto não é um frango, isto é um galeto – assim chama esta galera aos frangos assados. Mas frango assado é outra coisa, é esperar no automóvel da família enquanto o meu pai ia buscar o jantar ao Galego ou ao Jardim dos Frangos ou ao Manolo. Frango assado é os jantares de adolescentes que preferiam gastar a massa em vodka, dividindo as aves e empanturrando-se em batatas fritas e pão saloio. Frago assado é a rua das Portas de Santo Antão, em semana de santos, com turistas lambendo os dedos e indianos vendendo cães de peluche a pilhas.

 

Galeto é outra coisa. Galeto é este ritualzinho que começo a praticar todas as semanas. Sair de casa, dar um passeio, querer jogar minutos fora e seguir o cheiro da gordura queimada. Galeto será agora esta memória de sabores na boca e bulício de esquina carioca.

 

Quando se joga tempo fora comendo galeto é isto que nos vem à memória: uma alemã disse-me, em Nova Iorque, que dizer “orange” nunca seria o mesmo que dizer “laranja”. Perguntou: “Em que pensas se dizes laranja?” E eu pensei no Algarve, na casa dos meus avós, qualquer coisa com muito verão. Podia ter feito um anúncio para tv com tanta imagem solarenga.

 

Coisas que se descobrem quando há tempo para jogar fora: frango assado é uma coisa, galeto será outra coisa. Tudo isto usando a mesmo língua. Hoje, mordendo uma coxinha suculenta e vendo o tráfico de pessoas na calçada, percebi o privilégio de poder usar duas versões do mesmo idioma e o impacto que isso terá em todos os portugueses que vivem aqui e aí. Assustem-se os puristas, mas se há tantos milhares de jovens tugas no Brasil como se supõe, com o passar dos anos, com as viagens de vai-e-vem, com os filhos dessa gente crescendo aqui, a língua começará a ser outra coisa. Isso, confesso, não me assusta. E se por ventura esta miscigenação linguística acontecer, enquanto indivíduo que se diverte com este ofício, vejo o futuro como algo entusiasmante.  

 

Ou talvez tudo isto seja apenas o delírio de quem tem tempo para jogar fora e procura epifanias no estado de transe provocado pelo galeto da Rio-Lisboa. Há quem reze, faça meditação, jogue búzios. Eu vou comer galetos para encontrar paz e clarividência e perspectiva.  God bless the chicken. Ou como dizia o outro: “It beats working.”

publicado por Hugo Gonçalves às 16:05
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Quinta-feira, 11 de Abril de 2013

Contra nós temos os dias

Contra nós temos os dias, já o sabemos. São turvos, desconfiados, mil variantes de uma base cor de cinza.

Contra nós temos a tristeza, o desalento que nos morde, a indignação que nos tolda e faz errar. A proximidade do drama do quotidiano, que com violência sai dos noticiários e nos bate à porta: é o nosso amigo, é a nossa família, é o outro a quem nunca prestámos antes atenção que agora é a nossa vida e a nossa ajuda, a boa acção que nunca pensámos fazer. Somos nós.

 

Contra nós, a realidade.

Mas: e a nosso favor? Apenas nós mesmos e a criatura mais mítica que produzimos: a palavra, essa impossibilidade linda. Como nunca, ela está à solta e como sempre, não irá salvar ninguém. Mas ajuda, galvaniza, transmite. Faz lutar, acreditar na perseverança (e notai que evito ‘esperança’).

 

Não acredito que haja lugares onde as palavras devam estar, e muito menos que esse lugar seja a rua. Acredito que devam estar libertas para poderem passar por onde quiserem – num olhar, num prelúdio de um beijo, num livro, no feliz próximo verso do poeta, na voz de uma canção – mas por feitio e convicção sei que a rua tende a retirar das palavras a sua inutilidade para depois definharem lentamente. Os lemas revolucionários são sempre melhores do que as próprias revoluções, como nos ensinou a história. Algumas vezes são a única coisa verdadeiramente relevante, como aconteceu com os famosos slogans do « Maio de 68». 

 

É sempre bom passear pela cidade e depararmos com a surpresa de uma boa frase eternizada numa parede por autor anónimo. Mas não chega, não serve. Se as palavras hoje vivem muito na rua é porque a rua precisa delas – o que não quer dizer que se façam ouvir e muitas vezes que façam até sentido. Há excesso de verbos e poucos substantivos nos nossos dias, uma libertação súbita e compreensível mas que apenas ajuda a dividir. A palavra pela palavra e a rua pela rua ainda valem menos do que valem realmente.

 

Temos de tratar com parcimónia estes bichos que criámos, «animais doentes as palavras», como escreveu O’Neill. Temos de as aconchegar na alma e soltá-las da forma mais agarrada possível à verdade daquilo que estamos a sentir.  E isso, hoje, é difícil. Contra nós temos os dias.

Mais do que nunca, «entre nós e as palavras há metal fundente» (Cesariny). Mas o destino e habitat natural das palavras é o silêncio, onde melhor coincidem com o que queremos dizer. Talvez o silêncio das acções seja agora a forma de lutarmos contra a realidade. E porque há sempre quem tenha escrito mais e melhor, socorro-me outra vez e com topete das palavras de O’Neill «Para dizer/ Queria palavras tão reais como chamas/ E tão precárias / Palavras que vivessem só o tempo de dizer a sua parte / No discurso de fogo».

Aqui termino, falho e farto de palavras.

 

 

 

[texto escrito para o jornal que acompanha o evento Lisboa Capital República Popular, a ter lugar este Abril. O tema deste ano é 'A palavra está na rua']

 

publicado por Nuno Miguel Guedes às 08:23
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Quarta-feira, 27 de Março de 2013

Do desprezo pela história do universo

Quem tem de escrever regulramente, por gosto ou profissão, sabe bem que mais vezes do que o desejado a vida entra pelas palavras dentro e fecha-as num redil chamado quotidiano. E quando este bicho é feio, a agrafia é inevitável e até, quem sabe, desejável. É como quando se está muito feliz ou muito triste: temos mais do que fazer do que perder tempo a colocar frases por ordem, pura e simplesmente porque estamos ocupados a viver. Sempre que se escreve, aquilo que verdadeiramente queremos dizer morre um pouco. É por isso que o desafio é tão utópico como necessário.

 

Também eu não sou excepção e os dentes afiados da realidade ameaçam morder todos os dias, parando inevitavelmente qualquer veleidade criativa. Mas a vida é maravilhosa sobretudo nas suas ironias; e foi há dias, que entre duas cartas das Finanças (quem disse que já ninguém escreve a ninguém?) deparei com esta espantosa notícia:um grupo de génios (pagos, espero eu) conseguiram descortinar como era o universo 380.000 anos depois do Big Bang (vejam aqui: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/este-e-o-mapa-mais-detalhado-de-como-era-o-universo-com-380-mil-anos-1588599 ). Vemos uma espécie de planisfério (que reduz a cinzas a infinitude do Universo) e uma série de manchas que identificam zonas quentes e frias. Mais ainda, para que todos fiquemos descansados, os cientistas concluiram que este «ovo cósmico» em que vivemos seria mais cem milhões de anos mais velho do que pensávamos. Todos nós os que perdemos noites a pensar na idade do universo ( e somos tantos que eu sei), suspirámos de alívio.

 

Se até aqui chegaram, por favor não me interpretem mal. Acho bem e mandatório que se estudem estas matérias.Mas francamente, e se conseguir evitar a tentação de lançar a piada que isto é uma conspiração para dar bom nome à astrologia (desculpem, não consegui evitar), não consigo vislumbrar como isto afecta as nossas vidas. Se me falassem de hoje; do futuro e de quando a coisa vai acabar para não apanhar ninguém sem uma roupinha lavada - isso eu percebo e interesso-me. Agora quando vejo um planisfério universal em que só me apetece actualizar o Tratado de Tordesilhas (Merkel fica com as zonas frias, todos os outros salvem-se como puderem) não posso deixar de reclamar que saber outras coisas dava mais jeito. Por exemplo: como se explica o hoje? Como nos safamos? Há planisférios cósmicos que eu possa apresentar na Segurança Social? Isso é que era:«está a ver esta zona fria e todo este processo universal que se desenrola apesar de si, simpático funcionário da Autoridade Tributária?», diria eu. «Vê a nossa dimensão, pó entre o pó galactico? Então para que serve pagar essa divida, se a expansão universal vai dar cabo de tudo?». Francamente, um mapa do hoje e do futuro do universo é que daria jeito. Toda a gente reconheceria a sua verdadeira escala (enfim, Relvas é um caso à parte mas não imune) e todos os dias seriam reduzidos ao tempo a que temos de estar gratos.

 

E aí sim, aproveitaríamos cada olhar, cada beijo, cada gesto, cada verso, cada memória, cada beleza,cada tristeza, cada ser humano na sua justa medida. Todos os instantes para serem sorvidos antes que a coisa feche. E não interessa que possa demorar milhões de anos: a nossa vantagem enquanto bichos humanos é que não houve nem nunca haverá mapa nenhum que nos cartografe os afectos.Eles que tentem.

 

publicado por Nuno Miguel Guedes às 05:33
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Terça-feira, 5 de Março de 2013

É urgente grandolar o coração

É bastante provável que neste preciso momento seja o último dos cidadãos a falar, escrever, alvitrar ou comentar a forma de indignação mais utilizada nos últimos tempos em Portugal: o regresso do programa A Tua Cara Não Me É Estranha.

 

Minto, pronto, piadinha fraca para sacudir o desconforto. Trata-se, evidentemente, da utilização do Grândola, Vila Morena como instrumento de combate político, interrompendo discursos ou funções públicas dos nossos bem-amados governantes. 

É uma excelente ideia, devo dizer. Todas as canções têm uma função e as de combate são mesmo para ser usadas. O Grândola.. parece-me uma escolha evidente e eficaz - excepto quando o coro que protesta desafina em demasia ou o ministro Miguel Relvas se junta à cantoria. 

 

A questão de fazer da canção um hino já não me diz tanto. Prefiro a guerrilha, a performance. Mas como bem viu quem esteve na rua no passado dia 2, a coisa arrepia. E foi bem escolhida: podemos não ter concordado com as posições políticas do seu autor (algumas de um radicalismo e intolerãncia delirante) mas não lhe podemos negar o génio. Digamos, apenas por analogia, que o Sonho de Menino dificilmente obteria os mesmos resultados.E o facto de a canção ter sido um dos sinais para a liberdade é transversal e actual.

 

O poder das canções de combate é incomensurável e prático. Desde a literalíssima A Cantiga É Uma Arma até o protesto dançável de Free Nelson Mandela, dos Specials, vai um mundo de intenções e vontades concretas mas que começavam e acabavam onde eram ouvidas. O que mais me maravilha nesta recuperação do tema de José Afonso é a sua utilização no terreno, servindo para interromper com força e elegância uma voz que não faz sentido.

 

Tanto eu gostei da ideia que gostaria de aplicá-la ao meus dias e ao que sinto. Esta é a minha utopia, senhoras e senhores: um tipo está só, lamentando os lados maus da vida  - falta de dinheiro, de emprego, amores que se perderam - e começa a abandonar-se aos pensamentos mais tristes. Nessa altura - zás! - um coro vindo de dentro do coração começa a gritar o Grandola Vila Morena para evitar que um gajo se arme em parvo. Um grupo convicto de micro-seres, teimosos e decididos a calar as inanidades que nos vêm à cabeça para recomeçar com a vidinha, que não há tempo a perder.

 

Dava tanto jeito. Mais do que aqueles bombeiros que se vêem num reclame qualquer e que surgem para apagar as más digestões. A sério: grandolar o coração evitava perdas de tempo e, no limite, textos como este. Quem sabe, pode ser que um dia ainda oiça cá dentro os famosos passos com que a canção começa. Até lá, só o silêncio e o eco estúpido de mim próprio.

publicado por Nuno Miguel Guedes às 02:09
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Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2013

Metafísica do Metro

Quando atravessamos alturas na nossa vida em que o Busque amor novas artes, novo engenho parece abocanhar os nossos dias e alimentar-se deles, tornamo-nos filósofos das pequenas coisas. É inevitável. Pensar – lembrar- torna-nos tristes mas o impensável é que não é alternativa.

 

As pequenas coisas. Uma viagem no metro, por exemplo. Percorrer um caminho mil vezes percorrido, previsível como os carris que o sustentam, sem surpresas até mesmo nos rostos e nos farrapos de conversas que se atravessam à nossa frente. E de súbito, uma voz anónima, vinda não se sabe de que céu da carruagem, a oferecer-nos o pedaço de sabedoria que tudo encaixa e faz redimir, como se alguém soubesse que ali estamos: «Atenção ao intervalo entre o cais e o comboio».

 

E é isso, é exactamente isso. Esse intervalo entre uma partida e um regresso, entre a viagem e o porto. Desejamos entrar no comboio ou sair dele mas nunca nos lembramos que o intervalo existe: o intervalo em que acontecem os erros e as alegrias, em que sinceramente nos iludimos com momentos e pessoas que julgamos terem horizontes mas que afinal medem a vida em colheres de café (deixa-me em paz, Poeta!); o intervalo em que todos os afectos e todas as certezas podem ser abalados mas também ganhos; o intervalo em que o tempo não interessa, apenas a vontade; o intervalo escuro com promessa de luz e tantas vezes ao contrário.

 

Entre uma viagem e outra, muito do que nós somos está nesse intervalo. Muito do que perdemos e muito do que ganhamos também. O que queremos sobrevive a essa pausa vivida.O que nos ama realmente, também. Nem comboio nem cais fariam sentido sem este intervalo. Sábias palavras, ó Deus dos Transportes Subterrâneos. Não dei atenção ao intervalo – ou iludi-me com ele – e ia perdendo a viagem e o cais. Agora não. Não há pressa. Sento-me tranquilamente no banco do Acaso, à espera que chegue a nova carruagem, o novo cais.

publicado por Nuno Miguel Guedes às 17:28
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A Revolução da Esperança

 

Há esta certeza que faz falta proclamar: Manuel Fúria é um subversivo. Melhor ainda: um subversivo com uma missão. Acredita e pratica o que louva - valores e actos que, mais do que anacrónicos, são mal vistos pelo espírito deste tempo. Utiliza sem medo palavras como «pátria», «amor», caridade», «coração», «bondade», «rei», «fé», «rapariga», «noiva», «Cristo», «contemplação», «mistério», «alma». Para ele, tudo se poderia resumir num único vocábulo indizível que tem urgência de partilhar. E essa urgência é a razão de ser da sua arte e da extrema necessidade de fazer.

 

«Quero ver Lisboa a arder», anuncia ele no início da nova aventura-manifesto que é este disco, Manuel Fúria contempla os lírios do campo. A referência bíblica, para além de assumida, assalta-nos por uma estranha beleza proselitista, apenas porque pressentimos que ele crê sinceramente e isso é tão raro. O que seduz de imediato na arte e na personalidade do Manuel Fúria (e aqui chegados, permiti que o que assina estas linhas se intrometa ainda mais pessoalmente nesta conversa e confesse a sua amizade) é que tanto numa como noutra a verdade não se sobrepõe à sinceridade: valem o mesmo, e são indissociáveis. Outros criadores ou interpretes são genuinamente sinceros no momento em que transmitem sentimentos  ou intenções, para depois os abandonarem; Fúria é verdadeiro, de uma forma absolutamente sincera.

 

Assim, rodeado de cúmplices de excelência que não por acaso se intitulam de Náufragos (na eterna espera, numa eterna deriva, numa angustiante liberdade), Manuel Fúria canta aquilo em que acredita,  lamenta o que se perdeu mas reclama a possibilidade da esperança. O que esta colecção de cantigas sugere é uma visão de um mundo límpido e espiritual, onde o essencial é possível, e que esse mundo poderia começar em Portugal. Infelizmente, e como chegou a dizer numa entrevista, « Portugal ainda não é».Esta ontologia de Portugal teria assim de partir de um reino de amor e de festa. Se existem tentações - a cidade como Babilónia é assumida logo em Estandarte e lembrou-me uma das minhas passagens bíblicas preferidas:"Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade nem vagueies por seus lugares solitários" (Sir, 9, 7)  - todas serão vencidas pelo Amor e pela Festa (Que Haja Festa Não Sei Onde). Desenganem-se no entanto aqueles que esperam um conjunto de homilias musicadas: este disco está infectado de pop por todos os tempos e todos os temas, que se ouvem, com sinais ostensivos de quem sabe como se faz uma canção e como usá-la.

 

Quem, como eu, assistiu aos rótulos fáceis e injuriosos colocados a um grupo de música moderna no principio dos anos 80  - sim, os Heróis do Mar e sim, uma das inspirações confessas de Fúria - sabe como poderia ser tentador arrumar esta arte numa gavetinha ideológica. Mas felizmente os tempos mudaram e maravilhosamente permitem que a obra de Fúria se revista de uma contemporaneidade (e a perenidade possível na pop) que não oferece dúvidas. Manuel Fúria é um incansável fazedor que embora descontente com o tempo a que pertence exige mostrá-lo com as armas que estes dias lhe dão. A prova - para além da sua música - está na editora Amor Fúria, que tal como a sua quase irmã Flor Caveira, sabem como dizer o que querem dizer. E que é muito e é preciso.

 

Antes de terminar, uma palavra para os músicos que participam no disco, quase todos eles ligados a outras bandas ou iniciativas em nome próprio. Este é um espírito de partilha recente na música moderna portuguesa, impensável no dealbar da década de 80, e que agora surge naturalmente graças a uma nova mentalidade. A saudável promiscuidade artística que pequenas editoras como a Amor Fúria ou a Flor Caveira apresentam são indícios de tempos novos, longe da ideia paroquial de «o meu talento é único e não o divido com ninguém».

Depois da caminhada que fez com Os Golpes, em que tantas vezes foi reduzido a um reflexo voluntário de algo que já foi feito, Manuel Fúria precisava de um disco assim. Onde a sua voz e a sua alma esteja solta como ele gosta: em partilha. Amanhã? Não sei. Como ele, contento-me com hoje e remeto-me à mesma fonte e origem de todos os desafios: «Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações»(Mt, 6, 34).

 

É urgente alistarmo-nos nesta Revolução da Esperança.

 

*texto escrito para acompanhar o lançamento do disco Manuel Fúria contempla os lírios do campo

publicado por Nuno Miguel Guedes às 10:02
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Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013

Autores do Condomínio

Está em cena até ao dia 10 de Fevereiro. Sou o autor do texto. Para a folha de sala escrevi sobre o processo de trabalho, comandado pelo João Mota (que foi quem teve a ideia), e como fui chegando a algumas soluções. Sem pormenores. Aproveito para aqui sublinhar as referências literárias que são citadas - e, na maior parte das vezes, confrontadas pelos personagens.

Além da "Bíblia", essa eterna referência, na peça são convocados os seguintes autores e livros:

Albert Cossery, “Mendigos e Altivos”.

António Bento e Elias Barreto, “Sem Amor Sem Abrigo”.

António Gancho, “O Ar da Manhã” e entrevistas dadas pelo autor, incluídas no livro “Os Maníacos de Qualidade”, de Joana Amaral Dias.

Bashô, “O Gosto Solitário do Orvalho”.

David Foster Wallace, “This is Water”.

Dalai Lama, “O Caminho da Serenidade”.

E.M. Cioran, “Do Inconveniente de Ter Nascido”.

Fiódor Dostoiévski, “Noites Brancas”.

Jack London, “O Vagabundo”.

L. Moulin, “L’Europa a Tavola” (citado no livro “A Caridade Dá que Fazer”, de Luciano Manicardi).

Manuel Beça Múrias, “O Salazar Nunca Mais Morre”.

Máximo Gorki, “O Vagabundo Filósofo” e “Albergue Nocturno”.

Paul Auster, “No País das Últimas Coisas”.

Salman Rushdie, “Fúria”.

Samuel Beckett, “Molloy” .

Tahar Ben Jelloun, “O Albergue dos Pobres”.

 

Lanço glosas breves sobre algumas escolhas  - para acender alguma luz sobre as sombras do espectáculo.

O livro de António Bento e Elias Barreto, psiquiatra e psicólogo, foi um ponto de partida importante na investigação. Fala em situações-tipo das pessoas que estão na rua (os clichés que não podemos recusar). Existem de facto muitos esquizofrénicos e alcoólicos na rua. Outro tópico importante incluído nesse livro é a conclusão de que os sem-abrigo não são amados nem conseguem amar, dada a desestruturação afectiva que os marca. Também aprendi que há muitos sem-abrigo ao lado de antigos locais de trabalho. E que muitos dos sem-abrigo da Estação do Oriente são oriundos do Norte do país e muitos dos que estão no Terreiro do Paço são do Sul. Mantêm um fio geográfico de ligação ao lugar de onde chegaram.

Albert Cossery foi um autor que muito li e me marca. É convocado aqui para levar pancada - como só se faz com aquilo de que se gosta muito. A ideia de uma mendicidade aristocrata, que ele conheceu nas ruas do Cairo, entra em confronto com um condomínio apodrecido, sem essa possibilidade de elevação. David Foster Wallace aparece em versão compassiva. A certa altura, a personagem que invade o espaço, vinda do planeta dos likes, cita uma passagem da conferência dos peixinhos de Wallace, em que o autor apela, sem entusiasmos místicos, ao interesse quotidiano e "pouco excitante" no outro, longe das proclamações abstractas que enchem as paredes da cidade e os murais do Facebook. Cioran é outro autor muito cá de casa e cumpre de passagem uma ideia que me ocorreu há uns tempos: e se tivesse o romeno como vizinho? Beckett é citado por uma personagem que diz que quando era pequeno se fartava de chupar pedras (como Molloy). Ao livro de Manuel Beça Múrias com as cartas para a mulher escritas em Angola, durante a guerra colonial, fui buscar uma história que o meu amigo Pedro, filho, me contou: a história da captura pelo exército português de um miúdo negro nas matas angolanas - miúdo esse que hoje é fotógrafo. As palavras escandalosamente purificadas e esperançosas de Dalai Lama surgem como uma espécie de água cristalina a atravessar aquele lodo existencial. Os outros autores e as suas frases surgem para falar da atracção literária e intelectual que existe pela liberdade da condição de sem-abrigo - e normalmente são decepadas pelo humor ácido e sem esperança de quem ali vive.

Deixo para o fim uma, central, que pode passar despercebida aos espectadores. É a espécie de homenagem (embora não goste da palavra) que é feita ao poeta António Gancho, que morreu na Casa de Saúde do Telhal (esteve lá internado durante 38 anos) e deixou pelo menos um livro maior: "O Ar da Manhã". A personagem interpretada por João Grosso (um esquizofrénico, tal como Gancho) foi das mais difíceis de construir. Tem várias fontes. Uma delas é o poeta. Parte de fichas clínicas para se transformar em discurso ficcionado. A dado passo desagua numa entrevista que Gancho deu, em que afirmou ser mil escritores, de Camões a Michaux, e disse que uma das suas maiores desilusões foi uma tia não lhe ter passado a chave da casa de família em Évora, onde nasceu e cresceu. A ideia de ser confrontado em entrevista com o poema "O Ano Mundial da Paz",  da sua autoria, é delírio ficcional. Pareceu-me que este poema de sentido ecuménico cabia bem na divisão sentida pela personagem entre as figuras de Cristo e Barrabás.

 

 

 

O resto é teatro e o teatro é aquilo que deve ser: a sabotagem de todas as investigações.

publicado por Nuno Costa Santos às 23:59
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Hipocondria dos afectos

Entre as brumas do presente, fico sempre satisfeito quando encontro leves vestígios do pouco  de bom que tem a raça humana. Não, não falo da solidariedade sazonal colada às circunstâncias, que apesar de saber que existe e deverá sempre existir, não me chega para acreditar em Rousseau. Nem sequer alinho  com as oposições fáceis homem vs.animal, em que a cadela Lilica se torna um modelo de comportamento. Não acho que a natureza humana seja flor que se cheire; mas pelo amor de Deus, não humanizem a bicharada. E parem de dizer que eles têm direitos. O que nos faz humanos é saber que nós é que temos deveres para com eles. Evidentemente, se alguém possuir um cágado que esteja indignado pela forma como os seus direitos são violados, que mo diga, que o meu argumento cai por terra e prometo penitência contínua. E quem diz um cágado, diz, pronto, qualquer ser vivo que mesmo sendo bípede (ou até um golfinho, esses Einsteins do reino animal) não consiga resolver a sua falta de aptidão social ou junte grupos para eliminar parasitas. (quem aí atrás acha que estou a falar do governo pode sair da sala. Obrigado).

 

Voltando a custo ao que aqui me trouxe: há esperança para nós. Vejo-o quando registo provas inegáveis de que, mais coisa menos coisa, o nosso sentir é igual. Reconhecemos sinais, memórias, gestos e jeitos que numa primeira fase julgamos só nosso privilégio e numa segunda - geralmente aquela em que estamos sóbrios ou tristes, que no es lo mismo pero es igual  - damo-nos ao trabalho de generalizar. Há quem tenha dado por isso e transformado a coisa em negócio: por exemplo, desde o inicio deste ano que tenho recebido num mail semi-desactivado missivas urgentes de médiuns do outro lado do Atlântico que me garantem - em separado - ser 2013 o tempo que guarda tudo aquilo que mereço. A única questão seria eu estar atento aos sinais, que são imperceptíveis e fáceis de ignorar. Mas felizmente Sara Freder e outra senhora cujo o nome me escapa perceberam nos astros a minha SCUT para a felicidade. A única coisa que tenho de fazer é pagar a portagem e decorar os números da sorte. Os mails são tão pungentes que apetece dizer «obrigado», mesmo admitindo a possibilidade de haver um desgraçado no Haiti que nasceu com o mesmo signo e ascendente mas que se preocupa mais neste preciso momento em arranjar um tecto para a familia. (Senta, Lilica. Não vale a pena)

 

Se trago a astrologia para a conversa, não é por acaso. No que respeita à ideia de ter planetas a regerem a minha vida, não contem comigo. É pouco. É fraquinho. Eu vi como Plutão acabou, sem estatuto nem poder, desacreditado por um concilio de cépticos que olimpicamente ignoraram a certeza milenar de que Plutão « representa o invisivel, o misterioso».Por mim, jJá tenho suficientes mistérios em que acredito e nenhum ligado a determinismos práticos ou passíveis de serem observados por sondas espaciais. Mas percebo como o conceito funciona: se juntarmos doze arquétipos (os signos) e a sua descrição de personalidade, o resultado é tão vago que é fácil acreditarmos que o sacana do Mercúrio nos lixou a vida e Vénus nos criou tão estetas e diplomatas. Reconhecemo-nos nas generalidades e esquecemo-nos facilmente que conhecemos um tipo porreiro, afável e criativo como os nativos de Gémeos de que o velho Hitler fazia parte.

 

Mas a verdade é que o esquema funciona. Eu não sei como será convosco, leitores (e agora é o momento em que finjo que me importo com isso) mas eu sou um hipocondríaco afectivo. Se falam de emoções, identifico-me logo como paciente. Reconheço sintomas por todo o lado, como aqueles desgraçados que percorrem a internet e deparam com doenças que estão convencidos de ter. Não dá para evitar. Um verso de Camões,«Busque amor novas artes, novo engenho» e zás!, sou eu. O Morrissey a cantar «And if you're so clever/ Then why you are you're own tonight» e pergunto de onde é que este gajo me conhece. Sinatra a oferecer-me o Glad To Be Unhappy e parem de falar de mim. Leio um texto, uma crónica, um ensaio e está lá tudo. E a lista continua, sem fim para quem vive de a saber. Cada um terá a sua.

De modo que aqui sim, estaciono a humanidade. A minha doença (e suspeito que a nossa) já foi identificada e transformada em algo que sentimos mas não conseguimos dizer. A arte não passa de um diagnóstico milenar das nossas maleitas.

E a minha tragédia pessoal é não conseguir ser médico de mim mesmo, de modo a transmitir em palavras aquilo que toda a gente já sabe: quem sente não tem cura.

publicado por Nuno Miguel Guedes às 04:31
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Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2013

A família ama Duvall

 

"Amamos Duvall" (FlorCaveira) é o disco que mais tem passado no leitor de CD's da carripana. Quando estou só ou com a família. Porque é uma jangada com animais sonoros para todas as idades, com melódicos - e ruidosos - rebuçados para as bocas de todas as gerações. Se calhar exagero um pouco - e é importante exagerar. Há cançonetas que se dão mais ao ouvido do adulto, como a inicial, "Atanásio contra o mundo", em que Tiago Cavaco repete versos que são o programa desta jornada: "Manda o teu Derrida para o inferno"ou "para quem se cansou de brincadeiras de miúdos/precisa de um sismo bem profundo/que realmente abale tudo". O resto é a comprovação prática desta tese corajosa (porque assumida), sem espaço para maiúfas de menino poseur e desconfiada das armadilhas do desconstrutivismo. Mesmo - e talvez sobretudo - na melancolia. "Na depressão nós amamos Duvall"  é o refrão do segundo tema, uma canção de auto-ajuda em modo dançante.

 

Outras preferências:  "Sirenata", música, essa sim, para miúdos e graúdos - o diálogo entre pai e filho em que se fala, entre outras coisas, de saliva, ouro, lata e António Variações; a irresistível e lenta "Rãs nos Aposentos de Reis", com uma letra que apetece cantar como quem entoa um novo hino à humildade; "Homens de Água", a faceta "canção pop perfeita" de Cavaco-Guillul, que faz exigir um concerto para breve onde possamos cantarolá-la em uníssono; "Casa com vista para da trincheiras", duros lembretes para os dias de apocalipse. 

 

(Nota de intervalo: aqui chegado começo a pensar que as minhas canções preferidas são quase todas as do disco. Bicho que é bicho faz escolhas. Vai ter de ser).

 

"Contigo sou sempre agradecido", com Samuel Úria, é a que levo para a ilha. Das melhores canções da temporada. Com uma samplada de Ratos do Porão, funcionando perfeitissimamente quando cruzada com os doces versos de gratidão ditos pelo cantor de serviço, é a música que todo o bom namorado deve enviar em mp3 (agora que já não há cassetes de amor) à sua amada, do dia ou de uma vida; "Estás casado com o Estado", asfixiante tema que, misteriosamente, dei por mim a cantar hoje de manhã ao pequeno-almoço; "Xungaria no Céu", o regresso aos temas que a família toda aprecia, não fosse ela  atravessada por um sample infantil (parecendo falar em "Pudim"); O rap "Alguém Perdeu o Ferrão" que é como quem diz o "refrão".

 

Mais setinhas em direcção ao céu: para os samples cinéfilos, tugas e americanos, bem semeados, para um difuso e importante sentimento de gratidão para com uns rapazes, também eles generosos, chamados Beastie Boys e ainda para a produção do disco, muitíssimo apurada, feita em parceria com João Eleutério. Parabéns, Cavaco!

publicado por Nuno Costa Santos às 15:14
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